Depois de um ano turbulento para as lideranças corporativas, os primeiros meses de 2025 sinalizam uma mudança de rumo nas estratégias das grandes empresas. Um levantamento da consultoria global Russell Reynolds Associates, especializada em recrutamento e desenvolvimento de lideranças, revela que a rotatividade de CEOs caiu 21% no primeiro trimestre deste ano, indicando uma clara busca por estabilidade e continuidade estratégica.
O dado, divulgado em primeira mão para o BRAZIL ECONOMY, faz parte do Índice Global de Rotatividade de CEOs, que acompanha a movimentação de executivos-chefes em 1.822 empresas listadas em bolsas de valores ao redor do mundo — incluindo nomes como S&P 500, FTSE 100, DAX 40, Nikkei 225 e Ibovespa. Segundo o relatório, o número de novas nomeações também caiu significativamente: retração de 37% em relação ao mesmo período de 2024.
“Este início de ano mais estável é um reflexo do ambiente de incertezas que ainda paira sobre o mundo dos negócios. Mudanças frequentes na liderança aumentam os riscos operacionais e estratégicos”, afirmou Flávia Leão, sócia-diretora da Russell Reynolds e Country Manager no Brasil. “Por isso, vemos os conselhos de administração priorizando transições planejadas e menos abruptas.”
A tendência é confirmada por outro dado relevante do estudo: as substituições de CEOs motivadas por sucessão planejada subiram de 21% para 28% no período, revelando que as empresas estão mais cuidadosas na hora de trocar seus principais executivos.
Se por um lado há mais planejamento, por outro, o tempo médio de permanência no cargo continua encolhendo. Em 2025, os CEOs ficaram, em média, 6,8 anos no posto, ante 8,1 anos no primeiro trimestre de 2024. A redução é puxada, em parte, pelo aumento expressivo das saídas por motivos pessoais, que saltaram de 2% para 11% — o maior índice já registrado desde o início do monitoramento.
O fenômeno revela uma pressão crescente sobre quem ocupa o topo da hierarquia corporativa, seja por questões de saúde mental, seja pela intensidade do cargo em contextos cada vez mais voláteis.
Embora ainda estejam sub-representadas, as mulheres começam a avançar nos cargos de CEO. No primeiro trimestre de 2025, 13% das novas nomeações foram de mulheres — quase o dobro dos 7% registrados no mesmo período do ano anterior. Em 2024, a participação feminina nas indicações ficou em torno de 11%.
Apesar da melhora, os obstáculos à equidade de gênero continuam evidentes. As executivas têm quatro vezes mais chances de deixar o cargo em menos de 12 meses e quase um quarto (24,1%) abandona a função em até dois anos, mais que o dobro da taxa observada entre os homens.
“Mesmo com os avanços, ainda estamos a décadas da equidade real. Se mantido o ritmo atual, a igualdade de gênero nos cargos de CEO só será atingida em 72 anos”, alertou Flávia. Para ela, é fundamental que os conselhos atuem de forma ativa na promoção da diversidade. “É preciso revisar o planejamento sucessório, oferecer suporte contínuo às líderes e trabalhar na transformação cultural das organizações. Investir em lideranças femininas não é apenas uma questão de justiça, mas uma estratégia vital para o futuro das empresas.”
Com a pressão por resultados sustentáveis, inovação e propósito, a liderança corporativa vive uma nova era, em que estabilidade, planejamento e diversidade são mais do que palavras da moda: são pilares de sobrevivência e crescimento.