Brasil entra na mira da go Bravo para crescimento de renegociação de dívidas

Com operação iniciada em 2022, Brasil representa quase 10% da carteira da empresa de parcelamento de débitos, mas pode chegar a 30% nos próximos 4 anos

Fernanda Bompan
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Imagens: Divulgação/go Bravo

Juan Pablo Zorrilla (à esq.) e Javier Velásquez, cofundadores da go Bravo

Juan Pablo Zorrilla (à esq.) e Javier Velásquez, cofundadores da go Bravo

A operação brasileira da go Bravo, empresa internacional especializada em negociação e liquidação de dívidas, caminha para se tornar uma das maiores do grupo. A projeção é que o país represente até 30% das dívidas administradas globalmente em cerca de quatro anos, segundo Juan Pablo Zorrilla, um dos cofundadores da startup. Hoje, o Brasil responde por menos de 10% da carteira.

“Estamos muito animados. O nível de maturidade do mercado é alto, a penetração de cartão de crédito é expressiva e o problema da inadimplência é estrutural. Há um campo enorme para crescer aqui”, afirma Zorrilla, em entrevista ao BRAZIL ECONOMY.

A empresa espera alcançar o break even (ponto de equilíbrio entre receita e despesa) no Brasil nos próximos 12 meses, sem ampliar a linha de produtos. O foco será em eficiência. “Tem muita gente procurando a gente. O que temos que fazer é melhorar a nossa estrutura”, diz Ricardo Camarena, diretor de Operações da startup. Hoje, são 150 pessoas no time brasileiro, com aproximadamente 4 mil clientes.

O carro-chefe da go Bravo é a assessoria financeira. O atendimento é personalizado e pode incluir até uma oferta de crédito com juros mais baixos, para facilitar o pagamento.

A solução oferecida pela go Bravo é voltada a pessoas endividadas que já não conseguem arcar com seus compromissos financeiros, muitas vezes por estarem presas a um ciclo de crédito rotativo. “É comum vermos clientes que só conseguem pagar o cartão de crédito pegando novos empréstimos — até que essa dinâmica deixa de funcionar”, disse Camarena. 

Ao entrar em contato com a go Bravo, o cliente passa por uma avaliação detalhada da renda, perfil financeiro e valor total das dívidas. A partir disso, é elaborado um plano de poupança individual, com duração de 20 a 60 meses, no qual o cliente reserva mensalmente um valor fixo. Esse montante é utilizado para negociar a quitação das dívidas uma a uma, com descontos. O foco está em dívidas bancárias, especialmente de cartão de crédito, e o público atendido é majoritariamente de classe média e média alta, com renda entre R$ 4 mil e R$ 15 mil e dívidas médias em torno de R$ 50 mil.

A startup cobra uma taxa mensal fixa, que cobre os custos operacionais da operação, e uma comissão sobre o valor que conseguir economizar para o cliente na quitação das dívidas. “Mas nosso lucro real está atrelado ao resultado final. Só ganhamos quando o cliente poupa o suficiente e conseguimos negociar a dívida com desconto. Nossa taxa de sucesso é de 17%”, explica o diretor. O pagamento aos credores só é feito quando há saldo suficiente acumulado, o que garante que a estratégia esteja sempre focada em garantir uma recuperação financeira efetiva e sustentável para quem busca a empresa.

Fundada em 2009, a go Bravo nasceu nos Estados Unidos a partir de um modelo inspirado em empresas norte-americanas criadas após a crise de 2008. “Na época, víamos aquilo como algo muito local, quase uma prática de advocacia. Mas havia ali um modelo institucionalizado, com escala nacional, que atendia pessoas inadimplentes de forma sistemática e com processos bem definidos”, explica Zorrilla.

Com presença em seis países — México, Colômbia, Espanha, Portugal, Itália e Brasil —, a empresa começou sua expansão internacional por volta de 2015, antes mesmo de isso se tornar comum entre startups latinas. “Começamos testes na Colômbia, depois fomos para a Argentina e Espanha ao mesmo tempo, em 2018. Mas a Argentina acabou ficando inviável pela desvalorização cambial e complexidade regulatória. Já a Espanha virou um pilar importante da operação.”

Na sequência vieram Portugal e Itália, durante a pandemia. Mesmo com as dificuldades do período, a empresa conseguiu avançar. O Brasil, no entanto, foi deixado para depois, de forma proposital.

“O Brasil sempre esteve no nosso radar, mas com muito respeito. É um mercado gigantesco, mas complexo, fragmentado, com uma cultura muito própria. Muita gente pensa que Brasil, México e Colômbia são parecidos, mas são mundos diferentes. Acho que o brasileiro tem mais influência europeia do que a gente, que é muito mais voltado para os Estados Unidos”, comentou o cofundador da go Bravo.

Segundo ele, a empresa evitou entrar no Brasil de forma oportunista. “Tem até um ditado que ouvi de um amigo: ‘o Brasil é cemitério de malandro’. A gente sabia que não dava para chegar aqui achando que ia conquistar o país com uma ideia mágica.”

O lançamento oficial da operação brasileira ocorreu em 2022, após mais de uma década de aprendizado em outros mercados. “Estamos nos estruturando com calma, entendendo as especificidades do mercado e respeitando as dores locais. Mas o potencial aqui é imenso”, afirmou.

Camarena disse também ao BRAZIL ECONOMY que, embora muito se fale nos 77 milhões de inadimplentes no Brasil, o nicho atendido pela go Bravo é mais específico: o crédito ao consumo. “Em geral, 10% das carteiras estão inadimplentes. É um número menor do que o que aparece nos jornais, mas ainda assim muito expressivo. E ninguém toma o lado do consumidor. A cobrança costuma ser agressiva, o sistema é institucionalizado, mas não se pensa na pessoa.”

Com essa abordagem centrada no cliente, a go Bravo busca humanizar o processo de renegociação e ampliar o acesso ao sistema financeiro. “Nosso papel é criar uma ponte de volta. E aqui no Brasil, temos encontrado um terreno fértil para isso”, concluiu o diretor de Operações. 

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