Como a Whirlpool, dona de Brastemp e Consul, cresce 12% com dólar e juros altos

Líder no setor, com 38% de participação, fechou 2024 com receita de R$ 12,9 bilhões no Brasil, crescimento de 12%. O segredo está em inovações e 45 lançamentos

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Imagens: Cláudio Gatti/Divulgação

Gustavo Ambar diz que os números reforçam a resiliência da empresa em um cenário econômico desafiador

Gustavo Ambar diz que os números reforçam a resiliência da empresa em um cenário econômico desafiador

Todos os dias, logo nas primeiras horas da manhã, o executivo Gustavo Ambar, general manager da gigante americana Whirlpool no Brasil (cargo equivalente a presidente ou CEO), sai do bairro paulistano de Moema, onde mora, até o escritório da empresa, às margens da Via Anchieta, monitorando os principais indicadores macroeconômicos e, ao mesmo tempo, o desempenho de suas marcas: Brastemp, Consul e KitchenAid.

Ele tem gostado de ver a performance de vendas, mesmo em um ambiente desafiador, com a taxa Selic elevada, hoje em 14,25% ao ano, e a forte volatilidade do dólar, que passou de quase R$ 6,30 em dezembro último para os atuais R$ 5,70. “É sempre um desafio nos ajustarmos às oscilações e preparar a companhia para crescer em qualquer cenário”, afirmou Ambar em entrevista exclusiva ao BRAZIL ECONOMY, na sede da Whirlpool.

A julgar pelos números da companhia, esses ajustes e preparações têm dado muito certo. Em balanço divulgado na noite da terça-feira (25), obtido em primeira mão pela BRAZIL ECONOMY, a Whirlpool reportou um faturamento de R$ 12,9 bilhões no Brasil em 2024, um crescimento de 12% sobre os R$ 11,4 bilhões registrados no ano anterior. “Os números reforçam a resiliência da empresa em um cenário econômico desafiador, marcado por pressões cambiais e altas taxas de juros”, disse o executivo.

Obviamente, a Whirlpool pegou carona em um mercado aquecido. Dados da consultoria alemã GfK, que monitora mais de 90% do varejo brasileiro, mostram que as categorias do chamado T3 (máquinas de lavar, fogões e refrigeradores) cresceram 12% em vendas em 2024, enquanto a Whirlpool avançou 14%. Com isso, a empresa ganhou 1 ponto percentual de market share, atingindo 38% de participação no segmento.

“O mercado segue crescendo, mas com desaceleração gradual”, explicou Ambar. “No primeiro trimestre, já temos observado um ritmo de expansão em torno de 5% a 6%, abaixo dos 10% registrados no início do ano passado. Acredito que esse ritmo se mantenha assim até o meio do ano.”

Apesar do cenário de juros elevados, a demanda reprimida por renovação de eletrodomésticos — com quase metade do parque instalado no Brasil ultrapassando de sete a dez anos de vida útil — continua a impulsionar as vendas. O segredo da Whirlpool para crescer acima da média do mercado e ampliar sua liderança é a combinação entre inovação e lançamentos.

Entre 2023 e 2024, foram investidos R$ 850 milhões em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), resultando em 45 lançamentos, mais do que os 40 de 2023 e um número semelhante ao que será colocado no mercado brasileiro neste ano. Os produtos lançados em 2023 e 2024 já representam quase 60% da receita da companhia.

Entre as novidades destacadas por Ambar estão a linha Cozinha Noir (eletrodomésticos em tonalidade preta, alinhados à tendência de cozinhas modernas), tecnologia Air Fryer integrada em fogões e fornos, e novas lavadoras de alta capacidade (até 17 kg), atendendo à demanda por eficiência em lares grandes.

“A inovação é nossa principal ferramenta para atrair o consumidor. Trabalhamos com pesquisas que envolvem mais de 300 mil pessoas por ano para entender necessidades específicas”, afirmou o executivo.

Se, da porta para fora, a Whirlpool apresenta um bom desempenho de vendas, da porta para dentro a companhia também se dedica a manter a casa arrumada. A recente alta do dólar em 2024 pressionou os custos, levando a Whirlpool e outras indústrias a reajustarem preços no início do ano.

“O câmbio é um desafio de curto prazo, enquanto os juros altos são um problema estrutural. Se a taxa Selic permanecer em 14%, o segundo semestre tende a ser mais difícil”, analisou Ambar.

A vantagem da empresa em relação à questão cambial é o alto índice de nacionalização de suas linhas de produção no país. Hoje, 70% das matérias-primas são fabricadas no Brasil, e mais de 90% da produção é local. Apenas 5% a 7% dos produtos são importados, um diferencial em um cenário de volatilidade cambial. No Brasil desde 1957, a Whirlpool opera fábricas em Rio Claro (SP), Joinville (SC) e Manaus (AM).

Outro ponto crítico é a concorrência com fabricantes asiáticos, que aproveitam custos menores para ampliar presença no Brasil. “Precisamos de condições equitativas para nossos fornecedores locais, como o aço nacional, que compete com importados mais baratos”, destacou.

Por isso, a Whirlpool planeja dobrar as exportações em dois anos, focando na Argentina e na Colômbia. A participação das exportações no resultado deve passar dos atuais 3% para algo em torno de 6%.

Na estratégia de marcas, o plano de Ambar é fortalecer a Brastemp no segmento premium, com foco em tecnologia e design, enquanto a Consul receberá um reforço de marketing e um toque de “brasilidade”, com funcionalidades como “modo pizza” em micro-ondas e “lavagem de redes” (sim, aquelas de pendurar na parede) em máquinas de lavar.

“Queremos que a Consul seja vista não como uma segunda linha, mas como a escolha do brasileiro que valoriza produtos duráveis e adaptados ao seu dia a dia”, acrescentou Ambar.

A Whirlpool tem buscado equilibrar vendas entre grandes varejistas (Casas Bahia, Magazine Luiza) e seu o canal direto de vendas, o Compra Certa, minimizando conflitos com parceiros. Além disso, programas como Next Day Delivery (entrega em 24 horas em qualquer lugar do Brasil) e Logística Reversa (que realiza a retirada gratuita de eletrodomésticos usados, inclusive de outras marcas) estão ajudando a companhia a se posicionar como uma indústria que também ataca no varejo.

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