O mundo precisa de informações. Independentemente da área em que atuamos, precisamos de dados claros e precisos para avaliar, ponderar e, então, tomar decisões. O sucesso ou o fracasso de qualquer empreendimento está intimamente ligado à disponibilidade de informações.
Mas, mais do que análises pontuais, precisamos olhar o todo: passado e presente. Com isso, podemos ter uma clara visão do que as empresas — e, de certa forma, a sociedade — podem enfrentar no futuro.
E uma excelente forma de fazer esse exercício é analisando os riscos, um trabalho que o setor de seguros faz há décadas, cuja eficiência já é comprovada. Afinal, trata-se de um segmento que precisa estar preparado para tudo; por isso, é imperativo antecipar possibilidades.
O Risk Barometer é um estudo produzido pela Allianz Commercial, que ouve empresários de todo o mundo sobre quais serão os riscos enfrentados ao longo do ano, trazendo um levantamento que inclui análises globais, regionais e por países, além de setoriais. Ou seja, é um grande raio-X do que poderá nos impactar.
Entretanto, muitas vezes não olhamos essas informações de forma crítica e ampla, só nos atentando a elas quando os riscos já estão batendo à nossa porta.
Basta fazermos um retrospecto desde 2020 para comprovarmos isso. Diversos riscos surgem em áreas do mundo, mas, por considerarmos “distantes” da nossa realidade, não nos atentamos apropriadamente. Ou seja, perdemos uma grande oportunidade de nos anteciparmos aos desafios, de forma a ganharmos capacidade de reação.
Por exemplo, os riscos relacionados ao desenvolvimento macroeconômico, influenciado fortemente pela inflação e por políticas monetárias, começaram a surgir já em 2022 nos rankings globais e europeus, mas só foram citados como uma preocupação no ranking das Américas em 2023.
Desde 2021, o ranking global mostra a preocupação com riscos políticos e violência, causados pela guerra na Ucrânia e instabilidades no Oriente Médio. Por aqui, esse tema apareceu apenas em 2023, refletindo a instabilidade no Peru, México, Brasil e os protestos violentos na região.
Talvez o exemplo mais emblemático sejam os riscos cibernéticos e as novas tecnologias. O assunto é a principal preocupação do mundo desde 2022, mas, nas Américas, só chegou ao primeiro lugar em 2024. Já o advento das novas tecnologias aparece nos rankings globais desde 2020, porém o tema entrou no ranking das Américas pela primeira vez neste ano.
Para se ter uma ideia, o Brasil — um dos países que mais sofrem com ataques cibernéticos no mundo — só incluiu as ameaças cibernéticas como o principal risco em 2025.
É verdade que temos algumas particularidades em comparação com o resto do mundo. Nossa região sempre teve uma preocupação muito grande com a mudança climática e os desastres naturais, tanto que esses dois assuntos sempre figuraram nos rankings de riscos, às vezes mais do que entre nossos amigos do outro lado do Atlântico. Assim como por aqui, eles também precisam estar atentos aos movimentos de outras regiões do mundo.
Contudo, eis aqui uma crítica importante: não basta sabermos e identificarmos os riscos se não nos anteciparmos e os mitigarmos.
Basta ver os casos recentes das enchentes no Rio Grande do Sul, que aconteceram em 2023 e 2024; os incêndios em diversos países, como Colômbia e Argentina; e os furacões no Caribe.
A boa notícia é que 2025 ainda está começando, e temos tempo de nos prepararmos. Temos plenas condições de implementar mudanças — seja dentro de companhias, governos etc. — de forma a conseguirmos lidar com os desafios que virão.
Conforme o Barometer deste ano mostrou, as questões relacionadas a incidentes cibernéticos (incluindo as novas tecnologias), catástrofes naturais e mudanças climáticas serão constantes em nossas vidas nas Américas, em especial na Central e na do Sul.
É verdade que, nas Américas, estamos um pouco atrasados no primeiro risco, mas temos larga experiência e conhecimento para superarmos os desafios relacionados aos outros dois.
A experiência adquirida nas crises econômicas, com alta de inflação e juros, capacitou-nos a lidar com qualquer desafio macroeconômico.
Por fim, podemos assumir um papel de protagonistas na crescente crise energética que atinge o mundo, aproveitando nossa ampla matriz renovável.
Em resumo, somos plenamente capazes de lidar com qualquer risco que bata à nossa porta, mas precisamos ficar atentos aos movimentos globais e regionais para não sermos surpreendidos.
*David Colmenares é CEO da Allianz Commercial na América Latina