O que as praias artificiais têm a nos dizer sobre o futuro do bem-estar urbano

O conceito de "sertão virar mar" ganha nova dimensão quando entendemos que essas estruturas não são apenas empreendimentos de luxo, mas ferramentas de bem-estar e integração urbana

Maurício Gariglia*
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Imagens: Divulgação

Maurício Gariglia: "Estudos comprovam que estar em contato com elementos naturais melhora a saúde física e mental"

Maurício Gariglia: "Estudos comprovam que estar em contato com elementos naturais melhora a saúde física e mental"

Três anos atrás, talvez fosse impensável imaginar um paulista surfando em Alphaville às seis da manhã ou às onze da noite, antes ou depois do expediente. Hoje, isso não só é possível, como começa a se tornar uma tendência mundial. De acordo com a Verified Market Reports, o mercado global de piscinas de ondas foi avaliado em aproximadamente 1,3 bilhão de dólares em 2023, e a estimativa é que alcance 3,2 bilhões até 2033. O motivo? Um desejo coletivo de reconexão com a natureza, mesmo em meio à vida urbana.

As praias artificiais são um negócio novo no mundo. O berço dessa tendência foi Los Angeles, há pouco mais de cinco anos. Hoje, no Brasil, temos apenas cinco iniciativas implantadas, como o Reserva Beach Club, em Alphaville; o Praia da Grama (Itupeva); o Boa Vista Village; o São Paulo Surf Club; o Beyond The Club e o Surfland (em Garopaba, SC). Todos têm em comum a aposta em uma nova forma de lazer que une tecnologia, natureza e bem-estar.

Por trás desses projetos está a ideia simples de levar qualidade de vida e experiências sensoriais a locais onde isso antes era inconcebível. O conceito de “sertão virar mar” ganha nova dimensão quando entendemos que essas estruturas não são apenas empreendimentos de luxo, mas ferramentas de bem-estar e integração urbana. Em cidades como São Paulo, onde o trânsito consome horas e o acesso ao litoral é desgastante, criar uma praia à porta de casa é mais que conveniência — é uma mudança de paradigma.

Estudos comprovam que estar em contato com elementos naturais melhora a saúde física e mental. No Japão, por exemplo, práticas como o shinrin-yoku (banhos de floresta) são adotadas inclusive no sistema de saúde pública. A imersão em ambientes verdes e aquáticos reduz a pressão arterial, diminui o estresse e fortalece a sensação de pertencimento. As piscinas de ondas, nesse sentido, não afastam as pessoas da natureza. Ao contrário, aproximam. Recriando o ambiente natural dentro dos limites urbanos, elas ampliam o acesso a experiências que antes eram privilégio de poucos.

E há, claro, uma dimensão econômica importante. Em Alphaville, onde atuo há mais de 30 anos e onde vivi a efervescência do mercado imobiliário desde os meus tempos de corretor, esse tipo de empreendimento chega para consolidar um novo ciclo de valorização. É uma região que se reinventa, que une segurança, urbanização planejada, mata preservada e que vem recebendo investimentos robustos, como a ampliação da Rodovia Castello Branco, novos hospitais, escolas bilíngues, centros de compras e serviços.

Alphaville está mais linda ano a ano. São mais de 3 milhões de metros quadrados de área verde preservada. Mas, até hoje, faltava praia. E essa ausência era sentida por quem não quer ou não pode mais passar três ou quatro horas na estrada para chegar ao mar. Daí a relevância do surgimento de projetos como esses — de uma dor real, de um desejo comum e de uma oportunidade de transformar um modo de viver.

O surfe é um fenômeno mundial, e o turismo ligado a esse esporte globalmente foi estimado em 68,3 bilhões de dólares em 2024, com projeções que apontam para um crescimento de até 95,93 bilhões de dólares em 2030 — o que inclui viagens, hospedagens, escolas de surfe e experiências imersivas. A expansão reflete o crescente interesse pelo esporte não apenas como prática esportiva, mas como estilo de vida e atividade de lazer conectada ao bem-estar.

E não se trata apenas de performance, mas de estilo de vida. A oportunidade de surfar em São Paulo com segurança, controle, qualidade de onda e estrutura é uma virada para o mercado de lazer e para a economia da experiência. Assim como o mercado digital e o home office impulsionaram a valorização das casas e do convívio, também queremos ressignificar o tempo livre com mais natureza, mais convivência e mais vitalidade.

Estamos só começando. O movimento das praias artificiais é global, e o Brasil tem tudo para expandir essa lógica para regiões urbanas e interioranas. Mais do que empreendimentos imobiliários, esses clubes representam uma proposta de futuro. E, como em todo bom futuro, ele nasce de uma vontade muito humana: a de se sentir parte da natureza, ainda que no meio da cidade.

*Maurício Gariglia, CEO da BR Soho

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