Quando olho para trás e vejo a trajetória que trilhei ao longo de mais de 25 anos no setor financeiro, é impossível não reconhecer o quanto essa caminhada foi marcada por desafios — mas também por conquistas que me enchem de orgulho. Ser mulher em um ambiente historicamente dominado por homens nunca foi simples. Mas foi justamente nesse cenário que encontrei a motivação para fazer diferente, construir novos caminhos e abrir portas para outras mulheres que, como eu, sonham em ocupar espaços de liderança.
Minha carreira começou em grandes instituições financeiras, e foram esses anos de atuação que me deram não apenas uma base sólida, mas também me colocaram frente a frente com uma realidade dura: a ausência de representatividade feminina em cargos estratégicos. Eu via mulheres extremamente competentes ao meu redor, mas que, muitas vezes, não recebiam o mesmo reconhecimento ou as mesmas oportunidades. E essa constatação me marcou profundamente.
Acredito que foi essa inquietação que me impulsionou ao empreendedorismo. Queria mais do que crescer dentro de estruturas já estabelecidas — eu queria participar da construção de algo novo, de um modelo de negócio que refletisse meus valores e minha visão de futuro.
Após mais alguns anos de trabalho — e da idealização de um projeto com pessoas que pensavam como eu (e que hoje são meus sócios) —, parti para a área do empreendedorismo. Os desafios foram muitos, mas a empreitada deu certo!
Quando assumi como CEO, sabia que o desafio era enorme. Estávamos no mercado financeiro, que, por natureza, é altamente competitivo, tradicional e ainda pouco aberto à inovação. Mas também enxerguei aí uma oportunidade: trazer uma abordagem digital, tecnológica e colaborativa, combinando a experiência de profissionais consagrados com soluções disruptivas. Apostamos em um modelo mais ágil, acessível e transparente — e foi essa estratégia que nos levou ao hall das grandes empresas de câmbio do Brasil.
Mas o que me dá ainda mais satisfação é ver que, junto com os resultados financeiros, conseguimos também promover mudanças culturais importantes dentro da empresa. Construímos um ambiente que valoriza a diversidade, incentiva a igualdade de gênero e acolhe diferentes perspectivas. Porque acredito, profundamente, que uma liderança forte se faz com pluralidade.
Ser mulher e líder no setor financeiro continua sendo desafiador. Ainda enfrentamos estigmas, julgamentos e estruturas que precisam ser repensadas. Mas, se tem algo que aprendi ao longo dessa jornada, é que a transformação é possível — e começa com atitudes concretas, com a coragem de questionar o status quo e com o compromisso de abrir caminhos para quem vem depois.
Hoje, uso minha voz e minha posição para fomentar o protagonismo feminino, não como um favor ou uma concessão, mas como uma necessidade estratégica e humana. Diversidade gera valor, e empresas que entendem isso não apenas evoluem — elas lideram o futuro.
Minha trajetória é, ao mesmo tempo, individual e coletiva. Ela carrega a força de muitas mulheres que vieram antes de mim e que lutaram para que eu pudesse estar aqui. E é por elas — e pelas que virão — que sigo adiante, com a convicção de que podemos, sim, transformar o mercado financeiro em um espaço mais justo, inovador e inclusivo.
*Daniela Marchiori é CEO da Frente, ecossistema de soluções financeiras e tecnológicas composta pela Frente Corretora, segunda maior corretora de câmbio do País, de acordo com o Bacen, FrenteTech, Frente USA, Simple e Comm.Pix