Até 2024, a Avell olhava para dentro, focando na revisão de processos, melhoria da produtividade, gestão de caixa e governança. Agora, a transformação da fabricante brasileira de notebooks de alto desempenho, com sede em Joinville (SC), é da porta para fora. Isso inclui o lançamento de um supernotebook considerado o mais potente do mercado nacional, ampliação do portfólio, entrada no setor de periféricos e novos canais de venda. Com tudo isso, a companhia mira um faturamento entre R$ 350 milhões e R$ 400 milhões, praticamente o dobro da receita de 2024, que fechou em R$ 213 milhões — a maior de sua história, 56% acima do ano anterior. É um resultado otimista. Publicamente, a projeção é mais cautelosa: faturar R$ 500 milhões em dois ou três anos.
“Executamos um plano de reorganização que deu muito certo. Colhemos frutos positivos no ano passado, com um crescimento bastante expressivo. Enquanto o mercado cresceu 4% em volume, nós crescemos 69%”, disse ao BRAZIL ECONOMY o CEO da Avell, Vladimir Rissardi.
O executivo chegou à empresa no fim de 2022, após 25 anos na BRF, para comandar as mudanças. A fabricante já vinha registrando crescimento relevante nos últimos anos, havia transferido sua fábrica para Manaus (AM) e precisava de uma gestão mais apurada. O fundador da Avell, Emerson Salomão, passou a presidir o conselho administrativo recém-criado, que ainda está em processo de maturação.
Internamente, também houve movimentação no time e na metodologia, que prepararam a companhia para seu novo momento de desenvolvimento. “Aumentamos o nível de exigência, remodelamos, trouxemos profissionais mais experientes, realocamos algumas pessoas em setores, lapidamos outras e recalibramos a força do time”, afirmou Rissardi.
A empresa passou a adotar uma política de pós-venda mais efetiva. “Aumentamos o nível de atendimento ao cliente. Resolvemos praticamente 99% dos problemas registrados no Reclame Aqui. Apostamos muito nessa relação de confiança”, explicou o executivo, que, além de humanizar o atendimento, utilizou os feedbacks para melhoria contínua dos processos internos.
Mais organizada, a Avell avançou em outras frentes. A ampliação do portfólio é uma delas, tanto para atender a uma parcela maior de gamers (seu público original desde a fundação, em 2004), com produtos de entrada e preços mais acessíveis — “em uma faixa de clientes que não atendíamos”, disse Rissardi — como também para ingressar no mercado corporativo. De 12 SKUs em 2023, a empresa encerrou 2024 com 24 produtos na prateleira.
As vendas diretas a outras empresas, aliás, são a grande aposta de crescimento para os próximos períodos. Essa linha de negócio representava 5% da receita até 2023 e agora já responde por 25% do faturamento da Avell. “São equipamentos de alta performance, com design diferenciado e precificação atrativa”, frisou o CEO, ao destacar que é uma das principais vias de expansão para este ano.

Outros 45% do faturamento vêm de profissionais que necessitam de máquinas potentes — como dentistas, médicos, engenheiros, arquitetos, desenvolvedores e videomakers —, enquanto 30% permanecem ligados ao público gamer.
PERIFÉRICOS
A Avell também ingressou no setor de acessórios, como monitores, ice mods, mouses, headsets e mochilas. “Esse é o setup que o notebook exige. Lançamos os produtos no fim do ano passado e estamos testando a aceitação”, afirmou o executivo.
Por enquanto, a produção é white label, mas, dependendo do desempenho, há possibilidade de produção própria. “Tem performado de maneira bastante satisfatória”, avaliou o CEO.
Expandir o canal de vendas é outra frente de atuação de Rissardi. Desde sua fundação, a Avell vende exclusivamente por meio de seu e-commerce. Agora, passará a atuar com pequenos revendedores. Grandes varejistas? Ainda não. A empresa prefere adiar essa decisão, já que HP, Samsung, Acer, Dell e Lenovo dominam esses canais.
“Mas começamos a estruturar um go to market diferente do que temos hoje”, salientou o executivo.
SUPERNOTEBOOK
A mais recente cartada da Avell para se diferenciar no mercado é o lançamento do supernotebook Storm 590X com processador Nvidia. Em vários modelos, a empresa é a única no Brasil a oferecer placas gráficas da série 50 da gigante norte-americana dos chips. “A máquina tem capacidade de memória de até 192 GB, o que é impressionante. Em termos de armazenamento SSD, oferece até quatro slots de 4 TB, totalizando 16 TB. É praticamente um servidor dentro de um notebook”, exemplificou Rissardi.
Em apenas cinco dias de maio, as vendas bateram a meta de todo o mês. O equipamento tem faixa de preço entre R$ 31 mil e R$ 45 mil, dependendo da configuração. “O conceito de produtividade justifica a viabilidade do investimento”, argumentou o executivo. “É uma máquina que vai produzir mais e gerar mais receita para quem a utiliza.”
Com os pés no chão, a meta é comercializar 50 unidades desse modelo em 2025. Alguém duvida?