Nem só de fábricas vive o Polo Industrial de Manaus (PIM), um dos maiores hubs produtivos do País. A meta da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) é ousada: posicionar o complexo em referência nacional em práticas ambientais, sociais e de governança (ESG). Para isso, lançou em parceria com o Centro da Indústria do Estado do Amazonas (CIEAM), o ZFM + ESG, um protocolo com diretrizes baseadas na premissa de desenvolvimento sustentável preconizada pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Os primeiros resultados já começaram a ser colhidos. De março até o final de maio, indústrias instaladas no PIM, como Coca-Cola Recofarma, Grupo Technos, Impram, DST Eletronics, Coplast e BIC da Amazônia, haviam aderido ao protocolo. Algumas dessas já possuem práticas de ESG conhecidas publicamente, como é o caso da Coca-Cola Recofarma e da BIC da Amazônia.
O ZFM + ESG prevê três linhas de atuação da Suframa e do CIEAM. A primeira é incentivar que fábricas instaladas no PIM, que já possuam práticas de ESG, comuniquem, informem e apresentem seus relatórios à Suframa, criando assim um banco de dados — que hoje não existe.
A segunda é motivar aquelas que ainda não possuem práticas de ESG a iniciarem um plano de trabalho nesse sentido. E a terceira é promover seminários, palestras e apoio institucional para demonstrar as vantagens competitivas e financeiras da aplicação de práticas ESG.
“Estamos trabalhando para subir a régua no Polo Industrial de Manaus, tanto por meio do ESG quanto da Indústria 4.0. Queremos, em março do próximo ano, ter resultados significativos para mostrar, com ao menos 50 empresas tendo aderido a esse protocolo”, explicou o superintendente da Suframa, Bosco Saraiva.
De acordo com Saraiva, desde 2023, quando assumiu a superintendência da Suframa, vem sendo construída essa jornada de modernização do PIM, implantando e disseminando práticas e tendências mundialmente reconhecidas, que contribuem para a redução de custos, aumento de produtividade e maior competitividade de mercado — além da atuação para atrair novas fábricas para o polo.
Ele afirma que, em dois anos, a quantidade de indústrias instaladas em Manaus e beneficiadas pelos incentivos da Zona Franca saltou de 500 para 600 até maio último. “Tivemos um aumento considerável de fábricas no Polo Industrial porque estamos sempre buscando atrair novas indústrias. E sabemos que questões como o protocolo de práticas de ESG e a Indústria 4.0, além dos incentivos fiscais, também servem como atrativo”, afirma Saraiva.
Segundo ele, o mercado internacional — e parte do nacional — já está cobrando das empresas cadeias produtivas que se preocupem com o impacto ambiental resultante da atividade industrial. A tendência global e o fato de o Amazonas abrigar a maior cobertura de floresta amazônica do Brasil tornam urgente a necessidade de dados e a ampliação das práticas ESG no PIM.
Isso porque informações sobre faturamento e empregos do PIM aparecem no telão da sala da superintendência, mas ainda faltam dados relacionados à sustentabilidade, práticas de responsabilidade social e de governança.
A Suframa não sabe informar, por exemplo, quanto de emissões de CO₂ são emitidas e compensadas pelas fábricas, nem quanto de resíduos é reciclado das mais de cinco mil toneladas geradas por dia — dado de 2018 do relatório da JICA (Agência de Cooperação Internacional do Japão). Menos ainda, como são as políticas de equidade ou igualdade de gênero.
Outro dado que ainda não consta para a Suframa é quais tipos de indústrias mais praticam ESG — se as multinacionais ou as nacionais —, tampouco quais segmentos possuem os melhores índices de ESG. Essa é uma mudança no processo de fornecimento de informações por parte das fábricas do PIM que o protocolo ZFM + ESG deve ajudar a promover, na avaliação de Bosco Saraiva.
Por essa razão, ele explica que o protocolo prevê, prioritariamente, ações que possam reduzir as emissões de CO₂ na atmosfera, ampliar o uso de energia limpa e promover a destinação adequada de resíduos químicos das fábricas.
“Além disso, a questão das condições de trabalho e do assédio moral e sexual — que são englobados no social do ESG — é ponto de alta atenção nossa. Tanto que já trabalhamos isso nos seminários que realizamos, estamos sempre tocando nesse tema com os colaboradores e executivos das indústrias. E falamos sobre isso nas visitas semanais que fazemos às fábricas. Não adianta avançar em tecnologia e esquecer o humano”, comenta o superintendente.
Apesar da meta de adesão ao protocolo ZFM + ESG envolver menos de 10% do total das fábricas instaladas no PIM, a iniciativa é vista como um caminho promissor — e sem volta. “Prefiro jogar com a realidade. Mas é importante dizer que as práticas de ESG são um caminho sem volta para as empresas, seja pela necessidade de enquadramento ao mercado mundial, seja pela redução de riscos e custos”, pontua Saraiva.
Com um superávit no primeiro trimestre deste ano de 15,61%, R$ 55,66 bilhões de faturamento e mais de 20 mil novos empregos — entre efetivos, temporários e terceirizados — segundo dados da Suframa, o PIM é uma potência industrial. E pode, na opinião de Saraiva, servir de exemplo para o resto do País.
O que diz o Protocolo ZFM + ESG
O Protocolo ZFM + ESG foi instituído pela Portaria nº 1.860 da Suframa, em março de 2025, e tem caráter de adesão voluntária por parte das indústrias instaladas no PIM. Conforme consta no documento oficial, as empresas que completarem a implementação ou relatarem práticas de ESG receberão um certificado. O certificado não tem equivalência a uma certificação ESG formal. E o protocolo tem duração inicial de 12 meses, podendo ser renovado.
O ZFM + ESG objetiva que as indústrias estejam praticando ou passem a praticar, especialmente, ações de redução de emissões de CO₂, uso de energias renováveis, gestão eficiente de resíduos e proteção da biodiversidade da floresta amazônica, no âmbito do pilar ambiental do ESG. Já no tocante ao pilar social, a prioridade é a implantação de programas de diversidade, capacitação, segurança do trabalho, combate a discriminações e respeito aos direitos humanos. No pilar governança, o protocolo estimula a implementação de códigos de ética, regras de transparência nas transações comerciais e gestão de riscos.