No ano em que completa 100 anos de operação no Brasil, a seguradora italiana Generali vive seu melhor momento no País em 2025. A companhia está crescendo a um ritmo acima de 30% ao ano, depois de ter fechado 2024 com crescimento de 38% no volume de prêmios, alcançando R$ 1,648 bilhão — um salto expressivo em relação aos R$ 1,2 bilhão de 2023.
“É um ano muito especial para nós, um marco histórico. Chegar a um século no Brasil nos coloca em um grupo extremamente seleto. Mundialmente, apenas 0,5% das empresas superam a marca de um século, e, no Brasil, esse percentual cai para 0,2%”, afirmou ao BRAZIL ECONOMY Eric Lundgren, CEO da Generali Brasil, que assumiu o comando da operação em fevereiro deste ano.
A operação brasileira, embora ainda pequena dentro do grupo global — fundado em 1831, na Itália —, tem demonstrado fôlego para crescer. A comparação recente ajuda a dimensionar esse avanço: em 2022, a Generali Brasil fechou o ano com R$ 1,2 bilhão em prêmios e lucro de R$ 25 milhões. Hoje, a empresa apresenta resultados robustos e sustentáveis, mesmo em um mercado altamente competitivo.
O bom desempenho é sustentado por três pilares de negócios. O primeiro é a divisão de grandes riscos — uma vocação histórica da companhia. Nela estão contratos de seguros para indústrias, plataformas de petróleo, obras de engenharia, além de proteções financeiras como D&O (Directors and Officers) e E&O (Errors and Omissions). “É parte do nosso DNA. A Generali sempre atuou em grandes riscos, tanto no Brasil quanto globalmente”, explicou Lundgren.
O segundo pilar é a vertical de Employee Benefits, que oferece seguros corporativos de vida e acidentes para colaboradores de multinacionais. Esse é um modelo global. Empresas como Pirelli, Bayer ou Nestlé, por exemplo, contratam a Generali para estruturar seus programas de benefícios em diversos países, inclusive no Brasil. “Esse segmento é relevante, mas está mais suscetível às decisões que são tomadas globalmente, nas matrizes das empresas”, afirmou o executivo.
O maior motor da operação brasileira, no entanto, é a divisão de seguros massificados — que responde por aproximadamente 75% do faturamento local. A estratégia é B2B2C: a Generali firma parcerias com bancos de médio porte, fintechs e grandes varejistas para oferecer produtos como seguro prestamista (proteção de crédito em casos de morte, desemprego ou incapacidade), garantia estendida, seguro para celular, bicicleta, bolsa protegida e até seguro Pix. “É um modelo escalável, com boa rentabilidade e menos exposição às intempéries que afetam, por exemplo, o seguro automotivo”, disse.
Aliás, o seguro de automóveis — um dos produtos mais conhecidos no imaginário popular — não faz mais parte dos planos da Generali. A companhia saiu desse mercado no Brasil em 2020. “É um segmento de altíssima competição, onde a escala é fundamental. A Generali entendeu que não fazia sentido insistir nessa operação aqui. Decidimos focar onde somos, de fato, competitivos”, resumiu Lundgren.
Essa decisão também está alinhada ao perfil mais enxuto e ágil da operação brasileira. Atualmente, a empresa tem cerca de 290 colaboradores. “Nosso tamanho permite flexibilidade para desenvolver produtos sob medida para nossos parceiros. Isso é uma vantagem enorme quando participamos de uma RFP (Request for Proposal) de uma fintech ou de um varejista, por exemplo”, afirma.
Inovação como diferencial
A aposta na inovação também tem sido uma marca da Generali Brasil, segundo Lundgren. Pelo terceiro ano consecutivo, a empresa foi reconhecida pelo MIT Technology Review como uma das 20 companhias mais inovadoras do Brasil. Isso se reflete tanto na digitalização dos processos quanto no desenvolvimento de produtos para nichos específicos.
Um exemplo é o seguro viagem, oferecido em parceria com a Hero Seguros, que vem crescendo nos últimos anos. Outra aposta foi o seguro de bicicletas, por meio de uma parceria com a startup Santuu — embora esse projeto esteja em fase de reavaliação. “Buscamos sempre identificar mercados com menos competição e onde possamos gerar valor. Nem tudo dá certo, e não há problema nisso. Ajustamos, pivotamos e seguimos”, diz Lundgren.
Olhando para os próximos anos, Lundgren — da quinta geração da família fundadora da rede varejista Pernambucanas — afirma que a projeção é de crescimento consistente nas três frentes de negócios, embora o pilar de Employee Benefits dependa mais de decisões tomadas nas matrizes das multinacionais. Há, porém, espaço para expansão no mercado doméstico, especialmente atendendo multinacionais brasileiras como a Weg, que possuem operações internacionais e têm se beneficiado das soluções globais da Generali.
No mercado brasileiro, a seguradora ocupa hoje a 20ª posição no ranking geral, desconsiderando saúde e VGBL — dois segmentos nos quais não atua. “Nosso foco não é ser o maior. É ser relevante, rentável e sustentável nos nichos onde escolhemos atuar”, acrescentou o executivo.
Em um mercado tão competitivo quanto o brasileiro, a receita da Generali passa por um tripé claro: agilidade, inovação e foco. Uma estratégia que, ao que tudo indica, está dando certo — e deve continuar guiando a seguradora na sua segunda centena de anos no País.