A menos de cinco meses da realização da 30ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que acontecerá em Belém (PA), o evento ainda desperta pouco interesse da sociedade brasileira e das marcas no ambiente digital. Essa é a principal conclusão do estudo “Termômetro das Redes: COP30 Amazônia”, realizado pela agência AND,ALL em parceria com a Polis Consulting e a P&R Comunicação Estratégica.
A pesquisa analisou 376 mil menções espontâneas ao termo “COP30” e palavras correlatas entre janeiro de 2024 e março de 2025, a partir de dados coletados em redes sociais, portais de notícias e fóruns, com apoio da plataforma Brandwatch. Os resultados revelam que, apesar de algum volume de conversas, o engajamento segue limitado e concentrado em públicos específicos.
Segundo o levantamento, 61% das menções ocorreram na rede X (antigo Twitter), sendo que 27% delas têm teor negativo. Além disso, 65% dos perfis que abordam o tema são de homens, o que indica uma predominância masculina nas discussões online.
Outro dado relevante diz respeito ao foco das conversas: a maioria está ancorada em aspectos institucionais e geopolíticos. Termos como “Estados Unidos”, “governo federal”, “presidente Lula”, “Acordo de Paris”, “transição energética” e “Nações Unidas” são os mais mencionados. Também aparecem expressões como “floresta amazônica”, “Helder Barbalho”, “organização internacional” e “capital paraense”, o que evidencia a dimensão política e simbólica atribuída ao evento.
Temas técnicos, como desmatamento, metas climáticas e crédito de carbono, tradicionalmente centrais nas conferências climáticas, ainda têm pouca visibilidade nas redes. A ausência desses assuntos nas discussões sugere que a COP30, até o momento, é percebida mais como um evento político e diplomático do que como um fórum para tratar de soluções climáticas concretas.
A pesquisa também comparou o conteúdo das redes sociais com os dados de busca no Google. Enquanto as redes se concentram nos protagonistas políticos e institucionais, o Google mostra um alto volume de buscas por informações básicas sobre o evento, como seu significado, importância e impactos para o Brasil. Isso evidencia uma lacuna de conhecimento e a necessidade de letramento climático por parte da população.
A análise mostra ainda como o monitoramento de redes pode ajudar marcas e organizações a entenderem melhor o contexto e se posicionarem de forma mais estratégica. A escuta social permite identificar tendências, antecipar narrativas e evitar discursos genéricos que não se conectam com as tensões e expectativas do público.
Segundo os responsáveis pelo estudo, eventos globais como a COP30 oferecem às marcas a oportunidade de participar de forma relevante das conversas públicas, desde que atuem com base em escuta ativa, sensibilidade cultural e alinhamento com os valores do debate socioambiental. Para isso, é necessário ir além da publicidade tradicional e compreender a complexidade dos ambientes digitais nos quais essas discussões ocorrem.
Em um cenário de consumidores cada vez mais atentos e exigentes quanto à coerência entre discurso e prática, o silêncio ou a superficialidade já não são estratégias eficazes. A COP30 será, além de um marco climático, um espaço para narrativas de futuro. E, como aponta o estudo, as conversas sobre esse futuro já começaram, ainda que de forma desigual, nas redes sociais.