A ofensiva chinesa que promete balançar o mercado delivery no País nos próximos anos

Com a entrada da gigante Meituan, um mercado concentrado e bilionário pode estar prestes a viver uma nova era de competição e inovação

Compartilhe:

Imagens: Divulgação

Meituan chega ao Brasil com 30 bilhões de entregas/ano e US$ 46 bilhões em receita, um concorrente de peso para o iFood

Meituan chega ao Brasil com 30 bilhões de entregas/ano e US$ 46 bilhões em receita, um concorrente de peso para o iFood

Por anos, o mercado de delivery brasileiro funcionou como um jogo de cartas marcadas. Dominado por poucos players — em especial pelo iFood, com cerca de 80% de participação —, o setor viu crescer a insatisfação de restaurantes e consumidores diante de altas taxas e pouca concorrência. Mas um novo e poderoso competidor está se preparando para embaralhar esse cenário. A chinesa Meituan, uma das maiores empresas de serviços sob demanda do mundo, acaba de anunciar sua entrada no Brasil e já provoca movimentações no ecossistema local.

O movimento não é trivial. Presente em mais de 2.800 cidades e responsável por processar cerca de 60 milhões de pedidos diários, segundo dados de 2023, a Meituan chega com o peso de um gigante que domina o jogo no competitivo mercado asiático. E traz na bagagem um arsenal tecnológico sofisticado — incluindo inteligência artificial aplicada à logística — e um modelo de operação que aposta em entregas ultrarrápidas, subsídios agressivos e políticas de incentivo para conquistar rapidamente tanto restaurantes quanto consumidores.

A escolha do Brasil como novo campo de atuação faz sentido. Estimado em R$ 40 bilhões para este ano, de acordo com a consultoria Statista, o mercado brasileiro de delivery segue em franca expansão. Uma pesquisa recente da NielsenIQ mostra que 82% dos consumidores urbanos utilizam aplicativos de entrega ao menos uma vez por mês — um índice que coloca o país como um dos mais promissores para serviços de conveniência digital. Mas é também um ambiente altamente concentrado, com espaço para disrupção.

“A entrada de players globais aumenta a pressão por inovação e concorrência saudável”, avalia Otavio Boari, CEO da mineira UaiRango, plataforma local de delivery. Para ele, a ofensiva chinesa pode gerar efeitos estruturais. “A adaptação cultural e os desafios logísticos nas cidades médias e pequenas exigirão uma curva de aprendizado relevante”, diz. E justamente nesses mercados fora dos grandes centros — onde a densidade populacional é menor e as relações comerciais são mais próximas — há um campo fértil para novas abordagens. “Não se constrói presença no interior só com capital ou tecnologia. É preciso entendimento local e construção de confiança”, reforça Boari.

Com sua expertise em personalização de serviços e um histórico de investimento pesado nos estágios iniciais de expansão, a Meituan deve apostar em um modelo mais descentralizado e competitivo. Embora ainda não haja uma data oficial para o início das operações, a gigante chinesa já estuda rotas de entrada e parcerias locais estratégicas, em busca de um posicionamento que vá além da guerra de preços.

Para os consumidores, isso pode significar entregas mais rápidas e tarifas mais atraentes. Para os restaurantes — muitos dos quais hoje operam com margens apertadas —, abre-se uma nova perspectiva de negociação e autonomia. E para o próprio mercado, um ciclo de inovação forçada que tende a redesenhar o mapa competitivo do delivery no país.

A ofensiva da Meituan não é só mais um investimento estrangeiro. É um sinal de que o Brasil, com seu apetite digital e suas complexidades logísticas, está entrando de vez no radar dos grandes ecossistemas de tecnologia da Ásia. Nos próximos meses, o jogo — que parecia dominado — promete ficar bem mais interessante.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

ASSINE NOSSA NEWSLETTER E
FIQUE POR DENTRO DAS PRINCIPAIS NOTÍCIAS DO MERCADO

    Quer receber notícias pelo Whatsapp ou Telegram? Clique nos ícones e participe de nossas comunidades.