Uma simples mudança na escolha de um produto de higiene pode ter impactos profundos — tanto para quem menstrua quanto para o planeta. Uma única calcinha menstrual tem vida útil de até 100 lavagens e substitui, em média, 400 absorventes descartáveis por ano. Isso representa não apenas uma economia de cerca de R$ 200 anuais para quem usa, mas também uma significativa redução de resíduos. No Brasil, onde 90% da população ainda usa absorventes externos, são descartados mais de 15 bilhões de unidades por ano.
Foi diante desse cenário que as empreendedoras Emily Ewell e Maria Eduarda Camargo decidiram fundar a Pantys, primeira marca de calcinhas absorventes da América Latina e a única do mundo clinicamente testada. Com forte compromisso ambiental e social, a empresa aposta em inovação, impacto positivo e na quebra de tabus que ainda rondam a menstruação.
“Quando percebi o movimento das calcinhas absorventes no mercado internacional, ficou claro que havia um espaço gigantesco para uma marca brasileira que unisse tecnologia, sustentabilidade e impacto social. Eu e a Duda (Maria Eduarda) decidimos então criar a Pantys, não só para oferecer um produto inovador, mas para transformar um mercado inteiro”, contou Emily ao BRAZIL ECONOMY.
Desde sua fundação, a Pantys tem colecionado números robustos. Embora não releve seus dados financeiros, a empresa garante que tem mais de 1 milhão de pessoas na comunidade e, em sete anos, a marca já evitou que cerca de 2,1 bilhões de absorventes descartáveis fossem descartados em lixões. Pioneira no País, foi também a primeira marca de moda a adotar uma etiqueta de carbono no Brasil e já reduziu suas emissões em mais de 14%.
O compromisso com a sustentabilidade não é discurso: toda a operação da Pantys funciona com energia solar, sem uso de combustíveis fósseis, e as peças são produzidas com tecidos biodegradáveis. A empresa carrega certificações como Sistema B, PETA, Eu Reciclo, ABVTEX e o Pacto Global da ONU. Além disso, mantém um programa próprio de logística reversa, o Pantys Circular, que permite que clientes devolvam peças absorventes usadas nas lojas físicas. Esse material, depois de descartado corretamente, é transformado em energia limpa — e quem participa ainda recebe R$ 10 de desconto na próxima compra.
Mas a atuação da Pantys vai além da sustentabilidade ambiental. Desde 2021, com o projeto Pantys Protest, a marca tem colocado o combate à pobreza menstrual como uma de suas principais bandeiras. Em 2024, a iniciativa ganhou ainda mais força com a campanha “Adote um Ciclo”, criada para ajudar as vítimas da catástrofe climática no Rio Grande do Sul.
Por meio de uma assinatura mensal, com valores a partir de R$ 12, qualquer pessoa pode doar para garantir acesso a produtos menstruais para mulheres e pessoas que menstruam em situação de vulnerabilidade. Até agora, a campanha já arrecadou R$ 124 mil e segue ativa. A expectativa é de que a ação impulsione também o crescimento da empresa, que projeta um aumento de 27% no faturamento em 2025.
“Nosso objetivo é não só expandir o negócio, mas principalmente ampliar a conscientização sobre a pobreza menstrual no Brasil e como isso impacta diretamente a dignidade de milhares de mulheres”, afirma Emily.
Liderança feminina
Apesar do crescimento acelerado, Emily admite que não foi fácil desbravar um mercado majoritariamente liderado por homens — especialmente no setor de higiene íntima e farmacêutico. “Tivemos muitas conversas difíceis, porque a maioria dos tomadores de decisão não entende a importância dessa categoria. Mas seguimos firmes no nosso propósito e, felizmente, vemos cada vez mais mulheres buscando marcas feitas por mulheres”, reflete.
A executiva acredita que o avanço da tecnologia e a força das redes sociais têm ajudado a acelerar discussões importantes sobre autocuidado, sustentabilidade e inclusão. “As mulheres estão, cada vez mais, no centro das decisões sobre seus próprios corpos. E nosso papel como empresa é fortalecer essa autonomia, oferecendo soluções sustentáveis, acessíveis e tecnológicas.”
A trajetória da Pantys prova que inovação e propósito podem (e devem) caminhar juntos. Com uma comunidade engajada, ações sociais consistentes e um modelo de negócio alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, a marca mostra que é possível construir um futuro mais justo, limpo e digno. Um ciclo que não se fecha — só se multiplica.