A história de Denise Gerassi não começou nas passarelas, mas nos laboratórios. Após 20 anos atuando como química e farmacêutica, a paulistana decidiu, em 2014, apostar em uma nova trajetória. O plano: criar uma marca de acessórios de luxo com identidade brasileira, estética atemporal e compromisso ambiental.
O investimento inicial de R$ 100 mil deu vida a uma grife que hoje figura em vitrines de mercados como Japão, Coreia do Sul, Estados Unidos, Canadá, Itália e Portugal — com uma produção limitada, artesanal e baseada em princípios de sustentabilidade.
O grande diferencial da marca é a escolha da matéria-prima: o couro de pirarucu, peixe amazônico cuja pele, antes descartada, passou a ser transformada em artigos de alto valor agregado. Certificado pelo Ibama, o material representa uma cadeia produtiva que respeita o meio ambiente e contribui com comunidades ribeirinhas da Amazônia. “Nosso objetivo sempre foi criar algo belo, exclusivo e com propósito. Utilizamos resíduos da indústria alimentícia, com processos manuais e rastreáveis”, disse Denise.
O mercado no qual a marca atua está em plena ascensão. Segundo relatório da Bain & Company em parceria com a Altagamma, o segmento global de luxo pessoal sustentável deve movimentar mais de US$ 130 bilhões até 2030, impulsionado por uma nova geração de consumidores que prioriza ética, origem e impacto na hora de comprar.
Outro dado relevante vem do Boston Consulting Group (BCG): 73% dos consumidores de luxo globais estão dispostos a pagar mais por marcas sustentáveis — especialmente nas faixas etárias mais jovens, como Millennials e Geração Z.
Nesse contexto, empresas com produção artesanal, insumos ecológicos e storytelling autêntico ganham protagonismo. “A sustentabilidade deixou de ser diferencial e virou requisito para o consumidor premium”, resumiu Denise.
Design brasileiro com reconhecimento internacional
Com mais de 20 modelos de bolsas no portfólio — incluindo clutches, bolsas de ombro e tiracolos —, as peças da marca Denise Gerassi são produzidas em São Paulo e seguem um rigoroso processo de qualidade. O forro interno é feito com algodão misturado a fibras de PET reciclado. Cada metro equivale à retirada de oito garrafas plásticas do meio ambiente.
O design orgânico e atemporal busca inspiração direta na natureza, com referências a texturas amazônicas e lendas indígenas. A produção é limitada, o que garante exclusividade e reforça o caráter de luxo das peças, cujo preço médio gira em torno de R$ 2 mil.
Além do cuidado com o produto, a marca tem investido de forma estratégica na construção de presença internacional. Participações em feiras e eventos como Bogotá Fashion Week, White Milano, Première Classe Paris, Magic Las Vegas e Expo Dubai abriram portas para exportações e posicionamento institucional no exterior.
A presença no pavilhão do Brasil na Expo Dubai, em parceria com a Apex-Brasil, foi um marco. “Ali consolidamos o reconhecimento internacional e começamos a exportar com mais regularidade”, afirmou Denise.
Outro trunfo da marca está nas colaborações com empresas e personalidades do setor de luxo. Um dos momentos emblemáticos foi a criação de um modelo exclusivo para o hotel Rosewood São Paulo, ícone da hospitalidade de alto padrão. A parceria com Consuelo Blocker, influenciadora de moda com forte ligação com o design italiano e o lifestyle elegante, também ajudou a reposicionar a marca com um olhar internacional. “Essas parcerias são fundamentais para reforçar nosso DNA: somos uma marca elegante, brasileira e com responsabilidade social e ambiental”, explicou a fundadora.
A estratégia já se reflete nos números: a empresa ultrapassou R$ 1 milhão em faturamento anual e mira crescimento consistente, mantendo o modelo de produção controlada e artesanal. Mais do que vender bolsas, a marca tem contribuído para gerar impacto positivo em toda a cadeia. Parte das peças é confeccionada por artesãos e comunidades ribeirinhas da Amazônia, com repasse justo e capacitação. A empresa também mantém parcerias com cooperativas locais para aquisição de matéria-prima e insumos. “O design é um meio. O objetivo final é promover uma nova forma de consumir, respeitando o meio ambiente e valorizando a mão de obra brasileira”, disse Denise.
A narrativa da marca se encaixa perfeitamente na demanda crescente por produtos com origem transparente e impacto positivo — algo que já não é mais nicho, mas tendência global.
Com novos mercados no radar, Denise Gerassi diz que segue firme nos planos de expansão — mas com os pés no chão. O foco é consolidar a presença nos mercados onde já atua e ampliar parcerias institucionais e comerciais, tanto no Brasil quanto fora. “Nossos pilares não mudam: sofisticação, sustentabilidade e brasilidade. O crescimento precisa vir com coerência”, afirmou a fundadora.
Em um momento em que o luxo repensa seus códigos e o consumidor busca cada vez mais significado, a marca Denise Gerassi parece ter encontrado a fórmula certa: aliar estética, inovação e responsabilidade em peças que contam histórias — e conquistam o mundo.