“Turismo é o novo petróleo”, diz secretário estadual de São Paulo, Roberto de Lucena

Com setor aquecido, Secretaria de Turismo e Viagens do Estado de São Paulo mapeia 60 projetos que precisam de R$ 13 bilhões de investimentos. Pasta tem atuado para unir empresários, fundos investidores e entidades de crédito

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Imagens: Marcelo S. Camargo / Governo do Estado de SP

Secretário estadual de Turismo e Viagens, Roberto de Lucena

Secretário estadual de Turismo e Viagens, Roberto de Lucena

O Centro de Inteligência da Economia do Turismo (CIET), ligado à Secretaria de Turismo e Viagens do Estado de São Paulo (Setur-SP), projeta uma movimentação de R$ 340 bilhões do setor em território paulista em 2025. A estimativa é moderada e pode ser superada. Se alcançado, o número será 3,65% maior do que o registrado em 2024. Mais do que isso: representa 9,7% do PIB paulista. Há ainda a projeção de receber, neste ano, 51 milhões de turistas no estado, sendo 48,5 milhões domésticos e 2,5 milhões internacionais. Com esse potencial notório, muitos projetos privados estão estruturados, mas carecem de investimentos. A Secretaria de Turismo mapeou 60 deles, que demandam R$ 13 bilhões, e quer unir as duas pontas desse processo: os empresários que necessitam de aportes para colocar seus planos de pé e os possíveis investidores. Também lançou o CrediturSP, que oferece linhas de crédito a partir de parceria com 20 instituições públicas e privadas, entre elas bancos, fundos, fintechs e outras corporações. É a aproximação do Estado com a Faria Lima, definem executivos do turismo paulista. Para juntar todo esse ecossistema, a Setur promove, junto com outros órgãos do governo e entidades, a segunda edição do Fórum Internacional de Investimento em Turismo, no dia 7 de maio. Serão mais de 200 instituições participantes.

Em entrevista exclusiva ao BRAZIL ECONOMY, o secretário estadual de Turismo e Viagens, Roberto de Lucena, fala sobre o evento, o atual momento do segmento, os projetos em andamento e as oportunidades a serem captadas.

BRAZIL ECONOMY – Como o senhor define o atual momento do turismo paulista, que prevê movimentar R$ 340 bilhões neste ano, quase 10% do PIB estadual?
ROBERTO DE LUCENA – Se o Estado de São Paulo fosse um país, seria a 21.ª economia do mundo. E se considerarmos que o turismo representa 10% do PIB, estamos falando de algo muito importante, volumoso. O turismo do Estado de São Paulo movimenta o equivalente ao PIB do Estado de Goiás. É uma cadeia com 52 setores, que juntos produzem 950 mil empregos diretos e formais. Para cada emprego direto no turismo, há dois indiretos. Estamos falando de quase 3 milhões de empregos diretos e indiretos em toda a cadeia. Se é urgente produzirmos empregos, temos que considerar que estamos falando do ambiente mais promissor e mais positivo para geração. O campo, que responde por 30% do PIB de São Paulo, por exemplo, está cada vez mais mecanizado. A indústria, cada vez mais robotizada. A geração de empregos nesses dois setores sofrerá uma releitura a partir da inteligência artificial, com grande impacto nos próximos anos. Então, está exatamente no turismo o maior potencial para geração de empregos e também para o empreendedorismo.

A secretaria tem feito um trabalho de agregador, ao juntar os polos de investimento, de fundos, com as demandas da iniciativa privada no setor. Como tem sido esse movimento?
O governo identificou, no estado, 60 projetos estruturados — com começo, meio e fim, e plano de negócios definido — que, somados, representam entre R$ 12 bilhões e R$ 13 bilhões. Realizamos um primeiro fórum para identificar os interessados em dialogar com fundos, investidores nacionais e estrangeiros, com grupos que eventualmente vissem naquela oportunidade o interesse em investir no turismo. Evoluímos com a organização desse portfólio. Colocamos esses projetos na prateleira internacional, em parceria com o Ministério do Turismo, que, por sua vez, realiza road shows com a Embratur e a Apex. E vamos realizar agora, no dia 7 de maio, o segundo Fórum Internacional de Investimento no Turismo. Estamos levando para lá 20 projetos estruturados, que miram R$ 7 bilhões. É a possibilidade de conectarmos os projetos com os investidores. Então, é um momento muito positivo. Identificamos no turismo a bola da vez. Turismo é o novo petróleo.

Quais são os atrativos do estado para os empresários do turismo e para os investidores?
Há grandes oportunidades em São Paulo. Temos, no mundo inteiro, grupos e fundos interessados em investir no turismo, em investir no Brasil. São Paulo tem estabilidade política, segurança jurídica, e infraestrutura reconhecida nacionalmente como a melhor do país. As melhores rodovias do Brasil estão em São Paulo; os três maiores e mais movimentados aeroportos do país estão em São Paulo; o maior porto da América Latina também está aqui. Temos uma conectividade regional significativa, incentivada pelo governo do estado, que tem apostado na aviação regional a partir da renúncia de ICMS para o combustível da aviação comercial. Temos ainda dois aeroportos que entrarão em operação nos próximos anos: Guarujá, o Aeroporto Metropolitano da Baixada Santista, e o Aeroporto Internacional de Olímpia.

Era uma lacuna do setor essa conexão entre projetos e investidores?
Tanto que também lançamos o CrediturSP, que já viabilizou R$ 2,2 bilhões em operações de crédito e financiamento para 61 municípios turísticos e mais de 1.400 empresas. É um estímulo ao acesso ao crédito como motor de desenvolvimento turístico no estado. O programa conta com R$ 4 bilhões em recursos disponíveis, em parceria com mais de 20 instituições financeiras, públicas e privadas. Temos mais R$ 1,8 bilhão para contemplar projetos turísticos — prioritariamente de infraestrutura turística, mas também hotéis, resorts, parques aquáticos, parques temáticos, pousadas, restaurantes e outras iniciativas — com carência de até três anos e até 10 anos para amortização. É uma resposta do governo de São Paulo para acelerar o processo de desenvolvimento do turismo paulista. Também temos uma política de transferência de recursos do tesouro para os municípios turísticos do estado, com foco na melhoria da infraestrutura. Entre 2023 e 2025, transferimos mais de R$ 640 milhões.

Com esse movimento de aproximar fundos, envolver fintechs e empresas de crédito privado dos projetos turísticos, é uma aproximação do Estado com a Faria Lima?
Vemos a Secretaria de Turismo como um hub que conecta as oportunidades, os bons projetos, àqueles que querem financiá-los com segurança, com capacidade, com payback e retorno garantidos. Temos, no turismo de São Paulo, um ambiente de oportunidades neste momento. Temos feito a conexão e articulação dessas pontas — quem tem projeto com quem quer e tem disponibilidade para apoiar esse projeto.

São Paulo naturalmente é uma potência no turismo de negócios. Como o senhor vê essa vertente?
São Paulo é, por vocação, a principal cidade do país como eixo de turismo de negócios e corporativo. Mas, além disso, São Paulo é também turismo gastronômico, cultural, religioso, de saúde e bem-estar, de entretenimento. São Paulo, em especial a capital, entrou definitivamente no mapa dos grandes eventos de entretenimento mundiais: Lollapalooza, The Town, Fórmula 1, eventos esportivos internacionais importantíssimos. E é também palco das grandes feiras, com o São Paulo Expo, o Anhembi, o Expo Center Norte… Além de uma capital pujante e vibrante, com 12 milhões de habitantes, temos mais 644 municípios, dos quais 210 são turísticos. São 70 estâncias e 140 cidades de interesse turístico.

E quais os desafios que o senhor observa no setor atualmente?
Somos o maior polo receptor de turistas do Brasil. Neste primeiro trimestre, batemos recorde de turistas estrangeiros no período, com 800 mil pessoas de outros países visitando São Paulo. No ano passado inteiro, foram 2,5 milhões de estrangeiros, além de 49 milhões de turistas nacionais. Precisamos recepcionar todas essas pessoas. Então, temos a demanda de trabalhar a capacitação e a qualificação. Para isso, estruturamos a Academia do Turismo, um programa de qualificação que pretende chegar a 100 mil vagas até o final de 2026. Penso que esse seja um gargalo e um grande desafio que não é só de São Paulo, mas do turismo nacional e internacional. Mas São Paulo, neste momento, sai na frente oferecendo uma solução.

Por falar em turistas estrangeiros, como atraí-los para São Paulo diante da concorrência com o Nordeste e o Rio de Janeiro, por exemplo?
Não é difícil. Claro que o Brasil é um país maravilhoso, um continente extraordinário, com atrações incríveis. Mas São Paulo não é monotemático. Alguns estados são. São Paulo tem um cardápio diversificado em relação ao turismo. Temos 800 quilômetros de praias no nosso estado. Temos também as montanhas, como a Serra da Mantiqueira, um dos melhores destinos de charme, com ticket médio alto, um turismo qualificado. Temos o turismo histórico, o turismo religioso — com 16 milhões de visitantes por ano no chamado Vale da Fé. Temos o turismo rural, com um programa específico lançado pelo governador Tarcísio de Freitas durante a Agrishow. São mais de 1.200 propriedades de turismo rural capacitadas para receber turistas. Temos o turismo náutico, os cruzeiros… É uma diversidade extraordinária. Esse é o nosso diferencial.

Como tem sido o trabalho para mostrar isso?
Estamos trabalhando com road shows nacionais e internacionais, conversando com operadores de turismo internacionais, participando de feiras, mostrando os destinos e atrativos de São Paulo. Essa integração de um vasto portfólio é o nosso diferencial.

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