Criador de bancos: “Concentração bancária é nociva à economia”, diz Wagner Moraes, da A&S

Nos últimos três anos, a companhia tem focado seu trabalho em criar bancos para grandes empresas. Foram nove desde 2022, e outros seis estão em desenvolvimento

Compartilhe:

Imagens: StockPhotos / Divulgação

Segundo levantamento da A&S, o número de fintechs no Brasil cresceu de 1.158 em 2020 para 2.048 em 2025

Segundo levantamento da A&S, o número de fintechs no Brasil cresceu de 1.158 em 2020 para 2.048 em 2025

“Concentração bancária é bastante nociva à economia.” A frase de Wagner Moraes, CEO da A&S Partners, proferida ao BRAZIL ECONOMY, não é uma novidade no mundo financeiro. Mas torna-se mais significativa quando dita por alguém que está no mercado há mais de 30 anos — e que, nos últimos três, tem focado seu trabalho em criar bancos para grandes empresas. Foram nove desde 2022, e outros seis estão em desenvolvimento.

A concentração criticada pelo executivo de fato existe. O mais novo relatório do Banco Central aponta que os quatro maiores bancos do país — Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal e Itaú — detêm 57,9% das operações de crédito.

“Essas instituições estão com uma régua de crédito muito acima, o que dificulta o acesso a linhas de crédito mais confortáveis para novos empresários, pequenos negócios e médias companhias”, disse Moraes. “Isso interfere no crescimento do Brasil.”

Esse é um dos argumentos que o CEO da A&S Partners tem levado a potenciais clientes — geralmente empresas que faturam mais de R$ 3 bilhões por ano, com uma base acima de 10 mil funcionários e centenas, quiçá milhares, de clientes. “Uma volumetria para a conta fechar”, alertou.

Essa nova linha de negócios tem se destacado na empresa, que se intitula uma consultoria boutique que “conserta e cria negócios”. Os outros nichos de atuação são M&As, perícias e securitização. Mas é a criação de bancos que tem sido o “propósito de vida” de Moraes.

Um propósito que também traz vantagens financeiras. “Os últimos três anos têm proporcionado a melhor fase da minha carreira”, comentou, sem revelar o faturamento da A&S.

Wagner Moraes, CEO da A&S: “Atuamos mais como venture builder”
Wagner Moraes, CEO da A&S: “Atuamos mais como venture builder”

Em uma parte do processo de criação de bancos para empresas em seus ecossistemas fechados, a A&S funciona como uma provedora de BaaS (Bank as a Service) tradicional. Com diversos parceiros que oferecem as ferramentas adequadas às demandas de cada cliente, a companhia se diferencia por atuar como consultoria, permitindo que, nas fases seguintes, o banco se torne um operador legalizado junto ao Banco Central.

“Atuamos mais como venture builder”, definiu Moraes, ao explicar a montagem da arquitetura estratégica da instituição financeira a ser criada, com conta digital, maquininha de cartões, cartão de débito, operações de crédito e outras soluções características de bancos digitais. Todo o processo leva de sete a doze meses para ser implementado.

ARGUMENTOS

E, para convencer os potenciais clientes a criarem seus próprios bancos, Moraes explora alguns outros argumentos. Segundo ele, o conhecimento do perfil dos funcionários e dos fornecedores permite que o negócio seja de “risco zero” e uma grande oportunidade para oferta de produtos como crédito, adiantamentos e gerenciamento de folha de pagamento.

“Com um bom volume de operações, essa estrutura se torna rapidamente rentável”, afirmou o executivo, com experiência como diretor, CFO e comandante de empresas como Sterno Securitizadora de Créditos, Grupo Palma, Rede Tendência, Audi Química, Drogaria Onofre, Camicado e Lojas Marisa, antes de fundar a A&S em 2016.

Além de reduzir gastos com operações financeiras e gerar rentabilidade interna, Moraes destaca outro ponto positivo na criação de bancos próprios pelas empresas: o aumento do valuation.

Segundo o executivo, a precificação média de mercado para fintechs está em torno de R$ 1.800 por cliente. Para as mais nichadas, gira em torno de R$ 1.200. “Isso significa que, se uma empresa conseguir trazer para dentro de sua estrutura um banco com uma base de 100 mil colaboradores, ela está construindo um valor de mercado de cerca de R$ 120 milhões, no mínimo”, disse.

“Isso traz uma alavanca forte de construção de valor que hoje as grandes empresas não capturam”, afirmou Moraes, apontando a regulamentação do Open Banking pelo Banco Central, a partir de 2020, como um fator fundamental para a evolução desse mercado de novos players.

Segundo levantamento da A&S, com base em análises regulatórias do setor, dados do Banco Central e de entidades setoriais como a Associação Brasileira de Crédito Digital (ABCD), o número de fintechs no Brasil cresceu de 1.158 em 2020 para 2.048 em 2025 — um aumento de 77%. “E a projeção é que ultrapasse 3.000 até 2027”, pontuou o CEO.

O investimento para montar o banco varia entre R$ 7 milhões e R$ 13 milhões, dependendo da estrutura, segundo Moraes. Um custo baixo diante de um negócio rentável e com potencial de valorização, segundo o executivo.

Um dos clientes da A&S que já montou seu banco é do setor educacional, com cerca de 40 filiais, 15 mil funcionários e 500 mil alunos. “A folha de pagamento foi trazida para dentro e passaram a oferecer crédito consignado aos colaboradores, que a empresa já conhece. É um dinheiro mais inteligente, com uma taxa muito menor, que se reverte em benefícios para as pessoas e para a economia”, salientou Moraes.

Vale lembrar uma declaração atribuída a Bill Gates em meados da década de 1990 ganhou destaque: Banking is necessary, banks are not. Algo como, “A atividade bancária é necessária, os bancos não são”. É nisso que a A&S tem apostado. “As empresas estão acordando para essa realidade agora”, afirmou Moraes.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

ASSINE NOSSA NEWSLETTER E
FIQUE POR DENTRO DAS PRINCIPAIS NOTÍCIAS DO MERCADO

    Quer receber notícias pelo Whatsapp ou Telegram? Clique nos ícones e participe de nossas comunidades.