Se o ritmo de crescimento foi entre 50% e 100% nos últimos dois anos, a Daki pretende entrar em um modo ainda mais agressivo de expansão e garantir o dobro de faturamento ano contra ano. Após completar quatro anos em janeiro, o mercado online de entregas ultrarrápidas inicia sua segunda grande fase, de acordo com o cofundador e CEO, Rafael Vasto. “Vamos acelerar ainda mais para crescer 100% ano contra ano. Pezinho no acelerador”, disse o executivo ao BRAZIL ECONOMY.
O app está perto de alcançar 10 milhões de downloads e visa chegar a 11 milhões até o final do ano. A proposta é entregar produtos de mercado — são 5.000 itens de mercearia, hortifrúti fresco, carnes e congelados, padaria, bebidas, casa e limpeza, cuidado pessoal, itens para bebês e até produtos para pets — em 15 minutos (mais de 90% das entregas estão dentro dessa meta), com atendimento em São Paulo, Santos, ABC Paulista, Osasco, Guarulhos e Belo Horizonte.
Na estrutura, são cerca de 50 dark stores próximas aos clientes, dois grandes centros de distribuição (um em São Paulo e outro em Minas Gerais) e 1.000 colaboradores, sendo 300 em setores administrativos e 700 na operação.
Quando Vasto fala em crescimento, não se refere necessariamente à expansão geográfica — pelo menos não no curto prazo. O avanço pretendido é dentro dos locais onde a Daki já atua. A ideia é fazer melhor o que já faz: melhorar a navegação do usuário no app, aumentar a eficiência nos pagamentos e acelerar a jornada da compra até a entrega.
“Toda essa jornada é a essência do nosso negócio”, disse o CEO da companhia, que tem transformado o segmento.
As entregas de produtos de mercado ganharam relevância na pandemia de Covid-19, que começou em março de 2020. Porém, muitas operações do setor eram marcadas por problemas: atrasos, falta de produtos, itens trocados ou errados e outras frustrações para os consumidores.
Nesse cenário, a Daki começou a jogar um outro jogo. Enquanto grandes players do varejo optaram por terceirizar processos ou não deram tanta atenção ao delivery, a startup apostou tudo na experiência de compra e entrega bem-sucedida.
“Na prática, somos um varejista que se relaciona com produtores e a indústria. E, na outra ponta, com o cliente. Fazemos essa conexão sem intermediários — que, até então, era a regra do jogo”, explicou Vasto.
Em uma cadeia com intermediários no site, na escolha de produtos, na separação da compra e na entrega, não há controle sobre a experiência do cliente — e tampouco sobra margem para gerar resultados. Esse foi o gargalo identificado pela Daki e que ela se propôs a resolver.
Essa foi a primeira fase da empresa. A segunda fase envolve uma visão mais personalizada para cada cliente — reforçando a ideia de fazer melhor o que já faz.
“A filosofia é de que toda pessoa que abre o aplicativo deve ver algo diferente. Se você abre o app na segunda-feira de manhã, ele tem que ser diferente do meu, abrindo na sexta à tarde”, exemplificou o executivo.
“E mais: se você abre o Daki no sábado à noite, ele deve ser diferente do domingo na hora do almoço. Pois são momentos distintos da sua vida — e da sua navegação.”
Ao mesmo tempo, a empresa amplia seu portfólio de produtos. “Um sortimento mais adequado a cada região, a cada momento, a cada cliente”, salientou o executivo. Obviamente, sem sair do core, que é o mercado. Entrar em setores como eletrônicos, por exemplo, está fora de cogitação.
Tudo isso é avaliado pela plataforma com base na análise de dados, comportamento de navegação e histórico de compras.
“Isso enriquece muito nossa operação e a avaliação do consumidor. Passamos a ser o mais relevante, personalizado e intencional possível na sua navegação”, afirmou.
Se a Daki entende melhor o que o cliente quer comprar e quando, ela também aproveita para abrir o app à retail media.
“Porque enxergamos muito bem essa ponte entre a indústria e o consumidor”, explicou Vasto. “Pensamos na melhor solução possível para a indústria atingir os clientes que são relevantes para ela — e o que é relevante para esses clientes.”
Essas são as iniciativas da Daki para tornar o negócio maior e mais relevante. “A gente está muito longe do real potencial desse mercado e da grande transformação que miramos”, concluiu o CEO.
Pesquisas
Alguns dados ajudam a explicar o otimismo de Rafael Vasto. Segundo levantamento da Neogrid, em parceria com o Opinion Box, intitulado “Dados sobre Consumo e Fidelização no Brasil”, divulgado em junho, 70% dos entrevistados fazem compras de supermercado online.
Entre eles, 35% utilizam aplicativos e sites de terceiros de forma ocasional, enquanto 27% fazem isso semanalmente e 8% todos os dias. Em contrapartida, 9% nunca usaram um canal digital para essa finalidade.
Entre os principais atrativos da compra online, a entrega rápida foi apontada por 65% dos respondentes — justamente uma das propostas centrais da Daki.
No cenário global, pesquisa do The Feedback Group confirma que as compras de supermercado online estão “firmemente enraizadas” no comportamento do consumidor — e apontam tendências.
Segundo o estudo, 79% dos consumidores planejam manter ou aumentar suas compras online no próximo ano. Os métodos de pedido também vêm mudando: as entregas (52%) já superam as retiradas na loja (48%).
“Os supermercados continuam liderando em satisfação com compras online, demonstrando forte execução em conveniência, atendimento e serviço”, disse Brian Numainville, diretor do The Feedback Group.
“Como canal, os investimentos dos supermercados em capacidades de e-commerce claramente deram resultados”, apontou, ao ponderar: “Ainda há espaço para melhorias”.
A mesma visão compartilhada por Rafael Vasto, da Daki.