Em tempos de trabalho hiperconectado, alta rotatividade e decisões aceleradas, um dado chama atenção: apenas 6% das empresas no mundo estão conseguindo avançar de maneira sólida quando o assunto é sustentabilidade humana — ou seja, gerar valor duradouro para todas as pessoas conectadas à organização. É o que mostra a nova edição da pesquisa Global Human Capital Trends 2025, conduzida pela Deloitte com quase 10 mil executivos e profissionais de RH em 93 países, incluindo o Brasil.
O recado é direto: quem ainda se apoia exclusivamente em métricas tradicionais ou posterga decisões estruturantes está colocando em risco seu futuro. “O cenário exige uma nova forma de liderar, trabalhar e medir performance. As empresas que entenderem que o ser humano é parte fundamental da equação de valor vão ter mais fôlego para evoluir e inovar”, afirma Ana Mocny, sócia da prática de Consultoria em Capital Humano da Deloitte no Brasil.
Entre os maiores dilemas enfrentados pelos líderes hoje está a tensão entre manter a estabilidade das equipes e responder com agilidade às mudanças constantes. O conceito de stagility — uma fusão entre estabilidade e agilidade — começa a ganhar força como resposta prática. Na teoria, quase todo mundo concorda. Na prática? Só 39% das empresas estão, de fato, agindo para encontrar esse equilíbrio.
A chave para avançar está na revisão das estruturas organizacionais: menos hierarquias rígidas, mais redes colaborativas. Adeus aos cargos fixos e aos planos de carreira imutáveis. “É preciso reconstruir as âncoras do trabalho”, diz Ana. “Valorizando a tecnologia, mas, acima de tudo, as pessoas como indivíduos únicos.”
Criatividade, IA e o fim do trabalho inútil
A revolução da inteligência artificial também traz um convite à reflexão: como usar a tecnologia para libertar — e não engessar — o potencial humano? A pesquisa mostra que 41% do tempo dos profissionais ainda é consumido por tarefas que não geram valor. Resultado: desmotivação, baixa produtividade e criatividade sufocada.
A saída? Criar espaços de folga útil — ou seja, momentos não programados para uso autônomo. “A eficiência não está em fazer mais, mas em fazer o que importa”, resume Ana. O estudo mostra ainda que só 22% das empresas são eficazes em simplificar rotinas. Um número que evidencia o tamanho da oportunidade.
Em um mundo impulsionado por IA e mudanças constantes, reavaliar a proposta de valor oferecida aos colaboradores é essencial. Isso inclui entender o que motiva cada pessoa, e não apenas os altos executivos. “Dados sobre motivações individuais são preciosos para criar estratégias mais eficazes de engajamento, retenção e performance”, afirma a especialista.
A principal mensagem da pesquisa é tão simples quanto poderosa: o futuro do trabalho exige decisões integradas, que alinhem resultados e pessoas. Não se trata mais de escolher entre performance ou bem-estar, mas de construir uma nova lógica de liderança, mais empática, adaptável e inteligente.
As organizações que conseguem esse equilíbrio não apenas sobrevivem — elas se tornam mais resilientes, inovadoras e sustentáveis. E esse movimento começa agora.