Apaixonado por esportes, Adriano Merigli é triatleta em provas de longa distância. Para ele, as competências de um esportista de alto rendimento são as mesmas de um executivo inspirador: estratégia, disciplina, perseverança, preparo e foco nos resultados. Foi assim que construiu uma carreira de 29 anos na sueca Volvo, onde ingressou em 1994 no braço financeiro da companhia e passou por diversas posições — vice-presidente de vendas, novos negócios e CFO — em países como Brasil, Inglaterra, México e África do Sul. Na Volvo Trucks, foi diretor-geral para caminhões e ônibus na subsidiária da Argentina. Já na Volvo Construction Equipment, liderou os negócios internacionais da empresa com base na Suécia. Um verdadeiro triatlo corporativo, encerrado em 2023 para iniciar uma nova prova: a liderança da JCB América Latina como CEO.
Contratado para desenhar a terceira fase da operação da multinacional britânica na região, Merigli lidera um plano de crescimento de cinco anos — que ganhou um ano de carência e se estende até 2030 — com o objetivo de dobrar o tamanho da empresa. Atingida a meta, a fabricante de veículos pesados da linha amarela alcançará 20% de market share no Brasil. “Entramos na terceira fase, de expansão”, disse o executivo ao BRAZIL ECONOMY, que visitou a sede da companhia em Sorocaba, interior de São Paulo, hub para América Latina.
Merigli retornou da Suécia ao Brasil para comandar essa nova etapa. A primeira fase foi marcada pela criação da fábrica da empresa em Sorocaba, em 2012. Entre as 24 plantas que a companhia possui no mundo, é a única que produz quatro linhas de produto simultaneamente: retroescavadeiras, escavadeiras, manipuladores telescópicos e pás carregadeiras.
A segunda fase consolidou a marca e estruturou a rede de distribuidores, hoje com mais de 60 pontos de venda no Brasil, operados por 14 grupos. A operação também atende outros países da América Latina. Essa fase foi tocada por José Luis Gonçalves, que assumiu posteriormente o cargo de diretor-executivo de vendas para Europa e mercados internacionais da JCB, sediado na Inglaterra.

No ciclo anterior da corporação (2020–2024), foram investidos R$ 120 milhões. Agora, sob o comando de Merigli, o plano prevê R$ 500 milhões até 2030 — mais que o triplo do investimento anterior — para dobrar o tamanho da companhia nos próximos cinco anos. Esse é o novo triatlo corporativo do executivo, que ainda precisa encontrar tempo para competir em provas que envolvem nadar 1.500 metros, pedalar 40 quilômetros e correr outros 10 — talvez a parte mais fácil, apesar de desafiadora.
A JCB encerrou 2023 com 10,5% de market share no Brasil, onde o setor vende cerca de 30 mil máquinas por ano. O faturamento global da companhia foi de US$ 8,65 bilhões, com US$ 1,07 bilhão de Ebitda. O Brasil é o terceiro maior mercado da empresa no mundo, com 7% de participação, atrás apenas dos Estados Unidos e da Índia. Em 2023, a JCB ganhou 1,5 ponto percentual de participação no País e alcançou 12% de share.
A maior parte do investimento de R$ 500 milhões — cerca de R$ 400 milhões — será destinada à expansão das operações na América Latina. Desses, R$ 150 milhões vão para a modernização e ampliação da fábrica de Sorocaba. Outros R$ 50 milhões serão investidos no desenvolvimento de novos produtos e na nacionalização de equipamentos atualmente importados. “Temos alguns itens que ainda importamos. Nacionalizar significa equipar nossa fábrica com ferramentas e tecnologia para fabricar essas peças aqui”, explica o CEO. Outros R$ 50 milhões vão para a ampliação da rede de distribuidores.
Entre os caminhos de crescimento vislumbrados no Brasil está a ampliação do portfólio. Das 300 máquinas produzidas globalmente pela JCB, apenas 30 são comercializadas no mercado brasileiro. A meta é trazer mais sete nos próximos anos.
Outro vetor estratégico é o agronegócio, segmento no qual a JCB ainda é iniciante: apenas 15% das vendas vão para o setor. O core business da companhia está na construção civil, com 40% da receita. O restante vem da locação de equipamentos e da venda de peças, inclusive para máquinas de concorrentes.
O lançamento mais recente foi apresentado na Agrishow 2025, realizada de 28 de abril a 2 de maio, em Ribeirão Preto (SP): a carregadeira 437ZX AGRI, indicada para operações de grande volume.

Merigli também enxerga oportunidades na locação, segmento que representa cerca de 20% do mercado de máquinas amarelas no Brasil e é dominado por poucos players. “Nos EUA, 70% das vendas são para locadoras. Temos um potencial enorme ainda inexplorado aqui”, afirma. Ele cita que há 29 mil CNPJs de locadores de máquinas amarelas registrados no Brasil. “Tem gente em Sinop (MT) esperando de manhã na praça para alugar a máquina por hora para escavar a piscina de alguém”, exemplifica, destacando o caráter pulverizado do setor.
DIFERENCIAIS COMPETITIVOS
Apesar da concorrência acirrada e da chegada de empresas chinesas, Merigli acredita que a JCB possui vantagens competitivas. Além da “qualidade britânica reconhecida”, o executivo destaca o JCB Finance, o Consórcio JCB e, principalmente, o pós-venda como diferenciais.
“Vender a primeira máquina é fácil. Se der um problema e faltar peça ou mecânico, não vende a segunda. É nisso que investimos muito”, reforça. A companhia estabelece que nenhum equipamento esteja a mais de 200 km de um mecânico, considerando que máquinas de esteira, por exemplo, não podem ser facilmente transportadas quando estão paradas com carga.
Para garantir essa proximidade, a JCB utiliza uma tecnologia proprietária que monitora remotamente suas máquinas. Um painel na sede em Sorocaba mostra a localização e o status operacional de todos os equipamentos em atividade no mundo. São gerados relatórios sobre o consumo de combustível, desgaste de peças e até falhas previstas. Quando a reportagem do BRAZIL ECONOMY visitou a fábrica, havia 15.880 máquinas ligadas no Brasil — apenas nove estavam paradas. “Sabemos exatamente o motivo dessas paradas”, afirmou Merigli.
INOVAÇÃO
A JCB é reconhecida por inovações como a invenção da retroescavadeira e do manipulador telescópico Loadall. Agora, a companhia desenvolve os primeiros equipamentos pesados movidos a motores de combustão interna a hidrogênio. Os testes na Europa estão concluídos e as vendas começarão em breve. No Brasil, a chegada dependerá da infraestrutura de abastecimento. “Acredito que em três anos estaremos prontos”, projeta o CEO.
Será uma nova virada de chave para a JCB no mercado brasileiro — e mais uma transição de etapa no triatlo corporativo de Adriano Merigli.