Os resultados: a LG Electronics registrou, no ano passado, o maior faturamento global de sua história de 78 anos: US$ 63,5 bilhões. Foi o sexto ano seguido em que o lucro operacional superou a casa de 1 trilhão de won sul-coreano (KRW), equivalente a US$ 720 milhões. E teve recorde de receita em um único trimestre, de janeiro a março deste ano, quando vendeu US$ 16,5 bilhões. Os desafios: em seu último relatório trimestral, divulgado em abril, a companhia prevê um aumento da incerteza devido às mudanças nas políticas comerciais globais e ao aumento da concorrência no mercado, principalmente de players chineses. As ações: a LG vai expandir seu portfólio de produtos, tanto em lançamentos quanto em volume, para manter a liderança em categorias como televisores e aparelhos de ar-condicionado. O Brasil é um país-chave nessa aceleração proposta pela empresa, já que é o terceiro maior mercado global da fabricante, atrás dos Estados Unidos e da Coreia do Sul.
“A régua de crescimento por aqui é sempre alta”, revelou o vice-presidente de vendas da LG no Brasil, Rodrigo Fiani. “Desde que entrei na companhia, há quase 20 anos, as metas são sempre de desenvolvimento de 30% a cada ano. É crescer, crescer, crescer… E sempre crescimento seguido de investimentos”, disse o executivo ao BRAZIL ECONOMY.
O Brasil está no centro do direcionamento da matriz para acelerar as novidades. São cerca de 50 lançamentos por ano. A receita local é formada por mais de 90% de vendas de produtos lançados nos últimos três anos. O que foge à regra são alguns modelos de ar-condicionado que se mantêm relevantes no mercado há mais tempo.

No Brasil, a categoria de ar-condicionado residencial Split da LG encerrou 2024 como líder de mercado, alcançando 23,5% de participação, de acordo com dados da GfK. “Temos uma nova geração de ar-condicionado que tem o que a gente chama de inteligência afetiva, pois acompanha o hábito do consumidor. Liga e desliga automaticamente, com ajuste da temperatura adequada, dependendo do cotidiano do usuário”, afirmou Fiani.
O mesmo acontece com os televisores, que possuem capacidade de sugerir conteúdos a partir do consumo rotineiro dos clientes. “Isso tem um valor agregado importante. Investimos muito em pesquisa e desenvolvimento para observar as tendências de novos hábitos e comportamentos das pessoas, para adequar nossos produtos”, explicou o vice-presidente.
A companhia também é número 1 em vendas de monitores no país, segundo estudo da mesma consultoria. Os destaques são as linhas Office e a gamer Ultragear, com novos produtos com tecnologia OLED, além de itens com tecnologia WebOS, que permite trabalhar e acessar o universo dos streamings em um único produto. As linhas UltraWide e Medical também performam bem, ao atender necessidades profissionais e de entretenimento.
Globalmente, e com boa participação do Brasil nas vendas, a LG domina o setor de TVs premium, com 52,4% de market share em 2024. São 12 anos consecutivos na liderança mundial de televisores OLED.
PRODUTOS TROPICALIZADOS
Outra estratégia da LG para atender mais e melhor o consumidor brasileiro é tropicalizar os produtos para o mercado nacional. Existem modelos de ar-condicionado adaptados especificamente para o Brasil. “No mundo todo, o mesmo aparelho possui as funções quente e frio. No Brasil, temos modelo só frio, para atender o Nordeste, por exemplo”, disse Fiani.
No país, há ainda o uso de ar-condicionado comercial, para empresas como restaurantes, que também são usados em residências. “Com apenas uma condensadora, refrigera múltiplos ambientes”, explicou, ao apontar ainda o crescimento do segmento de grandes telas de LED, de quase 200 polegadas, voltadas para uso comercial, mas que têm tido penetração em residências.

CAPACITAÇÃO
Além das novidades e da tropicalização dos produtos, há outro movimento que proporciona um diferencial na atuação da LG no Brasil: a capacitação de profissionais. A companhia possui um centro de treinamento no bairro da Lapa, na capital paulista, com mais de 2.000 m². “É nossa academia”, afirmou o executivo sobre o espaço, que também é um showroom para parceiros. Ali, são treinados 10 mil instaladores por ano.
Para Fiani, o investimento em mão de obra fecha o ciclo que faz a marca da LG forte no Brasil. “Fabricamos, temos distribuição robusta e capacitamos, para ter um pós-atendimento eficaz.”
Essas três frentes formam uma tríade fundamental para a fabricante sul-coreana se manter relevante no mercado, enfrentar as atuais concorrentes e os players chineses que têm avançado no território brasileiro. “A operação verticalizada é um diferencial para encarar essa disputa”, afirmou o vice-presidente.
A parte de produção, aliás, é um capítulo à parte que a LG vai avançar e se fortalecer no país. A companhia já possui uma sólida infraestrutura industrial no Brasil, com uma planta em Manaus (AM), que produz televisores, monitores, notebooks e aparelhos de ar-condicionado.
E está construindo uma fábrica na cidade de Fazenda Rio Grande (PR), na Grande Curitiba, com investimento de R$ 1,5 bilhão, voltado para a produção de refrigeradores, máquinas de lavar e secadoras. A fábrica deve ficar pronta em meados do ano que vem e já está 40% concluída.
A LG visa se desenvolver no Brasil na chamada linha branca. No ano passado, quando esteve no país, Jae-cheol Lyu, presidente global de Home Appliance & Air Solution da LG, afirmou que o mercado brasileiro é muito importante para a LG, mas que a empresa ainda possui uma presença pequena no segmento de eletrodomésticos — o que deve mudar nos próximos anos.