Nas crises surgem as oportunidades. A máxima do mercado valeu para Júlio Balbinot, Jocelei André Salvador e Marcelo Simon, que, durante a pandemia, foram dispensados da Marcopolo, multinacional brasileira fabricante de carrocerias de ônibus onde trabalhavam, e montaram uma empresa de serviços de engenharia de ônibus para companhias de vários países. Atenderam clientes da Inglaterra, Egito, Espanha, Índia e, claro, Brasil.
A partir disso e de um estudo sobre lacunas do setor logístico — especialmente para e-commerces, com forte pressão por políticas voltadas ao ESG —, perceberam que poderiam atuar em um projeto proprietário. Assim nasceu, em 2021, a Arrow Mobility, fabricante de vans elétricas com sede em Caxias do Sul (RS). Se o trio de empreendedores aproveitou uma crise em suas carreiras para inovar, agora eles exploram um momento que consideram positivo e, de forma estratégica, pretendem alcançar R$ 2 bilhões em vendas até 2029.
“Sempre nos colocamos desafios muito agressivos”, disse Marcelo Simon, cofundador e head de business da Arrow Mobility, ao BRAZIL ECONOMY.
Mas quem observa apenas a parte bonita da história e a projeção bilionária não vê os obstáculos e o trabalho que a companhia gaúcha já teve até aqui — e também o que terá pela frente para alcançar seus objetivos.
Com o conceito do veículo em mãos, os empresários foram buscar investidores e parceiros para a empreitada. Apresentaram a proposta para 150 companhias e pessoas que potencialmente poderiam embarcar no projeto. Receberam 149 “nãos” e um “sim”. Era o que precisavam.

A Unidas, posteriormente adquirida pela Localiza, empresa de aluguel de carros, entendeu o propósito e o negócio e ajudou a Arrow no início da operação, apoiando a fabricação das 20 primeiras unidades. Em seguida, após participarem da Fenatran, principal feira da América Latina no setor de transporte rodoviário de cargas, foram notados pelo Mercado Livre, que também fez pedidos de vans para a Arrow: inicialmente 20 veículos, depois mais 30.
Se uma gigante de entregas era bom, duas ficaram ainda melhores com a venda de unidades para a Amazon. Essas transações comerciais foram feitas pela To Do Green, que fornece para a companhia argentina e também para a americana em suas operações no Brasil.
Mas o que tem atraído a atenção de players globais tão importantes para uma fabricante de vans elétricas da Serra Gaúcha? “Temos um veículo diferenciado, com uma versatilidade ímpar. Cabe desde uma geladeira em pé até pacotes pequenos organizados em um sistema de prateleiras rebatíveis, que são deslocadas dependendo da carga”, afirmou Simon.
“Então, agrupa muito bem cargas volumosas ou objetos menores, para last mile, em 16 metros cúbicos de capacidade”, complementou o executivo. O veículo da Arrow ainda conta com o sistema walk-in van, que permite o acesso à área de carga por dentro do veículo, oferecendo mais segurança e praticidade durante as entregas.
A maioria dos componentes da van da Arrow são de fornecedores brasileiros, muitos do Rio Grande do Sul. Algumas peças, como a bateria, são importadas. “Estamos trabalhando para preparar os fornecedores do nosso ecossistema e aumentar cada vez mais a participação de itens nacionais no produto”, frisou o executivo. “O que importamos hoje é por falta de componentes no mercado brasileiro.”

CORREIOS
Além de Mercado Livre e Amazon, os Correios passaram a utilizar veículos da Arrow desde abril, mas em um projeto-piloto que visa à modernização da operação logística da empresa pública.
As vans elétricas estão sendo usadas para entregas urbanas, com o objetivo de aumentar a eficiência operacional, reduzir custos e emissões de carbono, além de melhorar as condições de trabalho dos operadores. A primeira etapa do projeto ocorre na cidade de São Paulo.
“Essa parceria com os Correios representa um marco importante para a logística urbana brasileira. Estamos oferecendo uma solução eficiente, segura e ambientalmente responsável”, disse Simon, que vislumbra expandir os negócios para outros países. As vans da Arrow, inclusive, já rodam na Argentina, com o Grupo Fenix.
CRESCIMENTO
No ano passado, a Arrow entregou ao mercado 48 vans. Neste ano, a projeção está entre 90 e 150 unidades, com a perspectiva de chegar a uma capacidade de montagem de 20 veículos por mês — 240 por ano. “Nossos investimentos são muito determinados pela nossa capacidade de vendas.”
Paralelamente à fabricação de vans elétricas, a Arrow já pensa em outras linhas de negócios, como uma locadora própria e outros serviços agregados, como oferta de motoristas. A ideia é testar e, em seguida, escalar. Assim, com tudo isso, espera atingir a ousada meta de R$ 2 bilhões de receita em quatro anos. Com menos crise e mais oportunidades.
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