Quando o núcleo duro da Nomad se reúne para fazer o planejamento da fintech brasileira para os próximos cinco anos, mal se dá conta de que o período até 2030 é mais longo do que a atual trajetória de quatro anos e meio da empresa. “O melhor disso é que nos permite ser bastante ousados. Porque, se fizemos tudo isso em menos de cinco anos, é possível fazer ainda mais”, disse ao BRAZIL ECONOMY o CEO, Lucas Vargas, que define o atual momento da companhia como “Era 3”. Uma fase em que a Nomad se permite ousar, ao estabelecer a meta de 4 milhões de clientes em sua conta digital em dólar. Em 2023 eram 1,3 milhão; em 2024, fechou com 2,6 milhões e, neste mês, já está em 3 milhões. Aumentar a base para ofertar outros produtos financeiros é o modelo de negócio da Nomad, que tem avançado na disponibilidade de investimentos aos seus clientes, um dos mais recentes sendo a renda fixa dos Estados Unidos.
A “Era 1” da Nomad começou em 2021, ano de construção da solução, que desde o início visava oferecer uma conta digital em dólar para brasileiros, ao mesmo tempo em que propunha investimentos diversificados aos clientes — e só para clientes com conta aberta, é importante destacar.
A comunicação inicial da fintech foi toda baseada na viagem internacional dos brasileiros. Vai para os Estados Unidos? Abra uma conta na Nomad para facilitar sua vida. Esse era o mote. Mas houve um risco, acentuado pelo abre e fecha de aeroportos mundo afora, imposto pelas medidas de controle da pandemia da Covid-19. “As fronteiras só abriram de fato a partir de novembro de 2021, praticamente um ano depois que lançamos a Nomad. Então, o primeiro ano foi muito lento”, lembrou Vargas.
Os aportes recebidos até ali, em especial US$ 20 milhões da rodada Série A liderada pela Monashees e pela Spark Capital, em julho de 2021, mantiveram a companhia. Novas licenças de operação, contratações de especialistas em mercado regulatório, compliance e tecnologia foram os investimentos feitos para desenvolver a empresa e o produto.
Ainda parte da “Era 1”, o ano de 2022 “foi bom”, segundo o CEO da Nomad, que considera esse o primeiro ano de fato da fintech. “É o Ano 1”, disse. “O produto encaixou com o momento de mercado e acelerou.”
MAIOR TRAÇÃO
Em 2023 começa, então, a “Era 2”, de mais eficiência, com mais investimentos, aumento de portfólio e relação mais próxima com parceiros, o que, por um lado, é positivo, pois gera um leque maior de ofertas de produtos, mas, por outro, as margens são curtas por causa da divisão dos resultados com os parceiros.
Nesse momento, a abertura de contas ganha volume. “Mostramos ao mercado que temos tração e conseguimos ampliar competências que antes não tínhamos capacidade de executar”, frisou Vargas. “Conseguimos criar um modelo economicamente viável.” E a Nomad fecha o ano com um aporte de Série B no valor de US$ 61 milhões, liderado pela Tiger Global Management.
Já o período de 2024 foi de amadurecimento: conta em dólar estabelecida, licenças para viabilizar produto de câmbio, cartão emitido nos Estados Unidos, transferências e outras funcionalidades de instituição financeira.
Hora, então, de oferecer uma conta digital em dólar para brasileiros, ao mesmo tempo em que propõe investimentos diversificados aos clientes — e só para clientes com conta aberta. Essas frases já estão nesta reportagem, mas é exatamente isso que a Nomad vem fazendo: repetindo a fórmula que é seu DNA, aumentar a base de clientes para oferecer produtos diversificados dentro da própria base.
Mas agora com uma comunicação diferente ao mercado: é a “Era 3” da Nomad. Em vez de se mostrar como aquela plataforma que auxilia os viajantes com uma conta digital em dólar, visa se apresentar como uma fintech especializada em produtos de moeda forte. “Isso permite a expansão do posicionamento da Nomad”, disse Vargas.
RENDA FIXA
Essa fase é marcada pelo lançamento de um novo produto: a renda fixa americana. “Para um brasileiro que começa a ter um investimento lá fora, pensar em dolarizar parte de sua carteira, a renda fixa é o que mais faz sentido”, avaliou o CEO da Nomad.
Essa oferta também ocorre de maneira diferente. Antes, a companhia precisava de uma licença de corretora para operar nos Estados Unidos, como investment advisor. Agora, a fintech brasileira conseguiu uma licença para atuar de maneira mais direta, sem parceiros que ficavam com boa parte dos resultados. É uma espécie de independência da Nomad.
“A nova licença exige mais controles internos. Vamos internalizar certos processos, inclusive com um risk officer (diretor de risco), que prestará contas junto aos reguladores”, discorreu o executivo, focado em expandir esse segmento. “Precisamos de alguns officers nos Estados Unidos, construir time, processo, licença, produto e comunicação.”
Os produtos de investimento têm ganhado escala considerável. Eram 2% da base de clientes em 2023; hoje, são 10% dos clientes que investem a partir da plataforma da Nomad — maior percentual, em cima de uma base maior.
Nessa fase de evolução, tem sido possível lançar outros benefícios aos clientes, como o Nomad Trip. Dentro do aplicativo da fintech, as pessoas podem comprar passagens aéreas, reservar hotéis, alugar veículos e comprar ingressos para passeios e atrações no Brasil e no exterior. A plataforma ainda oferece monitoramento de preços e roteiros de viagem personalizados por meio de Inteligência Artificial.
Também criou a Nomad Chip, um pacote de dados de internet e telefonia internacional adquirido também pelo app da empresa.
Com esses avanços, a Nomad chegou ao breakeven em fevereiro pela primeira vez: tem feito caixa, para ser reinvestido. “Vamos crescer no negócio investindo nesse negócio de novo. O ponto de equilíbrio aconteceu antes do que imaginávamos, que seria no meio deste ano. As ações têm dado certo. Na verdade, temos que remar um pouco mais rápido, inclusive”, destacou o CEO.
Investimento, inclusive, na “Era 1”, de abertura de contas digitais em dólar, para fortalecer os produtos das “Eras 2 e 3”. “Vamos seguir crescendo nesses três blocos”, disse Vargas, rumo à “Era 4”, com a Nomad cada vez mais independente e ousada.