Luiz Fernando Figueiredo trocou as planilhas financeiras pela filantropia. Ex-diretor do Banco Central e atual chairman JiveMauá, um dos nomes mais respeitados do mercado financeiro, ele hoje se dedica quase que integralmente ao Fefig, organização social criada com o objetivo de combater o analfabetismo na primeira infância por meio de uma atuação direta nas escolas públicas.
“Minha atividade principal é o instituto. A Jive, eu trabalho em torno de um dia por semana. Depois eu tenho outras empresas que eu tenho investimento, que eu também ajudo, faço algum tipo de mentoria. Tenho um pé no mercado, acompanho o tempo todo, mas o meu foco mesmo é o instituto. Foi uma transição maravilhosa, tanto profissional quanto pessoalmente. Nada é mais recompensador do que ver o impacto direto que podemos gerar”, disse Figueiredo ao BRAZIL ECONOMY.
O instituto acabou de completar 7 anos de existência. Ele foi fundado como uma forma de homenagear e preservar a memória do filho de Figueiredo, Luiz Felipe Figueiredo, vítima de câncer aos 23 anos.
O foco é promover programas e ações que incentivam e instrumentalizam a melhoria da aprendizagem dos estudantes, formação de professores e gestores e fornecimento de materiais e estratégias de gestão e pedagógicas, com objetivo de transformar a educação pública e impactar positivamente milhares de crianças e adolescentes.
O Fefig já alfabetizou mais de 250 mil crianças em escolas públicas de todo o Brasil. Em 2024, a iniciativa impactou 88 mil estudantes em mais de 50 municípios, com base em uma metodologia que une formação de professores, avaliação com dados e mobilização das famílias. Para este ano, o plano é chegar a 100 mil crianças atendidas, ultrapassar a marca de 80 municípios participantes e alcançar até 85% de eficácia no processo de alfabetização.
“Na alfabetização, queremos passar de 75% para perto de 85% das crianças plenamente alfabetizadas. Nossa meta lá na frente é atingir 90% ou mais”, disse o fundador do instituto em entrevista ao BRAZIL ECONOMY. Os dados são apurados com base em avaliações regulares, feitas com todos os alunos no início e no fim do ciclo, o que permite medir com precisão o impacto das ações. “É isso que interessa no fim do dia: se estamos de fato mudando a trajetória dessas crianças”, afirmou o ex-diretor do BC.
Além da alfabetização, outro foco central do instituto está na primeira infância. Em vez de priorizar o número de vagas em creches, o projeto se dedica ao desenvolvimento integral das crianças. “A nossa preocupação é quantas estão se desenvolvendo, com coordenação motora fina, com estímulo adequado para que estejam prontas para aprender a ler e escrever. É um olhar diferente, com base em dados, que ajuda a identificar e superar gargalos desde cedo.”
A atuação do Fefig também envolve articulações com governos municipais e parceiros privados. Atualmente, o projeto conta com cinco grandes parcerias regionais, entre elas com o Instituto Natura — juntos, eles atuam em municípios do Tocantins.
Ceará, Pernambuco, Amazonas, Piauí, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina são alguns dos estados citados como exemplos positivos.
Esse modelo de “contágio do bem”, como define o fundador, tem se mostrado eficaz. “Começamos em cinco municípios na Bahia. Os resultados foram tão positivos que 21 outros vieram nos procurar. O prefeito vê que a alfabetização está avançando, que a popularidade dele melhora, e quer entrar também. É uma corrente virtuosa”, disse.
Recursos provenientes de diversas fontes
A estrutura de financiamento da organização é múltipla. Os recursos vêm tanto de pessoas físicas, que doam regularmente ou esporadicamente, quanto de empresas e instituições financeiras. “Temos embaixadores, voluntários, um comitê de inovação e muitos parceiros que ajudam com serviços ou apoio financeiro. Alguns contribuem mensalmente, outros uma vez por ano. Há empresas que oferecem apoio jurídico, por exemplo, e fazem isso sem custo, todo mês”, contou.
“Eu já fui responsável por 100% do orçamento do Instituto. Hoje sou entre 30% e 40%. Minha meta é chegar a 10%, mas não diminuindo minha contribuição — e sim aumentando o orçamento total. Isso significa mais impacto, mais crianças atendidas”, explicou Figueiredo.
Além disso, o instituto realiza eventos periódicos — o próximo acontece em 29 de maio — sempre com uma proposta diferente. “É muito mais do que um evento para captação. É para engajar, inspirar, mostrar o que estamos construindo. Vamos ter artistas performáticos e experiências novas”, disse o chairman JiveMauá, com entusiasmo.
Visão empresarial para o terceiro setor
Figueiredo acredita que seu background empresarial ajudou a moldar a filosofia da Fefig. “Somos uma organização com mentalidade empresarial. Não basta gastar dinheiro — temos que impactar. E temos uma governança sólida para garantir isso.”
A métrica principal do Instituto é clara: número de crianças alfabetizadas com qualidade. “É como se fosse nosso ‘lucro’”, brinca o fundador. “E a transparência é total: se alguém doa R$ 100, mostramos exatamente quantas crianças foram impactadas com aquele valor”, afirmou.