Estratégia está no DNA da Kuehne+Nagel desde que a empresa foi fundada na Alemanha, em 1890, por August Kuehne e Friedrich Nagel, para enviar mercadorias na cidade de Bremen. Foi com essa característica que, 135 anos depois, a companhia tornou-se uma gigante global da logística, líder em fretes aéreos e marítimos, com receita líquida de US$ 30 bilhões em 2024. É com estratégia, a partir de uma torre de controle, que a empresa monitora seus 40 armazéns no Brasil e a movimentação das entregas feitas por terra e pelo ar. Com cada vez mais tecnologia embarcada, a Kuehne+Nagel aposta no varejo para crescer no País, um de seus principais mercados no mundo, onde se desenvolve de maneira mais forte do que os 4% de aumento no faturamento global registrados no ano passado em comparação com o período anterior.
“O Brasil, embora seja um país grande, ainda é considerado emergente. Vejo um mercado de alto potencial para crescimento”, disse Adriana Martins, presidente da Kuehne+Nagel no Brasil, ao BRAZIL ECONOMY.
Como? Já vamos explicar. Antes, é preciso discorrer sobre Adriana. Se a estratégia está no cerne da companhia, que hoje tem sede na Suíça, as pessoas escolhidas para comandar as operações têm de ter, necessariamente, esse skill. Obviamente, a executiva tem. Desde sempre.
Ela está há 29 anos na empresa. Para ingressar, usou… estratégia. Ainda na faculdade, no curso de Comércio Exterior, perguntou a um professor qual era a companhia referência na área. A resposta: Kuehne+Nagel. Não conseguiu entrar nas primeiras tentativas porque não falava alemão. Mas ela é estratégica, lembra? Então, foi para uma empresa que prestava serviços para a companhia suíço-alemã. Falou para seus chefes sobre seu desejo de trabalhar na Kuehne+Nagel, trabalhou e, depois de dois anos, foi contratada.

Sua primeira função foi coordenar embarques de cargas automotivas que vinham da Alemanha. Foi sendo promovida, ao mesmo tempo em que se especializava em Gestão de Comércio Internacional pela FAAP e em Liderança pela britânica Cranfield School of Management.
Atuou em diversos países até assumir a operação brasileira três anos atrás. São quase três décadas de companhia, que está no Brasil há 64 anos. Quase metade, portanto, com Adriana como colaboradora.
DADOS E FATOS
A Kuehne+Nagel sabe de onde veio, onde está e para onde quer ir. A operação local começou há mais de seis décadas com transporte aéreo e marítimo de produtos, depois reforçou a estrutura com desembaraço aduaneiro e, posteriormente, com a parte de armazéns e distribuição.
“Hoje temos uma cadeia enorme de armazéns, mais de meio milhão de metros quadrados, atendendo clientes de e-commerce, do setor automotivo e de várias outras indústrias”, disse a presidente, que comanda 3.500 funcionários, dos 80 mil da empresa espalhados pelo mundo.
E é aqui que entra a parte de “como” a executiva pretende desenvolver os negócios da gigante logística por aqui. Obviamente com estratégia, o foco da companhia neste ano é aumentar seu portfólio de clientes do setor de varejo, com a oferta de logística marítima, aérea e de armazéns para empresas do setor com volumes de exportação, importação e desembaraço aduaneiro. Principalmente nos segmentos supermercadista, de moda, artigos esportivos, cosméticos, beleza e pets.
Para posicionar-se como parceira estratégica dos clientes do segmento – entre eles, duas grandes plataformas de e-commerce que operam fulfillment com a Kuehne+Nagel –, o investimento é em tecnologia. No País, a gestão é centralizada a partir de uma torre de controle impulsionada por analytics e IA, que ajudou a reduzir a praticamente zero a perda de inventário.
A visão para o Brasil também envolve projetos de automação de armazéns, substituindo empilhadeiras tradicionais por equipamentos autoguiados com auxílio de IA para elevar produtividade e segurança, além de IA aplicada ao cálculo de fretes e custos logísticos, para precificação mais dinâmica e eficiente.
Da torre de controle – um painel que mostra a operação geral da companhia junto a seus clientes –, a Kuehne+Nagel analisa os dados recentes, cruza com as bases do passado e entende o comportamento das entregas.
“Observamos todo o caminho percorrido, até a entrega na ponta, para o consumidor final”, afirmou Adriana. “Conseguimos prever os potenciais riscos que podem acontecer. Desde a avaliação de possíveis desvios na etapa 1 de uma entrega, em que podemos resolver sem comprometer as etapas seguintes – o que evita carga faltante ou atrasada na ponta – até a necessidade de contratação de equipe em certas ocasiões. É muito amplo”, discorreu a executiva. “Nossa torre de controle nos auxilia em toda a gestão, para tomarmos ações preventivas com base em dados e fatos.”
SOLUÇÕES
Globalmente, e com ênfase no Brasil, a Kuehne+Nagel tem acelerado a estratégia de um canal de vendas chamado internamente de National Key Accounts. “É uma estrutura muito fortalecida para atendimento de contas globais”, frisou Adriana Martins, ao ressaltar que é um avanço em relação ao tradicional Field Sales da companhia.

A alça de mira, nesse caso, está voltada para as pequenas e médias empresas. “Investimos nesse novo canal de vendas para explorar certos logos que a gente ainda não atende e que temos plenas condições de atender.”
Outra solução trabalhada pela Kuehne+Nagel neste momento é o Seaexplorer, uma ferramenta interativa de planejamento da cadeia de suprimentos. Ela orienta as decisões com insights em tempo real sobre trânsito de embarcações, interrupções de serviço e inteligência de mercado. “Observamos em tempo real onde está o navio, se há algum atraso, se há fila de espera para atracação. Temos muito cálculo preditivo com base no que já sabemos que vai acontecer dali para frente”, explicou a presidente, ao ressaltar que trechos totalmente marítimos podem ser “quebrados” com trechos aéreos para otimizar entregas ou evitar demoras.
Com essa estrutura e soluções, a operação brasileira tem atraído a atenção de possíveis parceiros da Ásia. “Estamos preparados para ajudar essas empresas a chegarem aqui, se instalarem, fazerem o desembaraço aduaneiro, a distribuição das cargas e distribuir no Brasil”, afirmou Adriana.
PROCESSOS ALFANDEGÁRIOS
O setor de importação e exportação brasileiro é ancorado em uma série de regras e processos que muitos chamam de burocráticos. Na visão de Adriana Martins, esse controle é necessário para “manter o nível de excelência” de compliance e organização.
“Eu não aceito ouvir que o Brasil é um país burocrático. Porque acredito que as regras e as práticas que precisamos seguir garantem a integridade da carga em vários aspectos”, defendeu. “Somos um país sério, que precisa fazer as coisas certas no tempo certo, como qualquer país bem organizado.”
Para a presidente da Kuehne+Nagel Brasil, com esse posicionamento, a Receita Federal e a Alfândega “sobem a barra do mercado”. “E garantem que a gente tenha de trabalhar em um alto nível de excelência”, salientou, ao elogiar o processo de manifesto eletrônico. “Não tem de haver informalidade no nosso negócio.”
Sobre melhorias em portos e aeroportos, a executiva afirmou que observa “uma agenda de desenvolvimento importante”, mas que poderia avançar de maneira mais dinâmica. E com estratégia. A exemplo da Kuehne+Nagel.