Depois de mais de duas décadas apostando exclusivamente em hotéis próprios no Brasil, a rede americana Hyatt – uma das gigantes globais da hotelaria – dá um passo ousado e estratégico rumo à expansão. A empresa revelou que vai aderir ao modelo de franquias, com a bandeira Hyatt Select, focada em três frentes de crescimento: cidades médias com forte potencial econômico, resorts all-inclusive de luxo no Nordeste e hotéis independentes que desejam se conectar ao prestígio da marca Hyatt sem abrir mão da identidade local. “Estamos prontos. Nosso foco não é crescer por crescer, mas atender regiões promissoras, ainda pouco exploradas pela hotelaria internacional”, afirmou Cristiano Gonçalves, vice-presidente de Desenvolvimento da Hyatt para América do Sul e Caribe, em entrevista exclusiva ao BRAZIL ECONOMY. “Esse é o nosso momento ideal para escalar a operação via franquias. Há cidades com alto PIB, impulsionadas pelo agronegócio e com demanda crescente por hospedagem de qualidade.”
A mudança sinaliza um novo capítulo da empresa no Brasil, que até agora operava apenas quatro unidades próprias no País, como o icônico Grand Hyatt São Paulo e o Hyatt Place Macaé. O plano agora é ambicioso: multiplicar por cinco a presença no mercado brasileiro até 2028, com a expectativa de alcançar 15 a 20 hotéis, entre próprios e franqueados.

A estratégia de expansão está ancorada em três vetores principais: aposta no midscale (hotéis de padrão médio), soft brands e luxo acessível com tudo incluso (all-inclusive). Nessa ordem a principal novidade é a introdução de marcas de categoria intermediária, com propostas mais acessíveis, porém mantendo o DNA de qualidade da Hyatt. O projeto prevê hotéis com 70 a 80 quartos em cidades com alto dinamismo econômico e polos estratégicos do agronegócio brasileiro.
No quesito soft brands, a operação é inspirada em modelos já consolidados nos Estados Unidos. A rede aposta em crescer em um formato que permite que hotéis independentes operem sob o guarda-chuva da Hyatt, utilizando sua plataforma global, mas mantendo charme e identidade próprios. Já no all-inclusive, desde a aquisição do portfólio AMResorts em 2021, a Hyatt se tornou a maior operadora global do segmento. Agora, o Brasil entra no radar com força total. Os primeiros resorts devem nascer no Nordeste, com foco em alto padrão. “Queremos quebrar o estigma de que all-inclusive significa baixa qualidade. Vamos elevar a régua nesse formato”, afirmou Gonçalves. “O litoral brasileiro é um dos mais lindos do mundo. Aquela região de São Sebastião, em São Paulo, até Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, passando por cidades incríveis como Paraty, não perde para nenhum outro lugar no mundo em beleza”, acrescentou.
O plano da Hyatt não passa apenas pelas capitais. A estratégia é clara: cidades com mais de 100 mil habitantes, PIB robusto e vocação turística ou econômica são prioritárias. Isso inclui desde centros agroindustriais no Centro-Oeste até destinos turísticos no Sul e Nordeste. Gonçalves destaca ainda o enorme potencial do Brasil no turismo internacional. “Hoje o País recebe menos de 5% dos turistas estrangeiros da América Latina. Há espaço gigantesco para crescimento. O México, por exemplo, atrai 45 milhões de visitantes por ano. O Brasil pode mais.”
Expansão sem perder o brilho premium
Apesar de democratizar sua presença com marcas mais acessíveis, a Hyatt reforça que continuará cuidando de seu posicionamento premium. As marcas icônicas como Park Hyatt e Grand Hyatt seguem como vitrines da excelência da rede. “Não somos só luxo. Somos padrão. E o cliente do interior que busca qualidade também merece esse padrão. É isso que vamos entregar com o Hyatt Select.”

O segundo semestre deste ano deve marcar o anúncio dos primeiros contratos de franquia. Enquanto isso, as conversas com investidores e operadores locais já estão em estágio avançado. Presente no Brasil desde 2002, a Hyatt soma mais de 1,4 mil hotéis em 79 países, 54 milhões de membros em seu programa de fidelidade World of Hyatt e lidera há oito anos o indicador global de crescimento líquido de quartos (Net Rooms Growth). Em 2024, a empresa registrou um crescimento líquido de quartos de 7,8% e um EBITDA ajustado de US$ 1.096 bilhão. Além disso, a Hyatt fechou o ano com um pipeline de aproximadamente 138 mil quartos em contratos de gestão ou franquia assinados, reforçando sua expansão global.
A América Latina e o Caribe representam mercados estratégicos, com cerca de 150 hotéis e resorts na região – aproximadamente 10% do portfólio global da Hyatt. Esse crescimento reflete a estratégia da empresa de fortalecer sua presença em mercados promissores sem perder a identidade premium. A ordem agora é hospedar franquias.