Nascida em Belo Horizonte, a Aleve LegalTech Ventures tem conquistado algo raro no cenário jurídico brasileiro: unir inovação, visão estratégica e resultados financeiros expressivos. Em apenas quatro anos de atuação, a holding já soma um valuation consolidado de R$ 200 milhões — muito antes do prazo previsto. Até o fim de 2025, a meta é reunir 20 startups sob sua estrutura, todas voltadas a resolver gargalos históricos do setor jurídico. À frente da operação está Priscila Spadinger, advogada especializada em M&A, investidora-anjo e fundadora da holding. “Começamos nosso quarto ano alcançando um marco projetado para entre cinco e nove anos. Estamos acelerando — e os resultados já começam a aparecer”, afirmou ao BRAZIL ECONOMY.
A proposta da Aleve, segundo ela, foge do lugar-comum. Em vez de apenas investir capital, a empresa atua como uma venture builder: desenvolve, estrutura e opera startups desde a concepção, conectando-as com tecnologias de ponta, estratégias de M&A, compliance e investidores. O modelo favorece a governança, amplia o controle operacional e garante previsibilidade aos investidores.
O portfólio inclui 13 startups, muitas delas posicionadas em nichos de alta complexidade — como automação jurídica, inteligência artificial preditiva, blockchain e gestão documental em grande escala. Entre os destaques estão a Cria.AI, especializada na automação de petições com IA; a Dynadok, que oferece soluções robustas para gestão de documentos; e a Juridoc, voltada à organização do fluxo contratual em ambientes jurídicos desafiadores.
E a estratégia, ao que tudo indica, vem dando certo. Segundo o Global Startup Ecosystem Report 2023, empresas criadas via venture building são de três a cinco vezes mais eficientes do que aquelas fomentadas por VCs tradicionais. A chance de atingir o tão sonhado product-market fit em dois anos sobe em 30% — um diferencial enorme em mercados regulados, como o jurídico.
Mesmo diante da efervescência do ecossistema, o setor ainda é um campo aberto para a inovação. De acordo com a AB2L (Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs), o número de legaltechs no Brasil saltou de 20, em 2017, para mais de 600 em 2022. Apesar disso, cerca de 72% dos advogados brasileiros ainda não utilizavam nenhuma solução tecnológica no exercício da profissão naquele ano.
Para Priscila, essa lacuna representa uma oportunidade estratégica: “A inteligência artificial e o acesso facilitado à tecnologia estão quebrando resistências históricas. E a nossa tese tem se confirmado: o crescimento das startups cocriadas pela Aleve mostra que o setor jurídico está, sim, pronto para inovar.”
Ela destaca ainda a estrutura única do Judiciário brasileiro como uma vantagem competitiva. “Aqui, um advogado pode consultar qualquer tribunal do país com um único login. Nos Estados Unidos, por exemplo, é preciso um registro diferente para cada Estado. Essa integração torna o Brasil um ambiente fértil para a inovação — e extremamente atrativo para fundos internacionais.”
Mais mulheres no comando: uma pauta urgente e estratégica
Se por um lado os números impressionam, por outro a CEO da Aleve aproveita os holofotes para chamar atenção a um problema estrutural: o apagamento feminino no universo das legaltechs. “A liderança nesse setor ainda é predominantemente masculina, branca e elitizada. Precisamos mudar essa narrativa”, dispara.
Para ela, não se trata apenas de equidade — mas de inovação. “A diversidade é o combustível da criatividade. Se queremos soluções tecnológicas que atendam à complexidade do mundo, precisamos de equipes diversas construindo essas soluções.”
Dentro da própria Aleve, Priscila trabalha para fomentar uma governança plural, que reúna conselheiros, investidores e líderes com experiências e visões complementares. “Nosso sucesso não vem de uma só pessoa. É fruto de uma engrenagem bem desenhada para gerar impacto real. A Aleve não é uma aposta — é uma transformação em curso.”
Com metas ousadas, engajamento crescente do mercado e um modelo que une impacto, tecnologia e propósito, a Aleve LegalTech Ventures mostra que o futuro do Direito passa, sim, pelo digital. E para quem acompanha de perto essa jornada, a sensação é clara: essa revolução está apenas começando.