Guilherme Leal, cofundador da Natura, e Estevan Sartoreli, empreendedor e engenheiro de produção com passagens por empresas como Faber-Castell, Siemens e a própria Natura, defendem a tese de que o mundo não precisa de mais marcas, mas sim de marcas de impacto. Foi assim que resolveram fundar a Dengo Chocolates, em 2017. O impacto estava na geração de influência socioambiental positiva e na valorização dos produtores de cacau. Oito anos depois, a empresa entrega propósito e produto de excelência, que vem agradando ao paladar do brasileiro.
Hoje são 52 lojas no Brasil, espalhadas por sete estados, duas unidades em Paris (FRA) e uma fábrica em Santo Amaro, bairro da capital paulista. Agora, a companhia vai mudar de patamar, com uma nova planta sendo construída em Itapecerica da Serra, cidade da Grande São Paulo, com investimento de R$ 100 milhões. A operação deve ser iniciada em meados do ano que vem. Com ela, a atual capacidade de produção de 500 toneladas será multiplicada, o que garantirá o abastecimento das futuras lojas. O plano é chegar a 250 unidades até 2030 — uma média de 40 por ano nos próximos cinco anos e um crescimento de 360% em relação ao atual tamanho da operação.
Quem vai liderar essa expansão é Cíntia Moreira, anunciada CEO da Dengo Chocolates no fim de junho. “Meu principal papel à frente da Dengo será garantir que a expansão da marca siga fiel ao nosso propósito: gerar impacto socioambiental positivo, promover renda digna para os produtores e entregar ao consumidor um chocolate de excelência”, disse a executiva ao BRAZIL ECONOMY.
“Temos a meta de alcançar 250 lojas até 2030. Mais do que números, essa expansão representa a oportunidade de levar a nossa mensagem e o nosso modelo de negócio — que une performance com propósito — para cada vez mais pessoas, em diferentes regiões do Brasil”, afirmou.
Cíntia assume o comando da companhia pouco depois de ingressar como diretora comercial. Com mais de 25 anos de carreira no setor de bens de consumo, passou por multinacionais como The Estée Lauder Companies Brasil, Loungerie Intimates e Lacoste.
Com a saída de Túlio Landin do cargo de CEO da Dengo, em maio, para assumir a diretoria de marketplace do Mercado Livre, a marca de chocolates nomeou um comitê de transição formado por Cíntia, a diretora de marketing Renata Lamarco e a chocolatière e diretora de inovação Luciana Lobo.

Formada em Direito, com pós-graduação em Gestão de Varejo pela FIA e em Alta Gestão pelo Insper, Cíntia está há menos de duas semanas à frente da empresa, que tem crescido acima dos 25% ao ano — o faturamento não é divulgado.
Surgimento
A idealização da companhia surgiu depois que Guilherme Leal viu a produção de cacau no Sul da Bahia ser afetada pela doença vassoura-de-bruxa, um fungo que ataca os tecidos jovens do cacaueiro e causa deformações e morte dos ramos, frutos e flores — o que gera a aparência de “vassouras”. Com o episódio, nos anos 2000, os produtores locais passaram por muitas dificuldades.
Com casa de veraneio no estado para tirar férias e descansar com a família, Leal, que já era engajado em outras causas sociais, resolveu, primeiramente, criar em 2008 o Instituto Arapyaú, instituição sem fins lucrativos que trabalha com clima e desenvolvimento na Bahia e na Amazônia.
A partir dele, mais tarde, inaugurou o CIC (Centro de Inovação do Cacau), responsável por pesquisar processos de produção e qualidade do fruto.
Faltava lançar um produto para o público final. Junto com Estevan Sartoreli, na segunda metade dos anos 2010, montou a Dengo, cujo nome vem da expressão “dengando”, usada pelos produtores ao se referirem ao processo de “curtição” do cacau para deixá-lo mais saboroso.
Produtores
Junto com o cacau de qualidade, um chocolate diferenciado. Entre os principais ingredientes, além do fruto, está o propósito da marca. São 207 famílias produtoras que fornecem para a Dengo, com plantações nos estados da Bahia, Espírito Santo e Pará, na região amazônica. Em 15% das operações, há liderança feminina, e 75% dos fornecedores são pequenos e médios produtores.
A companhia oferece treinamento e acompanha a produção para obter um cacau de melhor qualidade, o que demanda mais tempo de manuseio e maturação do fruto. E a Dengo paga por isso. “Em 2023, pagamos 120% a mais sobre o valor da commodity do cacau aos nossos produtores”, disse Renata Lamarco, diretora de marketing. “Temos transformado vidas.”

Muitas das plantações possuem bananeiras, cajuzeiros e coqueiros. São dessas árvores que saem os complementos e sabores dos chocolates da Dengo. “Isso incrementa ainda mais a renda das famílias”, afirmou Renata. “Misturamos qualidade, sabor e também a vontade de mostrar o que o Brasil tem de melhor.”
Evolução
A primeira loja foi aberta em 2017 no Shopping Morumbi. Majoritariamente, as unidades são instaladas em centros de compras. Das atuais 52 lojas no Brasil, 11 são franquias — modelo implantado em abril de 2024 e que vem sendo a principal via de expansão atual. Mais três devem ser inauguradas até o final deste ano.
As duas lojas em Paris ficam no epicentro da gastronomia, da moda e da cultura europeia. A cidade possui um mercado interessante de chocolates por estar próxima de países com larga tradição no segmento, como Suíça e Bélgica.
“Nossa tese é de que, se a gente conseguir provar que o cacau e o chocolate brasileiros são equivalentes aos desses países, a gente pode expandir para a Europa inteira, garantindo entrega de sabor e propósito”, disse Renata.
A tese vem se comprovando na prática. E, na futura expansão, além da Europa, está na mira também o Oriente Médio.
Portfólio
Um desenvolvimento que será proporcionado pela nova fábrica, que também impulsionará a criação de novos produtos — hoje os quebra-quebras e bombons são os carros-chefes da Dengo. “Vai ser um marco. Vamos mudar de patamar com a fábrica”, frisou a diretora de marketing.
Hoje, são 75 SKUs em chocolates e outros 10 produtos entre café, mel de cacau, licor e gin. Em datas comemorativas, como Páscoa e Natal, são lançados itens sazonais. “São pelo menos 30 produtos para cada campanha”, destacou Renata, ao ressaltar que, nesta época de Festa Junina, foram lançados quebra-quebras de paçoca e pipoca. “Temos trazido versões da Dengo sobre datas brasileiras relevantes para a cultura nacional.”
Um dos produtos lançados na Páscoa foi o Dengo de Corte de Banana com Canela — uma “sobremesa de vó para abrir e servir”, de 450 gramas, com chocolate intenso com camadas de caramelo de banana com flor de sal, chocolate ao leite com canela e gianduia de castanha. “Em três dias, acabou nosso estoque”, afirmou Renata. Com o sucesso, o item continua disponível nas lojas.
O produto ajudou no desempenho das vendas totais da Dengo na Páscoa deste ano, em que cresceu 33% em relação à data do ano passado. “Com as vendas online, enviamos os produtos para 404 cidades brasileiras.”
Por isso, a expansão geográfica é importante para a marca, que atualmente está nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Ceará, Bahia, Paraná e Distrito Federal.
A curto prazo, o olhar está voltado para o Sul, além de fortalecer os territórios onde já atua. “Temos muito espaço para crescer, muitas oportunidades”, disse a executiva.
Na base de clientes ativos, são 1 milhão cadastrados para receber novidades. A evolução é entre 5% e 8% mensalmente. Todos interessados no cacau de qualidade, no chocolate premium e no propósito da marca que gera impacto socioambiental, como vislubram desde o início seus fundadores.