Domingo na casa de Ricardo Kamel, managing director da HP Inc. no Brasil, é dia de reunir a família para se entreter com um jogo alemão de tabuleiro que mistura estratégia e estatística. Nas mãos do genro, o smartphone se torna um convite inevitável para uma busca no ChatGPT sobre como adotar a melhor tática para vencer. É um recurso inerente aos jovens, nativos digitais. Mas o uso da tecnologia para obter alguma vantagem sobre os adversários também é aplicado por Kamel — não ali, na mesa de sua residência, mas sim na sala do escritório da companhia, em Barueri (SP). É de lá que o executivo comanda a “evolução” da empresa, a partir da adoção de Inteligência Artificial embarcada em produtos como impressoras, notebooks, workstations e equipamentos periféricos, como mouses, fones de ouvido e teclados. “É uma tecnologia que promove uma transformação na maneira como vivemos, como trabalhamos e até como conseguimos ganhar performance nos momentos de lazer”, afirma Kamel.
As fichas da HP estão sendo colocadas nesse campo. Empresas e pessoas estão em busca de melhor desempenho. Os engenheiros de software brasileiros têm trabalhado para criar soluções que são exportadas para o mundo pela companhia.
As inovações tupiniquins estão presentes nas três linhas de negócios da HP: PCs (que englobam notebooks, workstations e acessórios), impressoras (tanque de tinta, laser, plotters para grandes formatos, equipamentos industriais para banners, tecidos, livros e até impressoras 3D) e uma vertente de aluguel de equipamentos de TI, feita pela Simpress, empresa controlada pela HP.
Dentro da linha de periféricos, a HP avança com o portfólio da Poly, empresa adquirida em 2022, que oferece headsets, telefones, plataformas de videoconferência, softwares e serviços para melhoria das condições de trabalho — especialmente no formato híbrido. “Trazemos uma nova experiência bastante equitativa”, afirma Kamel, utilizando um dos fones de ouvido com microfone, que elimina ruídos fora do perímetro do usuário.
Ao melhor estilo garoto-propaganda, o executivo até batuca na mesa para mostrar que o barulho produzido não é escutado durante a entrevista concedida a esta reportagem.

Após a conversa com o BRAZIL ECONOMY, Kamel reuniu dezenas de colaboradores para explicar o momento de “evolução” da companhia no País. Falou sobre produtos e conceitos, com o objetivo de fortalecer a cultura corporativa.
E lançou um desafio: cada área da HP deve desenvolver cinco projetos com Inteligência Artificial. “O interessante da IA é que ela proporciona a descentralização de ideias. Cada computador pode se tornar um agente de mudança”, diz o executivo.
Se a HP está otimista com os resultados e busca inovações com o apoio da Inteligência Artificial, também vislumbra um futuro promissor com outro acontecimento: a partir de outubro deste ano, a Microsoft encerrará o suporte ao Windows 10 — não fornecerá mais atualizações gratuitas, correções de segurança ou assistência técnica. Ou seja, usuários de PCs ou notebooks com o software poderão se ver forçados a adquirir novos equipamentos.
“São eventos (IA e Windows 10) que contribuem positivamente para o nosso mercado. Por isso, vemos com otimismo os próximos anos”, ressalta Kamel, que tem preparado a companhia para essas ondas de transformação.
Como a que ocorre no setor de impressão. O retorno de muitas empresas aos escritórios — ou o aumento do trabalho presencial de dois para três dias por semana, em muitos casos — tem gerado mais demanda para o setor de printing da HP. “Passamos a ter um volume de impressão maior do que nos últimos dois anos.”
Por isso, a marca investe na melhor experiência do usuário. No caso das impressoras, as soluções vão desde as mais simples — como impressões de notícias de sites sem banners de publicidade — até as mais complexas, como impressões de conteúdos de vídeos de redes sociais como o TikTok.
“São softwares intuitivos que, no momento da impressão, fazem perguntas sobre como o usuário gostaria de imprimir aquele conteúdo. A interface interpreta a intenção da pessoa e oferece as opções”, exemplifica Kamel. Ele destaca ainda que, além de segurança e performance, a HP tem atuado fortemente no quesito sustentabilidade. “Nossos produtos no Brasil possuem até 45% de plástico reciclável.”
Os computadores e impressoras são produzidos em duas plantas da companhia em São Paulo: uma em Sorocaba, localizada no parque industrial da Flextronics, e outra em Jundiaí, com produção terceirizada pela Foxconn.
O desempenho da operação brasileira tem sido visto com bons olhos pela matriz, em Palo Alto, Califórnia (EUA). O Brasil é estratégico para a operação global, que tem descentralizado o fornecimento. “A HP enxerga o valor do Brasil. Temos feito muitos envios para países da América Latina. É muito mais fácil uma carga sair de São Paulo e chegar à Argentina em três dias do que um navio sair da China e levar 60 dias para chegar lá”, afirma Kamel.
Atualmente, 20% da produção brasileira já é exportada. “Queremos que esse número seja, no mínimo, 50%. Vamos aumentar a produção e elevar esse percentual”, diz o executivo. O objetivo é atender tanto ao mercado interno, que está crescendo, quanto distribuir para países da região.
Mas os holofotes do comando global da HP não estão voltados apenas à localização geográfica do Brasil. O desempenho em vendas também impressiona. Enquanto o mercado global de PCs evoluiu apenas 1,3% em 2024, segundo dados do Gartner, e o de impressoras voltou a crescer (3,5%) no terceiro trimestre do ano passado após cinco períodos consecutivos de queda, a HP — que atua nos dois segmentos — avançou “dois dígitos no Brasil em 2024”, diz Kamel.
O desempenho, aliás, foi superior à média global da HP em 2024, quando a empresa faturou US$ 53,6 bilhões, praticamente o mesmo valor de 2023. E esse crescimento tem se repetido nos últimos anos no País. “Por isso o Brasil tem recebido investimentos. Ainda temos muitas oportunidades de ganhar mais participação no mercado, com maior presença junto aos consumidores e às empresas”, afirma.
Perspectiva para 2025? “Dois dígitos de crescimento novamente. É nossa responsabilidade”, afirma o executivo, interessado em ganhar o jogo — tanto do genro quanto dos concorrentes do setor em que a HP atua.