“Por que a gente, réis mortais, nunca teve acesso a bons investimentos?” A pergunta é retórica, mas Leonardo Coelho, CEO da Peak Invest, tem uma resposta na ponta da língua: “Porque os bancos sempre pegaram os melhores produtos para eles e nunca ofereceram para as pessoas.”
À frente da fintech Peak, instituição financeira autorizada pelo Banco Central, Coelho atua com um modelo de negócio que busca justamente reverter essa lógica. A empresa conecta investidores diretamente a ativos de crédito, com foco em empréstimos consignados a servidores públicos. “Hoje existem produtos seguros e rentáveis no mercado. O problema é que eles não chegam à ponta de forma clara e transparente”, criticou.
“O mercado financeiro é um mercado de tubarões. Lógico, eu não sou Robin Hood, mas eu acho que quanto mais a gente puder ajudar as pessoas do Brasil, melhor”, afirmou.
Com aproximadamente oito anos de existência e mais de R$ 1,2 bilhão transacionado, a Peak atua como uma ponte entre quem precisa de crédito e quem quer investir nesses ativos. “Temos licença para conceder crédito, seja para pessoa física ou jurídica, e oferecer isso, do outro lado, como investimento com lastro e segurança”, disse Coelho.
Segundo ele, toda a tecnologia da casa é proprietária, e a missão da fintech é entregar rentabilidade real ao varejo com base em ativos que antes ficavam restritos ao circuito institucional.
Apesar de atuar com um modelo que lembra o peer-to-peer lending, o executivo prefere não usar esse termo. “Hoje falamos em oferta de investimentos lastreados em ativos de crédito. Peer-to-peer virou sinônimo de promessa vazia, de produto de conto de fadas lá em 2017, 2018.” Para ele, a credibilidade da operação está no lastro e na capacidade de mostrar isso ao investidor com clareza.
“Nossa missão é mostrar que existem alternativas ao que é empurrado por bancos e assessores. Muitos brasileiros seguem presos ao CDI, à poupança, a produtos de risco elevado ou com retorno pífio, por falta de acesso e orientação”, afirmou.
Com mais de 65 mil clientes, a principal tese de investimento da Peak é o crédito consignado a servidores públicos, uma escolha estratégica baseada na estabilidade e na previsibilidade dos repasses. “O diferencial é que o investidor não depende de um empreendedor pagar o empréstimo. O dinheiro vem direto da fonte: União, Estado ou município”, disse.
Nesse modelo, o desconto é feito em folha, e o valor é repassado automaticamente ao credor. “Se o governo não repassar, configura apropriação indébita. Isso reduz muito o risco da operação”, afirmou o executivo. O principal risco, segundo ele, está em eventos extremos, como morte do servidor ou exoneração, algo raro dada a estabilidade do funcionalismo.
Com esse nível de segurança, a fintech consegue oferecer retornos bem superiores aos investimentos tradicionais, com taxas de mais de 30% ao ano. “Temos produtos que pagam o dobro da Selic”, afirmou Coelho. O segredo, segundo ele, está no tipo de lastro. “Você pode ter um imóvel como garantia, um título público, ou, como no nosso caso, a confiança de que o governo vai repassar a parcela.”
Além disso, a empresa vem ajustando o perfil dos investidores para garantir maior compreensão dos riscos e alinhamento com a proposta. “Percebemos que quem investe valores mais altos entende melhor o funcionamento do mercado. Por isso, elevamos o ticket mínimo nos últimos tempos.”
Mercado ainda em construção
A empresa começou a operar com uma carteira de cerca de R$ 3,5 milhões, e já soma cerca de R$ 50 milhões. A expectativa é fechar o ano superando os R$ 120 milhões. Apesar dessa escalada de crescimento, Coelho reconhece que ainda há um caminho a percorrer no Brasil para consolidar esse tipo de produto. “O custo de aquisição de cliente (CAC) nesse setor é alto. Leva tempo educar o investidor, explicar o funcionamento e provar que é possível investir com segurança e bons retornos fora do circuito tradicional.”
No centro da proposta, no entanto, está um conceito simples: o de devolver ao investidor comum a possibilidade de escolher melhor onde aplicar seu dinheiro. “A gente não quer reinventar a roda, só tirar o acesso do pedestal. Investimento bom não pode ser privilégio de poucos”, concluiu.