Em um mundo marcado por tensões geopolíticas, cadeias de suprimento frágeis e crescente disputa por matérias-primas críticas, a RHI Magnesita – união da austríaca RHI com a brasileira Magnesita – acredita que o Brasil está pronto para atender a demanda mundial por um dos minerais mais resistentes do mundo.
Com um investimento de R$ 541 milhões no maior forno rotativo da RHI Magnesita no mundo, localizado em Brumado, no interior da Bahia, a companhia, líder mundial na produção de refratários, contou ao BRAZIL ECONOMY sua ambição de ajudar a tornar a produção brasileira em uma alternativa relevante à China, hoje responsável por quase 60% no fornecimento mundial de magnesita, insumo essencial para diversas indústrias pesadas, como aço, cimento e vidro.
O movimento da RHI não é recente. A decisão de transformar a planta brasileira em uma das bases da estratégia global foi tomada há cinco anos. “Já víamos que o mundo caminhava para uma mudança estrutural, com maior regionalização das cadeias produtivas e crescente tensão entre potências. A nossa reestruturação antecipou essa realidade”, afirmou Gustavo Franco, Chief Customer Officer (CCO) da RHI Magnesita.
Na prática, isso significa uma reorganização do modelo de negócios. A companhia hoje opera com a filosofia do “local for local”: pelo menos 70% de tudo o que é vendido em uma região é produzido localmente. A mudança responde a múltiplos desafios, desde tarifas alfandegárias e custos logísticos até metas de descarbonização, mas também abre caminho para um crescimento mais sustentável e resiliente.
“Produzir localmente permite que a gente contribua mais com a economia local, com a geração de empregos qualificados e com o desenvolvimento de tecnologias mais sustentáveis, como a reciclagem dos refratários usados”, disse Wagner Sampaio, presidente da empresa para a América Latina.
A planta de Brumado é estratégica. A unidade concentra uma das maiores reservas de magnesita do mundo – o Brasil é o quarto maior detentor global do minério, atrás apenas de China, Coréia do Norte e Rússia – e, com o novo forno rotativo da RHI Magnesita – que conta com uma capacidade de 140 mil toneladas por ano, 152 metros de comprimento e 4,5 metros de diâmetro – ampliou em 30% a capacidade de produção de DBM (Dead Burned Magnesia), um dos principais produtos da companhia.
Outro diferencial da operação brasileira é a autossuficiência. Segundo os executivos, as reservas da RHI Magnesita em Brumado têm vida útil superior a 100 anos, o que garante estabilidade de fornecimento em um cenário global cada vez mais incerto. “Essa previsibilidade é um trunfo diante das restrições comerciais e dos choques logísticos que enfrentamos desde a pandemia”, disse Franco.
A competitividade da planta brasileira também foi colocada à prova recentemente. Pela primeira vez, a RHI Magnesita exportou magnesita processada no Brasil para a China. “Foi um marco simbólico”, disse o CCO da RHI. “Exportar para o maior produtor mundial mostra que podemos competir em qualquer mercado.”
De acordo com a empresa, a produção de matéria-prima (magnésia) em Brumado foi de 345 mil toneladas em 2023. A capacidade total de produção de produtos acabados na unidade é de 520 mil toneladas por ano.

O potencial não passou despercebido. Pela primeira vez o Brasil foi sede do MagForum, o qual o BRAZIL ECONOMY acompanhou com exclusividade. O evento – uma das principais conferências internacionais voltadas para a indústria de minerais refratários, com foco especial no magnésio e seus derivados, como a magnesita e a dolomita – aconteceu na Praia do Forte, na Bahia, e reuniu 120 executivos do setor. Nas palavras de Franco, o MagForum ter ocorrido em terras tupiniquins neste momento “não foi à toa”.“É o momento de falar sobre nós, porque estamos prontos para atender à demanda global. Temos as reservas de magnesita, investimos na capacidade produtiva e agora trouxemos gente do mundo inteiro para conhecer essa estrutura e debater a diversificação das cadeias”, disse Franco.
Durante o evento, os presentes foram questionados pelo executivo o que suas empresas estão fazendo para garantir acesso a matérias-primas críticas. A maioria respondeu: diversificação. “É isso que estamos oferecendo com o Brasil.”
Também para estimular o interesse do setor, a empresa contratou um avião para levar 70 pessoas, de diferentes países (como Austrália, Espanha e Estados Unidos) para conhecer a planta da RHI Magnesita em Brumado. O evento acontece hoje (22).
Mesmo com o avanço, o cenário segue desafiador. A companhia enfrentou um primeiro trimestre difícil em 2024, com demanda global enfraquecida, inflação persistente e juros elevados.
Segundo dados divulgados pela empresa, a dívida líquida da RHI Magnesita aumentou para 1,6 bilhão de euros (equivalente a R$10,2 bilhões) no primeiro trimestre de 2025, principalmente devido à conclusão da aquisição da Resco e ao pagamento dos 346 milhões de euros (R$ 2,2 bilhões) restantes da transação. O valor foi parcialmente financiado por um novo empréstimo sindicalizado de 200 milhões de euros (cerca de R$ 1,3 bilhão).
Ainda assim, a empresa mantém os planos de expansão e aposta na resiliência da operação latino-americana. “A gente espera que o resultado deste ano seja similar ao do ano passado, mas praticamente um ano de retomada. Quando a gente fala dos próximos anos, a gente tem convicção que a gente tem uma estratégia muito sólida, que a companhia tem potencial de crescimento. A gente não tem preocupação nenhuma no médio ou no prazo. Mas, de fato, 2025 é um ano difícil para a gente”, disse Franco.
Em 2024, a receita atingiu 3,5 bilhões de euros (equivalente a R$ 22,7 bilhões), uma queda de 2%, e o Ebitda ajustado atingiu 407 milhões de euros (R$ 2,6 bilhões), praticamente o mesmo de um ano antes.
A expectativa é que, com a retomada global e o fortalecimento de cadeias mais próximas, o Brasil ganhe protagonismo. Para isso, no entanto, os executivos defendem avanços estruturais no país e maior presença governamental. “A gente está pronto para liderar e não é só isso, o investidor está acreditando no Brasil. Mas precisamos muito que os governos entendam isso. Nós precisamos melhorar a infraestrutura para escoar a produção. A gente tem brigado bastante para mostrar ao governo a importância de manter as ferrovias operando, por exemplo. São os assuntos que, de fato, tornam aquela produção viável”, disse Sampaio.
Na visão dos executivos, a RHI Magnesita quer ser vista não apenas como fornecedora de produtos industriais, mas como agente ativo de transformação nas regiões em que atua. “Quando investimos em Brumado, investimos também na educação, na infraestrutura e no futuro da comunidade. Porque garantir acesso a matérias-primas críticas não é só uma questão de segurança industrial, é uma questão de desenvolvimento”, concluiu Sampaio.