São muitos os ensinamentos contidos na fábula do bambu chinês. É uma planta diferenciada. Depois de plantada a semente, por meses não se vê qualquer indício de crescimento aparente na superfície. Muito tempo depois, um broto se apresenta. Durante cinco anos, ele passa desenvolvendo suas raízes. E só depois desse período cresce mais de 25 metros de altura. Ele passa muito tempo se preparando para o futuro, numa trajetória de persistência e resiliência, enfrentando adversidades até alcançar o sucesso.
Uma história parecida com a da Alares, operadora independente de telecomunicações, sediada em São Paulo, que fornece serviços de acesso à internet de alta velocidade via fibra óptica.
A Alares está inserida em um mercado que possui 51,6 milhões de assinaturas de banda larga, segundo dados de fevereiro da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). Três empresas dominam 42,7% dos acessos: Claro (20%), Vivo (14,4%) e Oi (8,3%). Da quarta colocada – Giga Mais Fibra (3,2%) – até dezenas de posições abaixo, a briga por market share é acirrada. A Alares está na 12ª posição, com 793 mil assinaturas e 1,5% do mercado.
Em 2020, cinco anos atrás, tinha 223 mil acessos. Cresceu 3,5 vezes no período. Cresceu em base de clientes e em receita. Fechou 2024 com R$ 754 milhões de faturamento, 33% a mais do que no ano anterior. Mas ainda não tem dado lucro. De 2020 para cá, são R$ 420 milhões em prejuízos acumulados. Tal qual um bambu chinês, está fortalecendo suas raízes.
Isso porque os investimentos em aquisições e na implementação de novas redes de fibra óptica próprias também são vultuosos. Uma característica da Grain Management, fundo americano de private equity especializado em telecomunicações, que controla a companhia no Brasil e possui mais de US$ 10 bilhões sob gestão no mundo.
Apenas em 2024, foram R$ 207,7 milhões em Capex, valor 7,6% maior em relação a 2023. Entre as últimas aquisições está a Azza Telecom, cujo negócio, na casa dos R$ 188 milhões, foi concluído em outubro do ano passado.

O movimento de M&A é uma espécie de adubo para a Alares. Com a adquirida, a empresa agregou 136 mil clientes e expandiu sua presença no estado de São Paulo para 48 cidades, entre elas Sorocaba, Iguape, Ibiúna, Ilha Comprida, Registro, Itupeva, Monte Mor e Taboão da Serra. Hoje, são cerca de 320 mil assinantes no território paulista.
No geral, a Alares atua em 228 municípios de sete estados – São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Norte, Ceará, Paraíba e Bahia – com uma rede de 31 mil quilômetros de fibra óptica, 126 lojas físicas e 2.700 colaboradores. Enquanto as líderes do segmento dominam as áreas metropolitanas, a Alares busca avançar em regiões interioranas.
Com essa estrutura e, apesar de ter fechado os balanços dos últimos anos no vermelho, as finanças da companhia têm melhorado. O Ebitda de 2024 atingiu R$ 339 milhões, 78% superior ao do período anterior. A redução da alavancagem passou de 4,14 para 3,08 do Ebitda de um ano para outro. As margens passaram de 34% em 2021 para 45% agora.
“Isso nos dá fôlego também para continuar nesse caminho de crescimento orgânico e inorgânico acelerado que estamos trilhando”, afirmou Denis Ferreira, CEO da Alares, ao BRAZIL ECONOMY.
Atualmente, a Alares está em processo de finalização da integração das empresas adquiridas nos últimos anos. Dos 18 CNPJs em 2022, hoje são quatro. “E caminhamos para formalizar apenas um. Estamos em transformação do negócio”, disse o executivo. “Nos preparamos para os M&As e para essa integração. Assim, criamos uma plataforma de altíssima eficiência para acelerar muito mais as empresas que nós compramos.”

A tendência é dar maior capilaridade à Alares e avançar para outros estados, além dos sete em que já atua. Mas a questão geográfica não é a principal premissa do crescimento inorgânico da companhia, observou Ferreira.
“Nossa visão de M&A tem três grandes pontos. Primeiro, a capacidade de crescimento orgânico que a potencial empresa tem onde ela está. Segundo, a qualidade do ativo, principalmente a condição da rede. E terceiro, a maturidade da governança”, enumerou o CEO.
Depois de adquiridos os players, a Alares passa a adotar o crescimento inorgânico, com a extensão das redes de fibra óptica nas regiões em que ganhou campo.
“Colocamos mais gasolina, implementamos processos e gestão em cima dessas empresas que eram regionalizadas e passam a ter capacidade de entrega de resultados muito maior do que no momento em que estavam sozinhas”, explicou Ferreira, ressaltando que, na operação, um dos diferenciais está no fato de a força de vendas ser 95% por canais diretos, seja físico, digital ou call center, com 100% dos colaboradores próprios, assim como a equipe de manutenção.
“Tudo isso para entregar qualidade, que gera capacidade de chegar a melhores resultados, mais receita e maior exibição da marca”, afirmou.
Dessa forma, a Alares cria raízes sólidas para ser resistente diante de um mercado complexo e crescer – com lucro – no momento certo de seu planejamento. Como o bambu chinês.