Brasil pronto para a virada: oportunidade histórica no mercado de vinhos

Com guerra, tarifas, colapso do consumo global e crise logística, Europa mira o Brasil como salvação — e pressiona pela ratificação urgente do acordo UE–Mercosul

Marcelo Copello
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Imagens: StockPhotos

O consumo global de vinho em 2024 caiu para 214,2 milhões de hectolitros, o menor volume registrado desde 1961

O consumo global de vinho em 2024 caiu para 214,2 milhões de hectolitros, o menor volume registrado desde 1961

No dia 25 de junho, o portal The Drinks Business noticiou que o Comité Européen des Entreprises Vins (CEEV) — principal órgão do setor vinícola europeu — pressionou oficialmente a Comissão Europeia pela ratificação imediata do acordo comercial com o Mercosul. Em tom de urgência, a presidente da entidade, Marzia Varvaglione, declarou que o tratado é “essencial” em meio ao declínio do consumo global de vinho e à crescente instabilidade geopolítica.

O apelo reflete uma rara convergência de fatores econômicos e políticos internacionais que, de forma surpreendente, colocam o Brasil no centro da estratégia de sobrevivência do vinho europeu. A seguir, os motivos que explicam essa virada — e como o mercado brasileiro pode (e deve) se preparar.

O consumo global despenca: menor volume desde 1961

De acordo com a OIV, o consumo global de vinho em 2024 caiu para 214,2 milhões de hectolitros — o menor volume registrado desde 1961. França, Alemanha e Itália acumulam perdas históricas. E não há sinais de recuperação no curto prazo.

No Brasil, o consumo segue trajetória oposta: crescimento de mais de 30% na última década, aumento do tíquete médio e público mais sofisticado. Ainda que o consumo per capita seja baixo (2,2 litros/ano), o movimento é ascendente — e estrutural.

EUA impõem tarifas — e ameaçam mais

Desde 2019, os vinhos da França, Espanha e Alemanha enfrentam uma tarifa de 25% para entrar nos Estados Unidos, imposta por Donald Trump durante seu primeiro mandato, no contexto da disputa Boeing-Airbus. A tarifa afetou diretamente a competitividade europeia no maior mercado consumidor do mundo.

Mas o risco não parou por aí: em 2025, Trump ameaçou elevar as tarifas para até 200% sobre vinhos, champanhes e destilados europeus, caso volte ao poder ou reforce medidas retaliatórias. Um pacote de tarifas entre 10% e 50% chegou a ser anunciado em abril, mas foi temporariamente suspenso por decisão judicial em maio.

A ameaça permanece real e viva — e leva o setor europeu a buscar rotas comerciais alternativas fora dos EUA.

A guerra desorganiza o mercado europeu

A invasão da Ucrânia e os conflitos no Oriente Médio elevaram os custos de produção, interromperam cadeias logísticas e fecharam mercados tradicionais do Leste Europeu. Em paralelo, o custo de energia, transporte, insumos e mão de obra aumentou de forma inédita.

A Europa precisa, com urgência, de mercados previsíveis, em crescimento e com acesso viável. O Brasil preenche essas três condições.

O Brasil vira peça-chave — inclusive para os vinhos nacionais

O Brasil importa mais de 130 milhões de litros de vinho ao ano, com destaque para rótulos da Argentina e do Chile. Mas, com o acordo UE–Mercosul, os vinhos europeus devem ganhar espaço ao eliminar a atual tarifa de 27%.

Além disso, o tratado abre caminho para os vinhos brasileiros entrarem na Europa com mais facilidade. Em especial, os espumantes brasileiros de baixo custo e boa qualidade, que já são reconhecidos em concursos internacionais, têm tudo para conquistar nichos de mercado na Europa, onde os custos locais estão em alta. Em entrevista que fiz com Rodrigo Arpini Valério, diretor de Marketing, ele me disse: “Se o acordo UE–Mercosul sair, nós vamos inundar a Europa de espumante brasileiro”.

O que o acordo UE–Mercosul entrega

Eliminação progressiva da tarifa de 27% sobre vinhos da UE; reconhecimento legal de mais de 350 Indicações Geográficas europeias; redução de burocracia e custos alfandegários; facilidade para exportações brasileiras; e estabilidade contratual em tempos de risco e retaliações.

Enquanto o mundo fecha portas para o vinho, o Brasil pode abri-las. Com os EUA instáveis, a Europa desorganizada e o consumo global em queda, o nosso mercado emerge como solução estratégica para o vinho europeu — e também como plataforma de expansão para o vinho brasileiro.

O tratado UE–Mercosul é a chave de uma nova fase. E quem estiver preparado vai brindar à frente.

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