Contra o desperdício, com lucro e propósito, Food To Save prevê entregar R$ 170 milhões

Saiba como a empresa está revolucionando o mercado de alimentos no País diante do amadurecimento dos hábitos de consumo dos brasileiros

Bruna Magatti
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Imagens: Matheus Toledo/Divulgação

Lucas Infante, CEO e cofundador, afirma que alcançou 5 milhões de downloads no app e 8 mil parceiros no ano passado

Lucas Infante, CEO e cofundador, afirma que alcançou 5 milhões de downloads no app e 8 mil parceiros no ano passado

Por trás das famosas “sacolas surpresa” que viraram febre nas redes sociais está uma ideia simples, mas poderosa: combater o desperdício de alimentos sem abrir mão da rentabilidade. “Mostramos que é possível aliar propósito a uma causa global urgente sem deixar de lado os resultados financeiros”, afirma Lucas Infante, CEO da Food To Save.

A startup brasileira, que conecta consumidores a estabelecimentos com alimentos próximos da validade, acaba de dar mais um passo importante em sua trajetória. Com a aquisição da plataforma Fruta Imperfeita, especializada em frutas e legumes que não atendem ao “padrão estético” do mercado, a empresa se prepara para atingir uma receita de R$ 170 milhões em 2025 — e consolidar seu espaço como referência nacional em combate ao desperdício.

O tamanho do desafio é colossal. Cerca de 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são desperdiçados por ano no mundo — um terço de tudo o que é produzido. Esse volume consome 2,5 quintilhões de litros de água e custa cerca de US$ 750 bilhões por ano, segundo a ONU. Só no Brasil, são desperdiçadas 46 milhões de toneladas, o equivalente a R$ 40 bilhões.

Foi diante dessa realidade que Lucas Infante teve um estalo. Em 2020, durante a pandemia, ele era franqueado do Carrefour Express na Espanha e se chocou com a quantidade de comida boa descartada por pura falta de previsibilidade. No fim daquele ano, decidiu voltar ao Brasil para testar um modelo que já conhecia da Europa: um marketplace para vender excedentes de restaurantes, padarias e supermercados — alimentos ainda próprios para o consumo, mas que, por regra, não poderiam ser reaproveitados no dia seguinte.

O nascimento da Food To Save

Lucas convidou Murilo Ambrogi, amigo e ex-colega de trabalho, para embarcar na ideia. Logo se juntaram à dupla Fernando dos Reis (COO) e Guido Bruzadin (CTO). Assim nasceu a Food To Save, um aplicativo que conecta consumidores a estabelecimentos com produtos próximos do vencimento ou com pequenas imperfeições.

A mecânica é simples: os lojistas montam “sacolas surpresa” com produtos que seriam descartados, e os consumidores compram esses pacotes com até 70% de desconto — sem saber exatamente o que vão receber. A experiência virou febre nas redes sociais, com vídeos de unboxing e comentários sobre o que veio na sacola da vez. O mistério, combinado à economia e ao propósito, tornou-se a grande sacada da marca.

Hoje, são mais de 9 mil estabelecimentos parceiros e 6 milhões de usuários cadastrados. A empresa já evitou a emissão de mais de 10 mil toneladas de carbono — e alimentou milhares de pessoas.

Mudança cultural como motor de crescimento

A maior barreira, segundo Lucas, é cultural. “Desde o início, nosso maior desafio foi mostrar que alimentos fora do padrão ou perto da validade ainda são seguros e bons para o consumo”, explica. Em um país onde a estética dos alimentos muitas vezes vale mais que o sabor ou a qualidade, mudar essa mentalidade exige educação e persistência.

“Precisamos ensinar que desperdício é, muitas vezes, uma escolha — e que há alternativas”, diz o empreendedor. “Hoje, os consumidores estão mais atentos. Querem marcas alinhadas com valores ESG, que entreguem propósito junto com o produto.”

Olhar para o futuro — com investidores a bordo

A proposta da Food To Save já atraiu atenção de investidores. Em 2023, a empresa captou R$ 14 milhões em uma rodada liderada pela DSK Capital, com participação dos fundos Spectra, HiPartners e do Grupo Trigo (controlador do Spoleto, China in Box, entre outros). Nomes de peso como Paulo Camargo (ex-presidente do McDonald’s Brasil), João Branco (ex-VP de marketing da rede) e João Galassi (presidente da Abras) também apostaram na ideia.

Com o caixa reforçado, a foodtech quer acelerar a expansão e ampliar sua presença nas 12 capitais onde já atua, como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Curitiba e Recife — além de entrar em novas cidades.

Uma aquisição estratégica

A mais recente cartada da startup é a compra da Fruta Imperfeita, que compartilha a mesma missão: combater o desperdício, agora atuando também no início da cadeia produtiva. A meta é ambiciosa: salvar 7 mil toneladas de alimentos em 2025.

“A Fruta Imperfeita sempre foi uma referência. Compartilhamos os mesmos valores e, ao longo da conversa com o Roberto Matsuda [fundador da Fruta Imperfeita], ficou claro que podíamos construir algo maior juntos”, diz Lucas. A união das operações fortalece a proposta da Food To Save e a aproxima ainda mais de seu objetivo: transformar a forma como o Brasil lida com seus alimentos — do campo até a mesa.

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