Diante da recente decisão dos Estados Unidos de revisar e impor novas tarifas a produtos de diversos países, incluindo o Brasil, é natural que surjam reações, algumas indignadas, outras alarmistas. Mas talvez este não seja o momento de nos entregarmos ao embate retórico ou à polarização de sempre. Talvez este seja, sobretudo, o momento de buscarmos a única saída verdadeiramente produtiva: a união nacional.
O chamado “tarifaço” pode ser lido por muitos como uma afronta, mas também pode ser interpretado como uma oportunidade. O Brasil, país de vocação diplomática, de tradição no multilateralismo, no respeito ao direito internacional e na promoção do livre comércio, tem agora uma chance única de reafirmar seu compromisso com esses princípios, não apenas na arena externa, mas principalmente dentro de casa.
É hora de agir com inteligência, não com raiva. O governo brasileiro, por meio de seus canais oficiais e instituições competentes, certamente já está (e deve continuar) tratando do tema com a seriedade e responsabilidade que a situação exige. O diálogo com os agentes norte-americanos precisa ser contínuo, técnico, estratégico. É preciso separar o ruído das redes sociais da ação concreta dos negociadores que conhecem a engrenagem da diplomacia econômica.
Mas não basta apenas ação institucional. Este é um momento que exige o engajamento da sociedade civil, das federações empresariais, das confederações da indústria e do comércio, dos pequenos e médios empreendedores, dos produtores rurais, dos inovadores em tecnologia — em suma, de todos os brasileiros que acreditam no futuro do país.
A imprensa brasileira também tem um papel decisivo a cumprir. Em vez de reforçar narrativas ruidosas ou sensacionalistas, cabe aos meios de comunicação contribuir com responsabilidade, oferecendo informação clara, contextualizada e propositiva. É hora de tratar este tema como o que ele é: um tema de Estado. É difícil pedir uma trégua à lógica do conflito e da manchete fácil. Mas é necessário. A imprensa pode (e deve) ser parte da solução, ajudando a construir uma compreensão mais madura e estratégica da realidade que enfrentamos.
Devemos transformar esse desafio em estímulo à reorganização produtiva: incentivar cadeias nacionais e regionais, buscar diversificação de mercados, investir em inovação e valor agregado, ampliar parcerias com outros blocos econômicos e, acima de tudo, fortalecer a confiança em nossa própria capacidade de adaptação.
O mundo passa por uma transformação. Os Estados Unidos decidiram rever suas políticas tarifárias com base em sua leitura estratégica, interna e soberana. Devemos respeitar. O Brasil também é soberano, e pode, com equilíbrio e sem alarmismo, decidir o rumo de sua própria reorganização produtiva. Não como reação impensada, mas como ação coordenada.
A resposta mais madura a qualquer movimento protecionista é o fortalecimento interno. E esse fortalecimento começa com o entendimento de que somos uma nação democrática, com instituições sólidas, uma economia diversificada, talentos abundantes e um papel a cumprir no cenário internacional.
A história já mostrou que os países que prosperam diante de adversidades são aqueles que as enfrentam com coesão, visão e resiliência. Que este “tarifaço” sirva, portanto, como um alerta, não para o conflito, mas para a construção. Não para a divisão, mas para o reencontro. Não para o medo, mas para o protagonismo.
Confio plenamente que nossas instituições políticas, econômicas e empresariais estarão à altura deste momento. Assim como os demais países do mundo estão revendo suas posições diante de tantas transformações (tecnológicas, ambientais e geopolíticas), o Brasil também encontrará seu caminho. Mas que seja um caminho trilhado com dignidade, com respeito mútuo e sem bravatas. Ao contrário: que mostremos ao mundo que é possível, sim, pela via da negociação, do diálogo e do entendimento, construir soluções justas, duradouras e boas para todos os lados.
*Agostinho Turbian é empresário e sócio do BRAZIL ECONOMY