Na jornada da VR para deixar de ser conhecida apenas pelo vale-refeição e se tornar uma companhia de soluções e serviços completos para o trabalhador, a empresa tem buscado retornar às suas raízes. Foi em 1996 que a VR – então VR Benefícios – lançou o CDVR (Crédito Direto VR). Em outras palavras, oferecia empréstimos consignados aos trabalhadores de suas empresas-clientes, com desconto em folha de pagamento. O produto foi considerado inovador, pois eliminava a prática da antecipação salarial, popularmente conhecida como “vale”. Anos mais tarde, a carteira foi vendida ao Unibanco.
Agora, a VR retoma o consignado privado como protagonista entre seus serviços, impulsionada pela evolução do sistema financeiro brasileiro e pelo lançamento do Crédito do Trabalhador, anunciado pelo governo em março.
Em seu primeiro mês de operação, em maio, o novo consignado da VR superou o volume acumulado de crédito direto concedido em 2023 e 2024 no antigo formato, que dependia da contratação de convênios pelo setor de Recursos Humanos das empresas.
A expectativa é de crescimento ainda maior com as novas regras que ampliam o acesso ao programa, formalizadas recentemente pelo governo. Entre as mudanças está a retirada de restrições para quem já possuía empréstimos registrados anteriormente. Até o momento, o Crédito do Trabalhador já emprestou R$ 21 bilhões a mais de 3 milhões de trabalhadores.
Com dezenas de bancos e instituições financeiras oferecendo o consignado privado, a VR aposta em sua base de 110 mil empresas e 4 milhões de trabalhadores conectados ao SuperApp VR para se diferenciar. Esse ecossistema movimenta R$ 15 bilhões por ano em benefícios. Considerando também a gestão de salários, o montante chega a R$ 100 bilhões anuais que passam pelas soluções da VR. Esse é o mercado potencial que a empresa enxerga com o consignado.
E mais: para se ter uma ideia da escala de uso do aplicativo, são 60 milhões de marcações de ponto por mês, com pico de 1.500 por segundo. A plataforma da VR também é usada para gestão de capital humano, como escalas de plantão e férias, holerite, admissão e outras ferramentas.
“Está muito penetrado na base. Tem colaborador de nossos clientes que acessa quatro vezes ao dia”, afirmou Cássio Carvalho, diretor-executivo de Negócios Pessoa Física da VR, em entrevista ao BRAZIL ECONOMY.
“Devolvemos produtos e usamos toda nossa inteligência para gerar benefícios para o trabalhador na ponta. O crédito é um viabilizador de melhorias na vida do trabalhador e também parte da ampliação do nosso ecossistema”, complementou.
Na VR desde 2017, Carvalho atuou nas áreas de planejamento comercial, estruturação de canais de vendas, retenção e fidelização de clientes. Segundo ele, o contato direto com milhares de empresas permite uma oferta mais personalizada aos trabalhadores.
O consignado privado da VR já está disponível para as grandes companhias parceiras e agora começa a ser implementado entre as PMEs (Pequenas e Médias Empresas), que representam a maior parte da base. “Com essa base e o histórico de dados gerados, temos uma capacidade de conceder crédito personalizado que, provavelmente, outras instituições financeiras não possuem”, afirmou o executivo. “E de uma forma mais fluida, 100% digital.”
Tudo transacionado com apoio do Banco VR, considerado trunfo importante nessa disputa com players financeiros. A instituição vem sendo utilizada para repasses aos estabelecimentos comerciais, antecipação de recebíveis e outras linhas de crédito.
“Ter uma solução de banco dentro de casa agiliza muito a motorização de crédito e a construção de toda a jornada digital dentro do aplicativo, pois não precisamos mandar nada para nenhum ambiente externo”, frisou o executivo da VR.
O consignado privado é uma extensão de outros serviços financeiros oferecidos pela VR aos parceiros. A antecipação do saque-aniversário do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) é outro produto da companhia. Esse segmento cresceu sete vezes em volume de concessões em 2024 em relação a 2023, e a projeção é fechar 2025 com 2,5 vezes mais contratos em comparação com o ano passado.
A característica de uso do saque-aniversário foi um dos fatores que levaram a VR a avançar rapidamente no consignado privado. “Esse modelo, hoje, tem aproximadamente 70% de recompra. Ou seja, está sendo usado pela necessidade do trabalhador de complementar sua renda mensal. A antecipação do saque-aniversário vira uma renda adicional”, explicou Carvalho.
O consignado vai substituir o saque-aniversário? Para o diretor da VR, a resposta é não. Ele acredita que a migração ocorrerá a partir de outras modalidades nas quais a companhia não atua, como cheque especial e crédito pessoal comum.
Outros negócios
Além da linha financeira voltada à pessoa física, a VR também atua na área de varejo. Um dos serviços é o cashback. Em parceria com grandes marcas, como a Danone, a companhia oferece benefícios aos trabalhadores. “Pode comprar qualquer produto em padaria, mercadinho ou supermercado, cadastrar a nota fiscal no app, que identifica o item e gera cashback de iogurte, por exemplo”, comentou Carvalho. “Com isso, fazemos o benefício do vale-refeição render mais.”
Também há comercialização de produtos dentro do SuperApp VR, como um marketplace. Mais recentemente, a empresa lançou o VR Ads, em parceria com a VTEX Ads, com descontos, cashback e premiações.
Mais de R$ 1 milhão em benefícios já foram distribuídos. Entre as marcas parceiras estão PepsiCo, Natura, Eudora, Avon, Ajinomoto, C&A, Cobasi, Burger King, entre outras.
Com a abertura do retail media na plataforma – em que empresas podem anunciar diretamente para seu público-alvo –, a VR pretende ampliar o relacionamento com as marcas e incrementar sua receita.