Em tempos de incerteza, como garantir bons dividendos? Pedro Galdi, do AGF, explica

Levantamento feito ao BRAZIL ECONOMY aponta os setores e ações que oferecem dividendos acima de 7% ao ano

Fernanda Bompan
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Imagens: Divulgação

Pedro Galdi assumiu o cargo de analista de investimentos da plataforma AGF no mês passado

Pedro Galdi assumiu o cargo de analista de investimentos da plataforma AGF no mês passado

Com base em dados da Economática, Pedro Galdi, o novo analista de investimentos da plataforma AGF, realizou um levantamento para o BRAZIL ECONOMY que aponta quais são as ações que, mesmo diante de uma taxa de juros (Selic) elevada e de um cenário macroeconômico incerto, apresentam retornos mais competitivos frente à renda fixa em uma estratégia de mais longo prazo.

O estudo fez uma pesquisa do dividend yield (DY) médio (relação entre dividendos pagos e preço da ação) entre 2023 e 2024 das principais companhias analisadas dentro da metodologia de Luiz Barsi, o chamado “rei dos dividendos” – também conhecido como o Warren Buffett brasileiro. O modelo, chamado de BEST (sigla para bancos, elétricas, saneamento/seguridade e telecom), reúne os setores que, na visão de Barsi, garantem rentabilidade mesmo em tempos de crise que é o que vivemos agora.  

Conforme o levantamento, entre as instituições financeiras, o Banco do Brasil se destacou com o maior rendimento médio de dividendos na média dos últimos dois anos, com uma taxa de 9,5%. 

Galdi explicou que apesar de seu perfil estatal — e dos riscos de ingerência política que isso pode trazer —, a avaliação é de que  o desconto nas ações em relação ao valor patrimonial compensa o risco. “Hoje, o papel é negociado a 0,80 vezes o valor contábil. E continua sendo o maior pagador do setor”, afirma.

Em seguida, aparecem Bradesco, com uma média de dividend yield de 8,6%, depois Banrisul, com 8,3% e Santander, com 6%. 

Já o Itaú nesta base de comparação tem média bianual de 5,8%. Contudo, a taxa em 2024 foi de 7,86%. “Se a média de 2024 se repetir, o Itaú não vai decepcionar. Mas o investidor tem que entender o risco de depender de um fluxo de dividendos irregular”, afirmou. A média do setor no período comparativo é de 7,6%.

Elétricas: setor estável e com altos rendimentos

No setor de energia elétrica, o destaque foi a Cemig, com yield médio de 11,6% nos últimos dois anos, atuando como geradora, transmissora e distribuidora.

Outras empresas de energia e seus DYs médios (2023-2024):

  • Taesa: 9,2%
  • CPFL Energia: 8,1%
  • Engie: 7%
  • Neoenergia: 5,6%
  • Alupar: 5,4%

Segundo Galdi, as transmissoras são o “filé mignon” do setor por sua receita contratada e menor exposição a riscos operacionais. “Elas só transportam energia, sem os riscos de geração ou atendimento direto ao consumidor final. São ativos quase blindados”, disse.

No setor de seguridade, BB Seguridade e Caixa Seguridade, com médias de 8,8% e 7,7%, respectivamente, também mostraram consistência nos pagamentos. A média do segmento entre 2023 e 2024 foi de 8,3%

Segundo Galdi, o modelo de negócios dessas empresas — com alto payout e baixa necessidade de reinvestimento — favorece a distribuição constante de proventos. “São empresas que distribuem cerca de 90% do lucro. E como não exigem muito Capex, a lógica de dividendos altos se sustenta”, afirmou.

Saneamento: Copasa lidera pagamentos; Sabesp entra no radar

No setor de saneamento, a Copasa foi a que apresentou o maior rendimento médio de dividendos, com 13,7% entre 2023 e 2024. Sanepar veio em seguida, com 5,7%. Já a Sabesp — mesmo sendo considerada a maior e mais promissora do setor — teve um yield de apenas 1,7% no mesmo período. “É um retorno ainda muito aquém do potencial. Vamos ver se muda a cabeça deles”, comentou Galdi. 

Ele lembra que a Copel, por exemplo, anunciou recentemente uma nova política de dividendos que pode elevar seus pagamentos aos acionistas, e acredita que a Sabesp pode seguir um caminho semelhante, especialmente após a privatização. “A Sabesp é uma gigante e deve crescer ainda mais, inclusive adquirindo concessões em outras regiões do Brasil. Não dá para ignorá-la. Mas, por enquanto, sua política de remuneração ainda não é atrativa. É um caso para acompanhar de perto.”

Galdi também destacou que o modelo de distribuição de dividendos varia entre as empresas. “A legislação obriga o pagamento de 25% do lucro líquido ajustado, mas há companhias que adotam fórmulas alternativas. A Vale, por exemplo, utiliza uma abordagem baseada no Ebitda ajustado pela dívida, o que garante um yield acima de 10%. A Petrobras segue lógica semelhante. Não fazem parte do BEST, mas ajudam o investidor a entender como diferentes modelos de distribuição impactam no retorno.”

Em relação a telecom, a Vivo tem uma taxa de 6,1% e a Tim, de 4,9%, sendo a ponta mais sensível entre os segmentos pertencentes ao modelo de investimento de Luiz Barsi.

Cenário esperado para os juros

Com o cenário atual de juros reais ainda elevados, Galdi reforçou a importância de disciplina na alocação em ações. “A renda fixa também tem risco. Você pode sair de uma ação sólida e entrar num CDB (Certificado de Depósito Bancário) duvidoso. É preciso ter estratégia e pensar no longo prazo. O que faz sentido é buscar papéis com dividendos consistentes e manter a convicção”, disse.

Na avaliação do analista do AGF, o cenário de juros não deve mudar drasticamente em 2025, com cortes mais consistentes ficando para 2026. Isso mantém o apelo de ativos que entregam dividendos acima de 7%, com potencial de valorização adicional no médio prazo.

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