Como a IA está moldando novas dinâmicas no emprego e cibersegurança no Brasil

A automação impulsionada pela inteligência artificial (IA) está provocando mudanças estruturais no mercado de trabalho ao assumir tarefas operacionais, repetitivas e burocráticas que antes dependiam da intervenção humana

Cláudio Neiva*
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Imagens: Divulgação

"A confiabilidade da IA ainda é uma preocupação e a possibilidade de vieses nos algoritmos pode levar a falsos positivos"

"A confiabilidade da IA ainda é uma preocupação e a possibilidade de vieses nos algoritmos pode levar a falsos positivos"

A inteligência artificial (IA) tem se consolidado como uma das tecnologias mais disruptivas neste último ano, com promessas de remodelar indústrias e, consequentemente, o panorama do mercado de trabalho global. Se por um lado a IA promete eficiência e inovação, por outro, ela tem gerado uma onda significativa de demissões e levantando sérias questões sobre o futuro do trabalho, especialmente na área de tecnologia da informação. Por isso, vamos aprofundar aqui o papel atual da IA não apenas como potencial substituta ao trabalho humano, mas também como forte aliada, além das promessas e  a realidade de sua aplicação em cibersegurança.

A automação impulsionada pela inteligência artificial (IA) está provocando mudanças estruturais no mercado de trabalho ao assumir tarefas operacionais, repetitivas e burocráticas que antes dependiam da intervenção humana. Esse avanço permite que empresas redirecionem seus recursos humanos para áreas mais estratégicas, como inovação, relacionamento e tomada de decisão. No entanto, essa transformação também impõe desafios significativos: para acompanhar esse novo cenário, muitos profissionais precisarão investir em capacitação contínua e, em alguns casos, repensar sua trajetória em setores diferentes dos quais atuam atualmente.

Essas mudanças já se refletem em dados concretos. Apenas em 2024, mais de 150 mil trabalhadores da indústria de tecnologia foram desligados, número que já ultrapassa 50 mil em 2025. Em diversos setores, como o financeiro e o de tecnologia, empresas têm reestruturado suas equipes em razão da automatização de atividades como programação, análise de dados, rotinas de recursos humanos e etiquetagem de informações para treinamento de modelos de IA. A Meta, por exemplo, anunciou cortes de pessoal alinhados à adoção crescente dessas soluções. Embora representem ganhos de eficiência, essas transformações exigem uma reorganização das funções humanas e maior foco em qualificação profissional.

Diante dessa realidade, cresce a discussão sobre políticas públicas e regulação. A cidade de Nova York, por exemplo, adotou legislação que exige a comunicação de demissões relacionadas ao uso de IA. Relatórios como o do Goldman Sachs estimam que a IA pode impactar até 300 milhões de empregos em tempo integral no mundo, mas também apontam seu potencial de gerar novas oportunidades e aumentar a produtividade. No Brasil, apesar do potencial de requalificação, ainda não há iniciativas estruturadas que ofereçam currículos específicos para apoiar profissionais que precisarão se reinventar. Essa lacuna compromete a preparação do país para a nova dinâmica do trabalho.

Ainda assim, o Brasil tem buscado alinhar sua agenda de desenvolvimento tecnológico a princípios de direitos humanos, inclusão e diversidade, em consonância com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. O debate regulatório avança com base em consultas públicas, estudos técnicos e discussões intersetoriais, sinalizando um compromisso com o uso ético e responsável da IA. O desafio, no entanto, está em acompanhar o ritmo acelerado da evolução tecnológica, que já molda indústrias e altera profundamente o perfil das ocupações, mesmo antes de a legislação estar plenamente consolidada.

Além das transformações no emprego, a discussão ética em torno da inteligência artificial também ganha destaque. Questões como a discriminação algorítmica e o uso indevido de dados pessoais reforçam a necessidade de regulamentações claras e atualizadas — como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) no Brasil — para garantir o uso responsável dessas tecnologias. O equilíbrio entre inovação e proteção social será fundamental para que a IA gere benefícios amplos e sustentáveis. Esse mesmo princípio se aplica a áreas críticas como a cibersegurança, onde a IA vem sendo utilizada não apenas para otimizar processos, mas também para enfrentar ameaças cada vez mais sofisticadas e dinâmicas.

Promessas e realidade da IA na Segurança da Informação

A área de segurança da informação é uma das que mais despertam interesse em relação ao potencial da inteligência artificial, tanto pelas promessas de inovação quanto pelos desafios que exigem cautela. A IA é vista como uma ferramenta promissora, com potencial para ampliar significativamente a eficiência na detecção e resposta a ameaças cibernéticas. Ao automatizar a análise de grandes volumes de dados, a tecnologia promete identificar padrões suspeitos com mais rapidez, antecipar riscos e fortalecer defesas com maior agilidade e precisão, superando, em teoria, a capacidade humana em termos de velocidade e escala.

No entanto, a realidade do uso da IA em segurança da informação apresenta desafios significativos. A confiabilidade dos sistemas de IA ainda é uma preocupação e a possibilidade de vieses nos algoritmos pode levar a falsos positivos, ou pior, a falhas na detecção de ameaças legítimas, resultando em discriminação ou exclusão. Além disso, a eficácia da IA depende diretamente da qualidade de seu treinamento, o que evidencia uma lacuna na definição de métodos que assegurem proteção, permitam a responsabilização e garantam conformidade com regulamentações internacionais e locais. A grande pergunta é: se a IA falhar na proteção ou causar danos a terceiros, de quem é a responsabilidade? Além disso, a dependência excessiva da IA pode gerar novos riscos: ataques cibernéticos sofisticados baseados em inteligência artificial  podem ser desenvolvidos por adversários e a manipulação de dados por meio da IA pode comprometer a integridade das informações.

Portanto, a área de segurança da informação deve equilibrar o uso da IA para aumentar a proteção com a garantia dos direitos dos trabalhadores e a mitigação dos riscos associados à automação e à análise de dados pessoais. A supervisão humana continua sendo um componente vital para evitar erros e vieses, e para garantir que a IA seja uma ferramenta de apoio, e não um substituto completo para o julgamento humano. Lembrando, a capacidade de lidar com a ambiguidade é uma capacidade humana, a qual a IA não possui até o momento

A colaboração entre IA e profissionais de segurança da informação, combinando a capacidade de processamento de dados da máquina com a experiência e a intuição humana, é o caminho mais promissor para um futuro seguro e eficiente. O futuro do trabalho com IA pode ser tanto um desafio quanto uma oportunidade, dependendo da regulamentação eficaz, da requalificação dos trabalhadores e de um equilíbrio cuidadoso entre automação e supervisão humana.

*Cláudio Neiva é CTO da CyberArk para a América Latina

 

 

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