Luiz Cornacchioni, da Abrafati: “Juros altos nos preocupa muito”

Depois de registrar em 2024 a melhor performance dos últimos 10 anos, o setor de tintas brasileiro tem algumas preocupações para seguir em evolução. Entre elas a alta dos juros, com taxa básica em 14,25% e as tarifas impostas pelos EUA, que (ainda) não chegaram ao segmento

Compartilhe:

Imagens: Divulgação

Luiz Cornacchioni, presidente-executivo da Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas (Abrafati)

Luiz Cornacchioni, presidente-executivo da Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas (Abrafati)

O mercado de tintas está em ebulição. Primeiro, porque em 2024 registrou o melhor desempenho da última década, avançando 6% em relação ao ano anterior. Segundo, pelo anúncio, no início de 2025, da compra da Suvinil pela Sherwin-Williams, em um acordo de US$ 1,15 bilhão. E terceiro, porque associações de diversos países se uniram para um movimento chamado Semana Mundial das Tintas, liderado pelo World Coatings Council (WCC), órgão europeu que reúne as entidades do setor, com o objetivo de dar maior visibilidade à indústria. A Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas (Abrafati) também encampou e apoia a iniciativa, marcada por ações entre 24 e 28 de março, especialmente durante a European Coatings Show (ECS), considerada a maior e mais importante feira da indústria, realizada na cidade de Nuremberg, na Alemanha.

O presidente-executivo da Abrafati, Luiz Cornacchioni, conversou com o BRAZIL ECONOMY sobre o atual momento do segmento, que movimenta R$ 40 bilhões no país, as demandas e a influência da macroeconomia em seu desempenho – sem comentar, no entanto, a negociação entre Suvinil e Sherwin-Williams por conta do compliance da instituição. Para ele, juros altos podem atrapalhar a evolução do setor – preocupação compartilhada por indústrias de outras áreas.

Como avalia o desempenho do setor em 2024?

O mercado brasileiro foi muito bem no ano passado. Tivemos um crescimento de 6%, com 1,983 bilhão de litros. Por segmento, tivemos um avanço de 5,9% nas tintas imobiliárias decorativas, um pouco mais de 9% nas automotivas, cerca de 6% nas industriais e 3,6% na repintura automotiva. Essa produção de quase 2 bilhões de litros nos colocou como o quarto maior produtor global, ultrapassando a Alemanha. O primeiro é a China, seguida pelos Estados Unidos, Índia e Brasil. Foi nosso maior crescimento da série histórica dos últimos 10 anos. A média anual registrada na última década foi de 2,5% ao ano.

E para 2025, qual a projeção?

Acredito que conseguiremos manter o ritmo de 2,5% de crescimento dos últimos anos, mas agora sobre uma base mais alta, conquistada no ano passado. Esse é mais ou menos o ritmo registrado em janeiro e fevereiro. Vamos fechar o primeiro trimestre nos próximos dias para termos uma noção melhor.

A macroeconomia pode atrapalhar a performance?

Estamos acompanhando de perto a questão dos juros altos, que nos preocupa muito. E, nesse ponto, temos dois fatores: primeiro, porque o consumidor sente os juros altos e a inflação no bolso. E, segundo, porque, de alguma maneira, isso sempre freia os investimentos. Somente em inovação, são investidos entre R$ 1,2 bilhão e R$ 1,5 bilhão por ano, representando cerca de 3% a 4% do volume movimentado pelo setor. Nossa torcida é para que possamos voltar a ter um crescimento sólido, acompanhando o PIB, mas com juros mais equilibrados e inflação mais próxima da meta, criando uma estabilidade macroeconômica para o país.

Para avançar mais, quais as demandas do setor junto ao governo?

Com nosso foco em sustentabilidade, estamos trabalhando junto ao governo e a outros setores para garantir nossa presença na COP 30, em Belém (PA), em novembro. E, obviamente, estamos acompanhando as questões regulatórias e tarifárias, que também nos preocupam. Não porque importamos tinta, mas porque compramos insumos do exterior. Cerca de 60% da matéria-prima é importada, e mais de 20% são dolarizados. Ainda não observamos nada específico para o nosso setor, mas estamos atentos, pois qualquer movimento tarifário de outros países pode impactar o mercado.

As entidades que representam o setor em seus países têm se unido. O que significa esse movimento?

São quatro grandes eventos globais de tintas realizados anualmente: um na Alemanha, um na China, um na Índia e um no Brasil, que acontecerá em setembro. Essas feiras apresentam novidades e tendências no fornecimento de matéria-prima, principalmente. Agora, com esse movimento, estamos intensificando os esforços para destacar ainda mais a importância prática da tinta na questão da proteção. A tinta é um produto que protege estruturas e objetos e, obviamente, também tem o papel de embelezamento e a influência das cores. Além disso, há alguns fatores importantes, como a sustentabilidade, pois a função protetora da tinta aumenta a longevidade dos produtos. E, claro, há a questão da inovação, que é um dos nossos principais focos. Pretendemos reforçar esses conceitos sobre a funcionalidade da tinta no mercado global.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

ASSINE NOSSA NEWSLETTER E
FIQUE POR DENTRO DAS PRINCIPAIS NOTÍCIAS DO MERCADO

    Quer receber notícias pelo Whatsapp ou Telegram? Clique nos ícones e participe de nossas comunidades.