“Geração de oportunidades nos EUA já supera a do Brasil”, diz CEO da Zallpy Digital

Empresa brasileira aposta no Texas como base para a América do Norte e inaugura novo lounge no Cubo Itaú, em São Paulo, para fortalecer conexões estratégicas

Fernanda Bompan
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Imagens: Divulgação/Zallpy

Marcelo Castro: “Poderíamos prestar serviço do Brasil, mas ter presença física nos Estados Unidos gera credibilidade”

Marcelo Castro: “Poderíamos prestar serviço do Brasil, mas ter presença física nos Estados Unidos gera credibilidade”

Mesmo diante de um cenário político mais incerto nos Estados Unidos, a Zallpy Digital, empresa especializada em serviços customizados de desenvolvimento de software, soluções digitais, consultoria e outsourcing de TI, avança em sua estratégia internacional. A empresa quer se consolidar como fornecedora global de tecnologia, apostando em talento brasileiro, capital próprio e presença nos principais pólos de inovação.

Em entrevista exclusiva ao BRAZIL ECONOMY durante a inauguração do novo lounge da empresa no Cubo Itaú, em São Paulo, o CEO Marcelo Castro detalhou os desafios e oportunidades que a companhia enxerga no mercado americano e os próximos passos da operação.

Em janeiro de 2024, a Zallpy desembarcou nos EUA com o objetivo de estreitar relações com grandes marcas globais e demonstrar compromisso com o país mais competitivo do mundo em tecnologia. “Poderíamos prestar serviço do Brasil, mas ter presença física nos Estados Unidos gera credibilidade. O cliente vê que temos ‘skin in the game’”, afirmou Castro. A unidade fica dentro do complexo do Dallas Cowboys, equipe de futebol americano. 

Fundada com capital próprio e sem recorrer a rodadas de investimento externo, a Zallpy adota uma política de crescimento sustentada por margens “saudáveis”. Hoje, a empresa conta com mais de 700 colaboradores e deve atingir cerca de mil até o final de 2025. A operação americana tem sido determinante nesse salto. Segundo Castro, a geração de oportunidades nos EUA em 2024 já supera a do Brasil.

Com crescimento médio de 35% ao ano e Ebitda superior a 20% nos últimos dez anos, a companhia mantém uma política de investimento cautelosa, com foco em relações de longo prazo com clientes e talentos. “Todos os nossos clientes, desde o primeiro, continuam ativos. São contratos recorrentes, com novos projetos e manutenção”, afirmou.

A atuação no Texas se mostrou acertada. O estado é um dos mais pujantes dos EUA, com PIB comparável ao do Brasil inteiro, de acordo com o executivo. “O potencial de cada estado americano é tão grande que, muitas vezes, não faz sentido acelerar a expansão geográfica. Texas é uma aposta que segue se pagando”, disse.

Mesmo assim, a Zallpy já estuda abrir uma base em Miami, hoje um dos principais hubs financeiros dos EUA. “Muitas empresas têm levado seus escritórios de finanças para Miami, com incentivo do estado da Flórida. Como temos atuação no setor financeiro, pode fazer sentido estar lá”, comentou Castro.

Além de Dallas, a empresa tem unidades em São Paulo, Porto Alegre e Florianópolis e atende grandes marcas como BMW, ADP, TKE e Bunge.

O desafio do cenário político nos Estados Unidos

Questionado sobre o sentimento do empresariado local com a volta de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, Castro disse que há uma certa apreensão entre empresários. Mas, para ele, o sentimento predominante é de espera. “Há setores que estão se antecipando. Alguns clientes decidiram interromper a contratação de serviços de fora e pagar fornecedores apenas nos EUA, mesmo com vantagens tributárias que o Brasil oferece para exportação de serviços.”

O endurecimento na concessão de vistos de trabalho para estrangeiros também está no radar. “Há relatos de maior dificuldade desde dezembro. São vistos de trabalho, como o H1B (visto de trabalho temporário para profissionais estrangeiros), patrocinados por empresas. Isso sugere uma tentativa de proteger a mão de obra local”, afirmou.

Apesar desse ambiente de cautela, o investimento em tecnologia segue firme, conforme o executivo. “O empresário americano entende que, para enfrentar qualquer crise, o caminho é aumentar a produtividade. E a produtividade vem da tecnologia. Quem parar de investir agora vai estar atrás em dois anos”, disse Castro.

Essa mentalidade contrasta com a de muitos empreendedores brasileiros, segundo o CEO da Zallpy. “Aqui, o reflexo é segurar. Lá, é correr mais risco agora para colher depois. Eles pensam que é melhor colocar o dinheiro em um projeto de inovação do que deixar parado no banco.”

Com clientes também na Alemanha, França e Canadá, a Zallpy mantém foco total na operação americana. “Estamos presentes na Europa por meio do Brasil. Abrir um escritório lá exigiria um novo fôlego. Pessoas são nosso recurso mais importante”, afirmou. Uma nova base fora dos EUA, se acontecer, virá apenas a partir de 2027.

O Brasil, no entanto, tem se consolidado como parceiro confiável para empresas americanas, principalmente frente aos concorrentes da Índia e da China. “O time do brasileiro é muito favorável. O custo pode ser um pouco maior, mas é ‘barato o suficiente’ com uma qualidade muito superior”, resumiu Castro.

Segundo ele, os americanos são exigentes, mas valorizam a excelência. “Eles não contratam o serviço mais barato. Contratam o melhor serviço dentro de um bom custo. E cada vez mais percebem que o Brasil entrega isso.”

Esse movimento, na avaliação do executivo, tem mudado a percepção sobre os profissionais brasileiros. “No passado havia desconfiança. Hoje, já temos reputação construída. Trabalhamos com marcas mundialmente conhecidas. Não podemos divulgar todos os nomes por compliance, mas esses clientes funcionam como um cartão de visitas.”

Um passo por vez

Para manter o ritmo de crescimento sem perder o controle, a Zallpy aposta em “foco”. “Nosso plano é dar um passo correto por vez. Usamos recursos próprios para tudo. Não dá para estar em tudo ao mesmo tempo”, disse o CEO da empresa.

A companhia brasileira até recebeu convites para abrir uma unidade no Canadá, especialmente na região de Edmonton (Alberta), e mantém diálogo com a câmara de comércio canadense. Mas, por ora, a estratégia é atender o mercado canadense a partir de Dallas.

“Estando bem posicionado nos Estados Unidos, especialmente no Texas, conseguimos atender a América do Norte com eficiência. O mais difícil é ter gente boa e suficiente para fazer. Esse é o maior desafio do nosso setor”, afirmou.

Nova base no Cubo Itaú

Na quarta-feira (28), a Zallpy inaugurou um novo lounge exclusivo no Cubo Itaú e que funcionará como ambiente estratégico para workshops, roundtables, mentorias e reuniões com parceiros e clientes.

“Nosso posicionamento em hubs como o Cubo Itaú vai muito além de acelerar a transformação digital dos nossos clientes. Estar presente nesses ecossistemas é estar ao lado de quem promove o avanço da tecnologia na América Latina, compartilhando conhecimento prático e construindo conexões de valor com o mercado”, afirmou o CEO da Zallpy.

Fundado em 2015, o Cubo Itaú faz a curadoria de startups para conectá-las com grandes corporações, parceiros estratégicos e fundos de investimento com o objetivo de gerar negócios. Atualmente, mais de 500 startups fazem parte da comunidade, com soluções que atendem os mais diversos segmentos e que apoiam a solução de problemas reais da sociedade. 

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