Rubens Menin, bilionário da MRV, injeta mais de € 60 milhões em vinho premium no Douro

O empresário brasileiro fala sobre sua entrada no mundo do vinho em Portugal, investimentos milionários, enoturismo e lições que só o terroir ensina

Marcelo Copello
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Imagens: Divulgação

Menin afirma que construiu a Menin Wine Company com a mesma ambição e precisão com que ergueu seus outros impérios

Menin afirma que construiu a Menin Wine Company com a mesma ambição e precisão com que ergueu seus outros impérios

Peço licença aos leitores para começar essa introdução em primeira pessoa. Acompanho a trajetória de Rubens Menin há muitos anos e sempre o admirei como empresário inquieto e visionário. Seu nome já é sinônimo de sucesso em áreas como construção civil, mídia, finanças e até futebol. Mas foi com surpresa — e curiosidade — que vi seu nome surgir no mundo do vinho. Resolvi, então, conversar com ele sobre essa nova paixão, que de hobby virou negócio milionário.

Com investimentos que já passam de 60 milhões de euros em Portugal, Menin construiu a Menin Wine Company com a mesma ambição e precisão com que ergueu seus outros impérios. Falamos sobre retorno financeiro, terroir, barricas de altíssimo padrão e o poder do enoturismo. E, claro, também sobre tempo, paciência e prazer — atributos que o vinho, mais do que qualquer outra atividade, ensina a cultivar.

A seguir, compartilho essa entrevista exclusiva e reveladora com um dos nomes mais influentes do empresariado brasileiro, agora também enófilo profissional.

Marcelo Copello – O senhor construiu sua reputação nos setores imobiliário e financeiro. O que o motivou a entrar no mundo do vinho e por que escolheu Portugal como base para esse investimento?

Rubens Menin – Foi numa viagem em 2013 a Portugal. Dei uma passada no Estádio do Dragão, do FC Porto. Descobri que o Douro era um lugar simplesmente espetacular para fazer vinho. Já havia viajado o mundo, mas nada batia a beleza e o potencial desse local. E, olha só, as terras de lá eram muito mais baratas do que no resto da Europa. Foi paixão à primeira vista e uma grande oportunidade de negócio também. A partir daí, começamos a estruturar tudo e iniciamos a operação em 2018.

 

Qual foi o tamanho do investimento inicial na vinícola portuguesa e qual é o plano de retorno? Trata-se de uma aposta de longo prazo ou há metas específicas de rentabilidade?

O investimento inicial foi de 30 milhões de euros, e hoje já chegou a 60 milhões de euros. A ideia é ter um ROI de 20% ao ano. O foco está em construir um negócio sólido e sustentável, com crescimento contínuo. E com vinho bom, a margem é excelente. O breakeven está entre 6 e 7 euros por garrafa. Mas desenvolvemos um produto com tanta qualidade que conseguimos vender acima de 20 euros. Portanto, a margem é muito boa.

A vinícola fica na região do Cima Corgo, no Douro, a mais antiga região vitivinícola regulamentada do mundo
A vinícola fica na região do Cima Corgo, no Douro, a mais antiga região vitivinícola regulamentada do mundo

Como empresário brasileiro investindo no exterior, quais foram os principais desafios regulatórios e operacionais enfrentados ao montar uma vinícola em solo europeu?

Tivemos desafios naturais de qualquer novo empreendimento, como compreender a burocracia local, montar uma equipe qualificada e definir os melhores insumos — incluindo as barricas T5, de altíssimo padrão. Só para se ter uma ideia, custam cerca de 2.200 euros (cerca de R$ 14 mil no câmbio atual). Também foi essencial estruturar com cuidado a produção. Mas, acima de tudo, o ponto mais importante foi entender e respeitar o terroir para produzir um vinho de alta qualidade. Entrar nesse mercado com um produto realmente diferenciado nos permite atuar em um segmento premium, com margem saudável e posicionamento sólido.

A recente aquisição da Quinta Bulas representa um marco importante para a Menin Wine Company. Quais são os planos específicos para integrar essa nova propriedade ao portfólio e às estratégias existentes?

Essa compra foi um golaço estratégico. A vinícola fica na região do Cima Corgo, no Douro, a mais antiga região vitivinícola regulamentada do mundo. São 53 hectares, com nove de vinhas velhas, o que aumenta nosso total para mais de 200 hectares e mais de 29 de vinhas antigas. É uma compra que vai fortalecer nosso portfólio e ainda traz uma uva rara para o grupo, a Rabigato Moreno, inédita nas nossas propriedades. Além disso, reforça nosso foco na produção de vinhos de qualidade e no enoturismo, que é uma frente importante para nós. Foi um investimento de 6,5 milhões de euros, que mostra o quanto acreditamos no potencial da região e no crescimento da Menin Wine Company. A nova quinta permitirá um aumento de mais de 30% na capacidade atual de produção de garrafas e vem reforçar o investimento e nosso compromisso na valorização do Douro e na projeção dos vinhos portugueses no mundo.

A produção está projetada para cerca de 650 mil garrafas por ano, mas o foco não é volume e sim a qualidade dos vinhos
A produção está projetada para cerca de 650 mil garrafas por ano, mas o foco não é volume e sim a qualidade dos vinhos

Enoturismo, marca própria e posicionamento premium: qual é o modelo de negócios da vinícola e quais frentes devem gerar maior receita?

A combinação das três frentes é o que sustenta nosso modelo de negócios e garante potencial real de crescimento. Apostamos firme no vinho premium, focando em qualidade e no terroir. A produção está projetada para cerca de 650 mil garrafas por ano. Entretanto, nosso foco não é volume, mas oferecer um produto de excelência que o consumidor reconhece e valoriza. Mas o negócio vai além da produção. O enoturismo tem sido uma frente fundamental para nós. Criamos experiências completas, com degustações e visitas guiadas, que fortalecem o vínculo com o consumidor e ajudam a consolidar nossa marca. Isso também traz receita e valoriza a cultura do vinho e a região onde atuamos. É assim que enxergamos o caminho para crescer de forma sustentável e consistente.

Quais indicadores de desempenho o senhor acompanha para avaliar o sucesso da operação vinícola? E qual é a sua meta de faturamento para os próximos anos?

Nosso foco principal é o ROI, que buscamos manter em torno de 20% ao ano. Também acompanho de perto a margem Ebitda, que está em um patamar bastante elevado, demonstrando que o negócio não só oferece um retorno atrativo, mas também opera com eficiência e sustentabilidade. Com essa base sólida, temos plena confiança no potencial de crescimento e na capacidade de gerar valor de forma consistente ao longo do tempo. Nossa meta de faturamento acompanha esse ritmo de crescimento, com o objetivo de consolidar a Menin Wine Company como uma referência no segmento.

São 53 hectares, com nove de vinhas velhas, o que aumenta nosso total para mais de 200 hectares e mais de 29 de vinhas antigas
São 53 hectares, com nove de vinhas velhas, o que aumenta o total para mais de 200 hectares e 29 de vinhas antigas


O Grupo Menin atua em setores diversos como construção civil, mídia, finanças e futebol. Há sinergias sendo exploradas entre esses negócios e a vinícola — seja em distribuição, comunicação ou relacionamento com clientes de alto padrão?

É importante destacar que não constituímos um grupo. Eu, como empresário, investi em diferentes setores. Claro que dá para cruzar as coisas. No fim das contas, tudo tem a ver com geração de valor — seja para o acionista, para os clientes ou para a sociedade. Seja construindo estádio, banco digital ou vinho, o princípio é o mesmo: fazer bem-feito, com gente boa e muito qualificada no time. E, quando dá, um negócio ajuda o outro.

Além do prazer pessoal, que ensinamentos empresariais a experiência com o vinho trouxe ao senhor? Há algo que outros setores podem aprender com esse mercado?

Com certeza. No vinho, como no futebol, você aprende a respeitar o tempo. Não adianta querer apressar a natureza. É preciso paciência, atenção aos detalhes. Aprendi a observar mais, a escutar mais. E, como em qualquer bom negócio, tem que ter paixão.

Para encerrar com leveza: para brindar um título do Atlético com um grande vinho, qual rótulo escolheria para levantar a taça com o time?

Dona Beatriz, de qualquer safra disponível.

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