Por trás da trajetória de sucesso de Jordana Souza está uma história de resiliência, coragem e vendas — muitas vendas. Nascida em Criciúma, no interior de Santa Catarina, Jordana começou a trabalhar ainda criança no balcão da mercearia da família. Hoje, aos 36 anos, ela é cofundadora e diretora de Novos Negócios da Voll, uma plataforma digital de viagens corporativas que já atende mais de 750 mil usuários e conta com clientes de peso como Itaú, Nubank, Localiza e iFood. Em 2024, a empresa rompeu a marca de R$ 1 bilhão em faturamento e mira os R$ 1,7 bilhão para 2025.
Jordana não apenas fundou um negócio bilionário — ela desafiou estatísticas. Primeira da família a concluir o ensino superior, foi mãe aos 18 anos, mudou-se sozinha para o Rio de Janeiro e descobriu que, mais do que engenheira civil, queria ser empreendedora. “Sempre fui uma vendedora nata”, diz ela. “Isso vem de casa. Minha mãe vendia Avon de porta em porta, teve loja de material de construção, mercearia. A gente aprendeu a conversar com todo mundo, do prefeito ao açougueiro.”
Esse faro comercial foi determinante para a guinada que daria anos depois. Depois de passar pela Cabify, onde participou do lançamento do módulo corporativo da empresa no Brasil, Jordana conheceu seus futuros sócios — Luciano Brandão, Eduardo Vasconcelos e Luiz Moura — e, juntos, fundaram a Voll em 2017. A ideia era simples, mas ambiciosa: reunir em uma única plataforma todos os meios de transporte usados em viagens a trabalho e, depois, expandir o conceito para toda a jornada corporativa — das passagens aéreas aos reembolsos, passando por hotel, alimentação e até farmácia.
O primeiro investimento veio da Vivo, por meio do programa Wayra, e possibilitou o lançamento do sistema em meio à pandemia, em 2020. Mais recentemente, um aporte da Localiza impulsionou a criação de um módulo de pagamentos que centraliza as despesas da viagem em um só app. “A gente começou com um PowerPoint e um sonho”, brinca Jordana. Hoje, a Voll tem um sistema integrado que atende gestores e viajantes corporativos em tempo real, com suporte 24/7 em português, inglês e espanhol. E que se tornou referência no mercado.
Vencer o machismo com performance e presença
Apesar de o setor de turismo contar com muitas mulheres, Jordana logo percebeu que a liderança e o comando das empresas ainda é, em sua maioria, masculino — sobretudo quando se entra no universo da tecnologia. “Eu ouvia coisas como: ‘Você vai mesmo trabalhar com TI?’, ou ‘Quem vai fazer a entrevista é só você?’”, relembra. “Teve um ex-funcionário que achava estranho eu andar de bicicleta. Disse que era coisa de homem. São pequenas violências que testam nossa autoconfiança o tempo todo.”
Hoje, essa confiança está em outro patamar — e não por acaso. Jordana lidera uma equipe com mais de 400 colaboradores, sendo 66% mulheres, muitas delas em cargos de liderança. “Conquistamos nosso espaço com entrega, escuta e respeito. Ver mulheres ocupando posições de protagonismo dentro da Voll é uma das maiores vitórias da minha trajetória”, afirma.
A força da rede de apoio
Por trás de cada conquista, há também quem sustenta o sonho. Para Jordana, essa pessoa foi a avó paterna de sua primeira filha, que assumiu o cuidado da neta nos anos difíceis da juventude, quando a empresária ainda cursava faculdade e batalhava para trabalhar. “Se ela não tivesse segurado a onda naquela época, talvez eu não estivesse aqui hoje. Ela foi uma rede de apoio inteira”, diz, emocionada.
Hoje mãe solo de dois filhos, Jordana faz questão de conciliar os papéis de executiva e mãe com presença e afeto. “Minha prioridade é estar na vida deles. Profissionalmente, quero ajudar outras mulheres ‘improváveis’ como eu — que não nasceram em grandes centros, que enfrentaram uma gravidez na adolescência, que não tinham todas as cartas na mão — a chegarem onde quiserem.”
De um balcão de mercearia em Criciúma ao comando de uma startup bilionária, Jordana Souza se tornou símbolo de um novo modelo de liderança: mais humano, diverso e, acima de tudo, possível.