O ano de 2025 começa com uma virada no comportamento do empresariado brasileiro. O otimismo entre os líderes de médias empresas no país caiu de 74% no último trimestre de 2024 para 61% agora, no início do ano. A retração de 13 pontos percentuais não é apenas uma oscilação de humor: ela representa um reposicionamento consciente diante de um cenário mais desafiador — com juros elevados, inflação resistente, instabilidade regulatória e incertezas geopolíticas.
Segundo Daniel Maranhão, CEO da Grant Thornton Brasil, o movimento revela um empresariado mais atento aos riscos e menos disposto a assumir apostas ousadas. “Há uma prudência estratégica em curso. As empresas não estão paralisadas, mas estão recalculando a rota. O ambiente externo continua volátil, e o interno ainda não oferece garantias suficientes para acelerar o crescimento com confiança.”
O levantamento é parte do International Business Report (IBR), estudo global que acompanha a percepção de empresários em mais de 30 países. No Brasil, o resultado aponta para uma reorganização silenciosa, mas significativa: redução nos investimentos, desaceleração nas contratações e cortes em áreas antes consideradas estratégicas, como tecnologia, ESG e qualificação profissional.
A lógica da precaução
O recuo no otimismo não é uniforme, mas revela padrões. Setores com maior demanda por capital — como construção civil e indústria de transformação — são os mais impactados por um ambiente com crédito caro e escasso. Já áreas com estruturas mais leves e dinâmicas, como tecnologia, saúde e serviços digitais, têm conseguido manter algum nível de tração. “Setores com cadeias produtivas mais simples e menor dependência de insumos importados se adaptam mais rapidamente”, observa Maranhão.
Mas mesmo os segmentos mais resilientes estão revendo suas prioridades. Os investimentos em tecnologia, por exemplo, caíram de 90% para 85%; em iniciativas ESG, de 80% para 70%; e em capacitação de pessoal, de 83% para 74%. “O risco é o da miopia de curto prazo. Cortar investimentos estruturais pode gerar um alívio momentâneo, mas compromete a competitividade futura”, alerta o executivo.
Esse comportamento tem reflexos no mercado de trabalho. A proporção de empresas com planos de contratar caiu de 77% para 74%, enquanto o percentual de companhias que planejam aumentos salariais recuou de 90% para 84%. Os reajustes reais — aqueles acima da inflação — também diminuíram, de 21% para 17%.
Outro ponto sensível é a governança corporativa. Em um cenário de incerteza, empresas com estruturas decisórias mais claras e práticas robustas de compliance e controle de riscos tendem a navegar com mais estabilidade. “A governança passa a ser diferencial competitivo. Ainda é vista como obrigação legal por muitos, mas, em momentos de turbulência, ela se mostra essencial para a sobrevivência e para manter a confiança de investidores e parceiros”, reforça Maranhão.
Entre a pausa e a reinvenção
As médias empresas brasileiras — responsáveis por cerca de 30% do PIB e pela maior parte dos empregos formais — são um termômetro sensível da economia. Sua capilaridade, adaptabilidade e presença nos mais diversos setores lhes conferem um protagonismo silencioso. Quando esse grupo reduz a velocidade, o sinal é claro: o ambiente deixou de ser propício para crescer.
Por outro lado, essas mesmas empresas têm a capacidade de retomar a marcha rapidamente quando as condições melhoram. “Elas combinam a agilidade das pequenas com a estrutura das grandes. Dadas as sinalizações corretas, podem voltar a investir, inovar e crescer com velocidade surpreendente”, diz Maranhão.
Para isso, no entanto, será necessário mais do que boa vontade. O empresariado espera avanços concretos em temas estruturais, como reforma tributária, estabilidade regulatória e redução sustentada da taxa de juros. Medidas de estímulo à qualificação de profissionais, transformação digital e desburocratização também são vistas como fundamentais para destravar o potencial de crescimento.
Enquanto isso, cabe às lideranças empresariais o papel de manter o foco no essencial. “Não é hora de cortar o que sustenta a empresa no longo prazo. Pessoas qualificadas, processos eficientes e uma cultura de inovação são ativos estratégicos. Mesmo em tempos difíceis, eles devem ser preservados”, conclui o CEO.
O momento, embora cauteloso, não é de pessimismo. É de reposicionamento. E, como toda travessia, exige visão de futuro, coragem para decidir e clareza sobre onde se quer chegar. O Brasil tem histórico, mercado interno e capacidade para reagir — e as médias empresas, mais uma vez, serão decisivas nesse caminho.