Advocacia em transformação: como a IA está revolucionado a rotina na carreira jurídica

Formação técnica já não basta. No cenário atual do direito, é preciso ir além: criar marca, dominar o digital e encarar a tecnologia como aliada (não como ameaça)

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Imagens: Divulgação

Segundo o advogado Columbano Feijó, com os resumos instantâneos da IA, o tempo de trabalho caiu pela metade

Segundo o advogado Columbano Feijó, com os resumos instantâneos da IA, o tempo de trabalho caiu pela metade

Por muito tempo, bastava ao advogado recém-formado conquistar a carteirinha da OAB para dar início à carreira com boas perspectivas. Hoje, o cenário é outro. A exigência do mercado não se limita ao conhecimento jurídico: o profissional precisa ser também um estrategista, um empreendedor e, em muitos casos, um criador de conteúdo. Em outras palavras, o advogado de 2025 não apenas pratica o Direito — ele vende seu serviço, promove sua marca e precisa se destacar num oceano competitivo.

E não é um exagero falar em “oceano”: o Brasil é o país com a maior proporção de advogados por habitante do mundo. Segundo a OAB e a International Bar Association (IBA), são cerca de 1,5 milhão de profissionais em atuação no país, o que equivale a um advogado para cada 145 brasileiros.

A chegada da Inteligência Artificial ao Judiciário e aos escritórios de advocacia brasileiros tem sido uma revolução. Softwares baseados em IA já atuam na classificação de dados jurídicos, elaboração de textos técnicos, identificação de temas em petições iniciais, entre muitas outras tarefas antes manuais. A promessa? Mais agilidade, padronização e foco em atividades realmente estratégicas.

Mas nem tudo são flores. A automação de tarefas repetitivas — aquelas geralmente delegadas a estagiários e jovens advogados — reduziu a oferta de oportunidades para quem está começando. O que antes era o primeiro degrau da escada profissional virou terreno da tecnologia, exigindo que o iniciante busque formas de se reinventar desde o primeiro dia.

Nos escritórios de ponta, a IA já ocupa um lugar de protagonismo. É o caso do Falcon, Gail & Feijó Advocacia Empresarial, onde a automação responde por 60% do ganho de produtividade. Só na triagem de 150 intimações diárias, o uso da IA economiza horas preciosas. “Se cada intimação exigia 10 minutos, tínhamos 25 horas diárias de trabalho. Hoje, com a IA gerando resumos instantâneos, isso caiu pela metade”, afirma Columbano Feijó, sócio do escritório.

Do crachá à marca pessoal

Além de lidar com a disrupção tecnológica, o advogado moderno precisa construir presença online. E, nesse jogo, distribuir cartões de visita não tem mais vez. A regra agora é investir em uma marca digital forte, capaz de comunicar autoridade, atrair clientes e, principalmente, gerar confiança.

Essa é a base do ecossistema A Dupla, programa de imersão e mentoria voltado a advogados empreendedores. Com um método que combina imersão de dois dias (Starp 2.0), quatro meses de mentoria e uma comunidade ativa de networking jurídico (A Teia), o projeto aposta em uma abordagem que vai do conhecimento técnico ao posicionamento de mercado.

Criado em 2019, o A Dupla passou por uma reformulação completa no fim de 2024. A versão beta, com 120 alunos, deu tão certo que as projeções para 2025 são ambiciosas: 3 mil participantes e R$ 1,8 milhão em receita apenas no primeiro quadrimestre.

“Hoje, é preciso olhar para o escritório de advocacia como uma empresa escalável, e não como uma simples extensão da pessoa física”, afirma Feijó, que também comanda o A Dupla. “Não adianta mais ter apenas técnica: é preciso saber se comunicar, definir nichos e se posicionar de forma clara nas redes e no mercado.”

Nichos, subnichos e autoridade

Um dos trunfos do programa é orientar advogados a atuar estrategicamente em mais de 130 nichos de mercado — desde áreas amplas como Direito da Saúde e Tributário até temas mais específicos como Antifraude e LGPD. A ideia é que, ao se especializar, o advogado consiga não só entregar mais valor, mas também se destacar da concorrência.

Para Giovanni Araújo, também sócio do A Dupla, o segredo está na construção consistente de uma marca jurídica. “O advogado precisa sair da lógica do ‘serviço genérico’ e passar a pensar como uma empresa de verdade, com posicionamento, diferenciação e autoridade. É uma virada de chave — e quem não girar, corre o risco de ficar para trás.”

Em um setor tradicional por natureza, essas mudanças podem parecer radicais. Mas uma coisa é certa: a advocacia não é mais a mesma — e quem quiser crescer vai precisar fazer mais do que saber a lei. Vai ter que aprender a se vender, a inovar e a se posicionar. Afinal, no mercado de hoje, não basta ser bom: é preciso ser visto.

 

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