Juros altos derrubam confiança da indústria e geram cautela em empresários, diz CNI

O quadro é ainda mais preocupante quando se olha para a Utilização da Capacidade Instalada, que caiu para 69%, e para os estoques, que seguem abaixo do planejado

Paulo Pandjiarjian
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Imagens: Divulgação

Marcelo Azevedo, gerente de Análise Econômica da CNI, afirma que ainda há perspectivas positivas para 2025

Marcelo Azevedo, gerente de Análise Econômica da CNI, afirma que ainda há perspectivas positivas para 2025

A indústria brasileira pisou no freio. O segundo trimestre começou com produção em queda, estoques apertados e empresários segurando planos de expansão. A nova edição da Sondagem Industrial, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), acendeu o alerta: a intenção de investir caiu ao menor nível desde novembro de 2023. E não parou por aí — produção, emprego e expectativas também encolheram em abril.

O vilão? Ele mesmo, os juros altos, que seguem limitando o crédito, encarecendo financiamentos e travando o ímpeto de quem queria crescer. “Ainda há perspectivas positivas para 2025, mas elas não vão se sustentar se os juros seguirem nesse patamar”, disse Marcelo Azevedo, gerente de Análise Econômica da CNI, em entrevista exclusiva ao BRAZIL ECONOMY.

Os números falam por si. O índice de evolução da produção industrial fechou abril em 47,8 pontos, abaixo da linha dos 50 — que separa crescimento de retração. O emprego também deu marcha à ré, com indicador em 49,2 pontos, sinalizando redução no número de trabalhadores em relação a março.

O quadro é ainda mais preocupante quando se olha para a Utilização da Capacidade Instalada (UCI), que caiu para 69%, e para os estoques, que seguem abaixo do planejado. Na prática, isso significa fábricas operando aquém do potencial, sem conseguir alinhar produção à demanda.

Virada na dinâmica

A fotografia atual da indústria contrasta com o que se viu no mesmo período do ano passado. “Em 2024, tivemos um começo mais aquecido, com crescimento na produção e nas contratações”, lembra Azevedo.

Agora, o jogo virou. “Em 2025, o próprio mês de março já foi fraco, diferente do padrão dos últimos anos. E, com um março desaquecido, a comparação com abril naturalmente fica prejudicada. Isso muda toda a dinâmica do início de ano”, explica o economista.

Os dados foram levantados entre os dias 5 e 14 de maio, em uma amostra robusta que ouviu 1.492 empresas, de pequeno, médio e grande porte. O levantamento também mostra que, olhando para os próximos seis meses, o setor opera sob uma névoa de incertezas — e otimismo em queda.

Investir? Só com juros menores

A principal vítima desse ambiente é a disposição dos empresários em tirar projetos do papel. O índice de intenção de investimento caiu para 56,1 pontos, o menor desde novembro do ano passado. Só em 2025, o tombo acumulado é de 2,7 pontos, revertendo o ciclo de alta que embalou o final de 2024.

A leitura é direta: juros altos freiam investimento. “O crédito mais caro impede a expansão dos negócios, a modernização das plantas e até a contratação de mão de obra”, resume Azevedo.

A piora nas expectativas é generalizada. Caiu a previsão de demanda, encolheu a expectativa de compras de matéria-prima, de exportações e até de aumento no quadro de funcionários. Ainda assim, todos os indicadores seguem acima de 50 pontos, o que indica que o setor não entrou em clima de pessimismo absoluto — mas já opera no modo cautela.

O que esperar?

Se não houver alívio nos juros, o risco é ver 2025 se transformar em um ano de crescimento travado para a indústria. “O movimento já está acontecendo. As perspectivas positivas existem, mas estão claramente ameaçadas”, alerta o executivo da CNI.

O diagnóstico está dado. Enquanto o Banco Central não sinalizar cortes mais contundentes na Selic, a indústria deve seguir no compasso de espera — de olho no segundo semestre, que pode ser decisivo para virar esse jogo.

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