Desde criança, no início dos anos 2000, Felipe Zorzeto gostava de criar. Era um menino criativo em Brasília (DF), onde chegou ainda bebê, depois de uma mudança dos pais de São Paulo, cidade em que nasceu. Com um pouco do DNA da mãe, uma designer de interiores autodidata, desenhava carros, motos, casas… Aos 15 anos, projetou um traçado de motocross para se divertir com os amigos. Dos traços no papel, a pista virou realidade. Foi seu primeiro projeto, sem mesmo saber que aquilo era, de fato, um projeto. Mas foi o suficiente para perceber seu potencial criativo.
Foi então que cursou Arquitetura e Urbanismo no Centro Universitário de Brasília (UniCEUB), onde formou-se em 2018. Fez estágios em escritórios de design de interiores e, paralelamente, começou a pegar projetos de cenografia para festas. Tomou gosto pelo design. E o design parece que gostou de Zorzeto. Nesse momento, abriu o Studio Varanda, um escritório de arquitetura, com Marcella Schiavoni, que conheceu durante a faculdade e que se tornou sua esposa. O empreendimento compartilhado foi, aos poucos, se separando. Enquanto ela projetava grandes ideias para salas, quartos e cozinhas inteiras, ele estava fixado em desenhar os detalhes dos parafusos dos móveis. Estava clara a predileção de Zorzeto pelo design de móveis. De 2019 a 2022, sua atuação nessa linha de negócios triplicou a cada ano. Nos últimos dois anos, duplicou. E a perspectiva é dobrar mais uma vez neste ano e superar o faturamento de R$ 3 milhões.
“Estamos em um crescimento importante e vamos manter. Estamos em movimento ativo”, disse Zorzeto, de 28 anos, ao BRAZIL ECONOMY.
O caminho corporativo do designer Felipe Zorzeto está desenhado. Ele, de um lado, com seu entusiasmo por peças de interiores, e Marcella Schiavoni com a arquitetura, cujo negócio levará o nome autoral da profissional, deixando o Studio Varanda de lado. Juntos na vida, empresas à parte.
Zorzeto tem apostado cada vez mais em suas criações. Na maioria das vezes, são produzidas a partir de pedidos de clientes, levando em consideração o perfil e o estilo de vida deles. Ou seja, a personalidade de quem pede, com a criatividade do designer. Tanto que as peças levam os nomes dos compradores.

A Poltrona ZÉ (R$ 9.950), o Aparador BIA (R$ 18.400) e o Banco DÃO (R$ 9.400) são algumas das criações. Um dos itens de maior sucesso é o buffet Palafita, inspirado nos sistemas construtivos tradicionais de regiões alagadiças, onde estacas de madeira são usadas para elevar as construções acima do solo.
O casal de clientes que encomendou, curiosamente, não levou o produto. “Perderam um megainvestimento, porque o móvel quintuplicou de preço”, brincou Zorzeto, com aquele fundinho de verdade.
As referências de Zorzeto são voltadas para o modernismo brasileiro, caracterizado pela liberdade estética. “Um movimento muito forte”, destacou o designer. Mas ele vai além, numa espécie de neomodernismo, inspirado também pelos arquitetos Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, conhecidos pela colaboração na construção de Brasília, com seu Plano Piloto e suas construções icônicas, de célebres curvas, como o Museu Nacional, a Biblioteca Nacional, a Catedral Metropolitana, o Memorial dos Povos Indígenas, o Panteão da Pátria, o Memorial JK, entre outras.
“Não sou literal. Busco muitas referências no modernismo, principalmente no Brasil, mas também no modernismo italiano e francês. E traduzo esse estilo de vida contemporâneo, entendendo que as atividades hoje dentro de uma casa são diferentes”, disse. “Miro a simplicidade, a funcionalidade e a pureza do desenho modernista e encaixo nesse estilo atual, contemporâneo.”
A adaptação dos materiais também está na linha de trabalho de Zorzeto, que produz peças “feitas para durar, para que os móveis atravessem gerações”. A complexidade embutida na criação leva na matéria-prima a madeira Freijó — mesclada em alguns itens com vidro, aço e pedras brasileiras.
Hotéis e escritórios têm procurado o trabalho de Zorzeto, que tem suas obras espalhadas por todo o Brasil, do Amazonas ao Rio Grande do Sul. Mas 70% são clientes de São Paulo e Sudeste, outros 30% de Brasília, e os 10% restantes de outras federações.
Com um público classe AAA, ele também tem exportado seu trabalho, a partir de uma parceria com um escritório dos Estados Unidos. “É uma ponte também para possibilidades de ingressar na Europa”, disse Zorzeto, que tem parcerias com arquitetos renomados para disseminar seu trabalho.
Recentemente, Zorzeto estreou na Semana de Design de Milão, depois de passar pela feira de São Paulo. Na capital paulistana, aliás, está nos planos do designer abrir uma flagship. “Estamos trabalhando nisso. Para 2026”, afirmou. O bom filho vai voltar para casa. Pelo menos para expor suas obras e fazer negócios. Com a mesma criatividade que o levou ao atual momento.