O cooperativismo de crédito vive um novo ciclo de sofisticação no Brasil — e a Unicred é um dos exemplos mais visíveis dessa transformação. Criada em 2021, a Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários (DTVM) do sistema soma R$ 2 bilhões sob gestão e atende 10 mil cooperados.
O braço financeiro da Unicred recebeu autorização do Banco Central no fim de 2024, após dois anos de tratativas com a autoridade monetária. O lançamento oficial da plataforma de investimentos aberta ocorreu em fevereiro de 2025, com o nome ZIIN.
“A criação da DTVM foi uma decisão estruturante. Percebemos que poderíamos atender melhor os cooperados se centralizássemos a gestão, mantendo nossa essência, mas com mais eficiência e autonomia para criar produtos sob medida”, afirmou Patrícia Palomo, diretora executiva da ZIIN investimentos.
Mesmo antes da autorização do BC, a DTVM já operava com Fundos de Investimento e planos de previdência (VGBL). Hoje, oferece produtos de Renda Variável, como ações, e ativos de Renda Fixa.
Neste momento de juros elevados e cenário macroeconômico desafiador, os produtos de renda fixa, como os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) e do Agronegócio (CRA), têm se destacado entre os cooperados por oferecerem isenção fiscal e exposição a ativos reais da economia.
Ainda assim, um dos principais desafios da DTVM é ampliar sua base de clientes. Hoje, apenas 3% dos cooperados investem via a plataforma, embora 35% já tenham aplicações em produtos de funding da própria cooperativa. “A gente tem um oceano para buscar dentro de casa”, entende Palomo. “Esses investidores de produtos da cooperativa, de funding, é o primeiro target da ZIIN, obviamente cada com seu perfil de investimento. A gente vem trabalhando com as cooperativas para converter esse número.”
A captação é feita dentro das próprias cooperativas. “Todo o relacionamento com o cooperado passa pelo gerente da agência, pelo assessor de investimentos. É uma estrutura pensada para garantir atendimento especializado e próximo”, explica.
O Sistema Unicred é composto por 25 cooperativas singulares, com 362 agências distribuídas pelo país. Em números consolidados, soma R$ 31,8 bilhões em ativos e R$ 16,6 bilhões em crédito concedido, atendendo os mais de 330 mil cooperados.
Para Palomo, o modelo é o que diferencia a Unicred no mercado. “Não queremos replicar o modelo dos grandes bancos. Queremos ser competitivos, mas com a proximidade e a confiança do cooperativismo”, afirma.
Nas cooperativas, os consultores não são remunerados por indicar produtos. Isso permite que a operação seja mais justa para o cliente. Além disso, os lucros são repartidos entre os cooperados, mas os prejuízos também. “É uma relação de ganha-ganha”, afirmou Palomo.
Uma das aliadas da operação tem sido a parceria com o BTG Pactual, que atua como custodiante e administrador de parte dos fundos geridos pela DTVM. “O suporte técnico e operacional do BTG nos trouxe ainda mais segurança e escalabilidade para continuar expandindo”, afirma.