André Barbosa construiu uma carreira marcada por altos voos no mercado financeiro. Depois de ter sido sócio da Toro Investimentos, onde liderou áreas estratégicas como investimentos e marketing digital e participou da venda da plataforma de investimentos para o Santander, ele anunciou em primeira mão BRAZIL ECONOMY seu novo passo: a gestão do patrimônio de Eugênio Mattar, ex-CEO da Localiza, sócio-fundador e atual presidente do Conselho de Administração da empresa.
“Acabo de formalizar com o Santander um waiver em relação à cláusula de non-compete justamente para ajudar o Eugênio na gestão da vida financeira dele. É um amigo de mais de 20 anos, com patrimônio bastante expressivo. E o banco entendeu que isso não representa concorrência direta com a Toro, que hoje é deles”, contou Barbosa.
A nova função marca um ponto de virada em sua jornada. “Já passei por praticamente todas as áreas do mercado financeiro: vendas, trading, marketing, comunicação, M&A, research. Agora, o desafio é atuar de forma muito mais dedicada e personalizada para uma única família. É outro tipo de responsabilidade”, disse.
Formado em engenharia mecânica, Barbosa entendeu ainda na faculdade que seu futuro estava em outro lugar. “Eu já sabia que queria atuar no mercado financeiro. Mesmo assim, terminei o curso antes de mudar de rota”, afimrou. O primeiro grande passo veio com o MBA em Finanças na norte-americana University of Notre Dame. Foi ali que surgiu a conexão com o Pactual — antes mesmo de ser BTG Pactual —, onde foi recrutado por Luiz César Fernandes como estagiário.
“Eles me disseram que eu poderia escolher qualquer área. Fui para a mesa de equities, onde estavam nomes como André Esteves, Paulo Guedes e Gilberto Sayão.” A experiência o levou a Nova York (EUA), à frente da carteira de clientes americanos e canadenses, e mais tarde ao cargo de chefe global de distribuição de renda fixa.
De volta ao Brasil, Barbosa foi o responsável por abrir o primeiro escritório regional do Pactual em Minas Gerais. Com o boom do mercado de capitais, coordenou IPOs de diversas companhias, incluindo a Localiza.
Depois da venda do Pactual ao UBS, passou a ser Chief of Staff do banco suíço no Brasil. “Com a saída do Esteves e a fundação do BTG, vários executivos tomaram rumos diferentes. Eu optei por ir com minha família para a Califórnia.”
Foi lá que, entre experiências como um mestrado em produção de filmes e TV, surgiu a oportunidade de retornar ao mercado por meio de uma conexão antiga. Eugênio Mattar o apresentou ao fundador da GPS Investimentos e ele assumiu como sócio responsável pela operação de Minas e Centro-Oeste, com uma carteira bilionária de clientes.
De investidor a líder na Toro
Mais tarde, já de volta a Minas, Barbosa foi chamado para ajudar a estruturar uma captação da então iniciante Toro Investimentos. “Fizemos uma Série A de mais de R$ 100 milhões. Entrei como investidor e, algum tempo depois, me juntei à empresa em tempo integral”, disse. Na Toro, acumulou os cargos de CIO e CMO, comandando desde o time de research até as premiadas estratégias digitais.
Foi sob sua liderança que a plataforma se tornou um caso de sucesso do setor, atraindo o interesse de gigantes. Após diversas negociações no Brasil e nos EUA, o Santander comprou a empresa — primeiro parcialmente, depois integralmente, em janeiro de 2024. “Foi uma jornada de transformação: pegar uma empresa pequena e levá-la a um patamar que despertasse o interesse de um dos maiores bancos do país”, afirmou.
Hoje, longe da operação diária, Barbosa reflete com gratidão sobre a trajetória. “Tive muita sorte de trabalhar com pessoas brilhantes. O maior aprendizado foi a humildade, saber que o mercado está sempre mudando e que a gente nunca sabe tudo.”
“Não é hora de pisar no acelerador”
Sobre sua especialidade, Barbosa comentou ao BRAZIL ECONOMY que, apesar das incertezas no Brasil e no exterior, ele acredita que existem sim boas oportunidades no mercado.
“A Bolsa brasileira está barata, tem valor a ser destravado. Mas isso não significa que o movimento vai acontecer agora. Pode ser esse ano, pode ser no ano que vem, ou mais adiante. O importante é estar posicionado, mas sem exageros”, afirmou.
Para ele, o cenário atual pede carteiras mais conservadoras e bem diversificadas, respeitando o perfil de risco de cada investidor. “Não dá para concentrar tudo e tentar acertar a mosca. É hora de espalhar os ovos, diversificar entre Brasil e exterior, olhar para ativos com correlação mais baixa, como ouro”, disse.
Além disso, ele reforçou que o momento de incerteza é passageiro, e que uma carteira bem construída deve estar pronta para se adaptar à medida que o cenário evolui. “Tem que acompanhar, fazer ajustes. A carteira de hoje não será a mesma de amanhã.”
O potencial do Bitcoin
Em relação ao Bitcoin, ele acredita que é um ativo “sensacional” para proteção patrimonial. “A oferta é limitada, a emissão é previsível e ele é imune à impressão descontrolada de moeda que está acontecendo no mundo todo”, explicou.
Na visão dele, o Bitcoin é comparável ao ouro. “Tem gente que chama de ouro digital, e eu concordo. A diferença é que o Bitcoin é mais prático de armazenar, transferir e fracionar. É um ativo global, com características que o tornam uma proteção interessante contra a inflação e a corrosão monetária.”
Apesar disso, Barbosa alerta para a volatilidade. “Não é para colocar uma fatia grande do portfólio. Mas uma alocação de 1% a 2%, para quem tem perfil moderado ou agressivo, pode fazer sentido. E pode, inclusive, ser a peça que mais contribui para a rentabilidade lá na frente.”
O especialista destaca que há projeções que apontam para o Bitcoin chegando a US$ 140 mil ou até US$ 150 mil ainda este ano, impulsionado pelo aumento da liquidez global. “Se a correlação histórica entre base monetária e o preço do Bitcoin se mantiver, essa alta é plausível. Mas, claro, ninguém tem bola de cristal. Por isso mesmo, a exposição tem que ser controlada e estratégica”, concluiu.