Gripe aviária pressiona ações de BRF e embaralha fusão com a Marfrig

Nova crise sanitária pressiona papéis de frigoríficas e adiciona volatilidade a um momento de reestruturação no segmento

Fernanda Bompan
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Imagens: iStock

Confirmação do primeiro caso de gripe aviária em uma granja comercial no Brasil acendeu um sinal de alerta no mercado

Confirmação do primeiro caso de gripe aviária em uma granja comercial no Brasil acendeu um sinal de alerta no mercado

A confirmação do primeiro caso de gripe aviária em uma granja comercial no Brasil acendeu um sinal de alerta no mercado. O surto, identificado em Montenegro (RS), levou à decretação de emergência sanitária por 60 dias e já começa a afetar diretamente as ações de gigantes do setor, como BRF e Marfrig.

Ontem (19), as ações da Marfrig fecharam em baixa de 6,42%, a R$ 23,46 cada, assim como os papéis da BRF, que recuaram 1,35%, a R$ 20,50. Já a JBS apresentou alta de 3,06%, a R$ 40,09.

Segundo relatório do BTG Pactual, assinado pelos analistas Thiago Duarte, Bruno Henriques, Guilherme Guttilla e Gustavo Fabris, este é um divisor de águas no enfrentamento da influenza aviária no país. Desde 2023, o Brasil havia identificado o vírus apenas em aves silvestres. Agora, com o primeiro caso em produção comercial, os riscos econômicos aumentam — sobretudo no setor de exportações, que movimenta cerca de US$ 10 bilhões por ano apenas com carne de frango.

“O impacto de curto prazo será, com certeza, sentido”, afirmam os analistas do BTG. “A interrupção repentina das exportações de frango, que representam quase metade do fluxo total, deve impactar a capacidade dos produtores de capturar melhores preços e gerar algum desarranjo no fluxo de produto.” 

O banco calcula que as exportações de frango de estados e países afetados pelas proibições somam cerca de 42% do total nacional — o que representa um potencial impacto de até US$ 300 milhões por mês enquanto durarem as restrições.

Em um tom mais cauteloso, analistas do Banco Safra acreditam que o impacto inicial deve ser limitado, desde que o surto permaneça isolado ao Rio Grande do Sul. “No geral, esperamos novamente um impacto limitado de curto prazo nas exportações e nos preços domésticos, que pode se agravar caso o surto se multiplique e/ou não se limite ao estado”, escreveram. Entre as empresas que cobrem, a BRF é a mais exposta à carne de aves no Brasil — com cerca de 43% da receita ligada ao segmento —, enquanto a JBS responde por aproximadamente 6%. Ambos os papéis seguem com recomendação Outperform (desempenho acima da média), com JBS como principal escolha.

A BRF, diretamente exposta às exportações, viu suas ações despencarem após a notícia, ampliando a volatilidade que já vinha desde o anúncio da fusão com a Marfrig. De acordo com comunicado das empresas, com a operação, os acionistas da BRF passarão a ter 0,852 ação da Marfrig para cada papel atual — um movimento que gerou desconfiança entre investidores e penalizou os papéis da companhia.

A JBS, que atua com a marca Seara no segmento de frango, também pode sentir os efeitos do surto, embora sua exposição seja mais diversificada globalmente. Para o BTG, no entanto, as margens do setor estavam surpreendentemente fortes até agora, beneficiadas por um real mais fraco e demanda externa robusta. A expectativa era de que 2025 marcasse o início de uma normalização — algo que pode ser antecipado com o atual cenário sanitário. “Este pode ser apenas o início da normalização das margens de frango que vínhamos antecipando”, conclui o banco.

Já para Pedro da Matta, CEO da Audax Capital, o momento é de reforço na gestão de risco financeiro. “Mesmo eventos pontuais como esse têm repercussão global. Além da queda nos preços, muitas granjas devem buscar crédito emergencial para manter suas operações”, disse. A empresa lançou uma linha especial de financiamento para o setor, com foco em capital de giro e antecipação de recebíveis.

O receio do mercado é que o episódio seja usado por países como argumento para impor barreiras comerciais. A China, União Europeia, Canadá, Argentina e outros já anunciaram a suspensão completa da compra de frango brasileiro. Por outro lado, Emirados Árabes, Arábia Saudita e Japão limitaram as restrições à região afetada.

Com o setor de proteína animal sob pressão, a evolução dos desdobramentos sanitários deve seguir no radar dos investidores nas próximas semanas. Segundo o protocolo oficial, cada foco de gripe aviária exige 28 dias sem novos casos para que as exportações sejam retomadas — um cronograma que pode influenciar diretamente os próximos balanços das companhias do setor.

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