Private Equity cresce em 2024, mas liquidez financeira volta aos níveis da crise de 2009

Depois de dois anos de declínio, investimento privado em aquisições cresce 37% e atinge US$ 602 bilhões, número que seria excelente, não fossem os riscos trazidos pela economia global em 2025  

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Imagens: Frepik e Divulgação

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Investidores têm apresentado um olhar mais global, com especial atenção ao setor de tecnologia

As incertezas globais trazidas na esteira da pandemia de Covid-19  que abalaram os negócios firmados via private equity parecem começar a arrefecer. Segundo a nova edição do Global Private Equity Report, da Bain & Company, o valor em aquisições subiu 37%, totalizando US$ 602 bilhões, enquanto as saídas cresceram 34%, atingindo US$ 468 bilhões, deixando para trás dois anos consecutivos de retração. Apesar dos resultados promissores, o dilema da liquidez nestes negócios tem tirado o sono de investidores. 

Embora o Ativos sob gestão (AUM)  de aquisições globais tenha triplicado na última década, os retornos de investimentos não tem acompanhado o desempenho do setor e, a título de comparação, as distribuições como uma porcentagem do Net Asset Value (NAV) caíram de uma média de 29% de 2014 a 2017 para 11% hoje, o que tem deixado investidores mais seletivos do que nunca. 

“O futuro do capital privado, de certa forma, nunca foi tão brilhante. Mas garantir um lugar entre os melhores desempenhos que atraem capital está ficando cada vez mais difícil”, assim define o cenário Hugh MacArthur, presidente da divisão global de private equity da Bain. De acordo com ele,  apesar da melhora no ambiente de negócios ter começado no segundo trimestre de 2024, a continuidade da retomada este ano ainda depende de fatores externos. “A indústria certamente está ansiosa para fechar negócios, mas a desaceleração precoce do ano na atividade de fusões e aquisições globalmente sugere que a temida palavra U [ incerteza ] continua a manter os mercados nervosos”, disse.  Com a inflação e as taxas de juros em jogo, os investidores estão buscando clareza em meio a sinais de vai e vem sobre tarifas e outras questões macro.

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Hugh MacArthur, presidente da divisão global de private equity da Bain

E esse movimento se espelha em operações em todo o mundo, inclusive no Brasil. Para  Gustavo Camargo, sócio da Bain e líder da prática de Private Equity, ainda que o crescimento reflita uma retomada gradual da confiança no mercado, ainda há desafios. Um deles, inclusive, é a captação dos recursos, que caiu ano passado.  “A competição por capital se mostra cada vez mais acirrada, com investidores mais seletivos, priorizando fundos com histórico consistente e estratégias de valor bem diferenciadas”, disse. 

Segundo o relatório, a  captação de recursos em classes de ativos privados caiu pelo terceiro ano consecutivo, encerrando 2024 em US$ 1,1 trilhão, queda de 24% ano a ano e 40% abaixo do pico histórico de US$ 1,8 trilhão em 2021. O número de fundos fechados caiu 28% para 3.000, o que é cerca de metade do ritmo anual que a indústria mantinha antes da pandemia de Covid-19.

Apenas duas classes de ativos escaparam incólumes da queda generalizada. A captação de recursos de infraestrutura ficou estável em US$ 89 bilhões, embora ainda 31% abaixo da média de cinco anos. Os empréstimos diretos, por sua vez, foram os vencedores do ano, com um aumento de 3% para US$ 123 bilhões, o que representa um aumento de 6% em relação à média de cinco anos.

Para acompanhar as mudanças de paradigmas trazidas no novo momento da economia global, Camargo afirma que serão necessárias também uma recalibragem das expectativas de investidores e empresários.  “O aumento dos custos para gerar retornos superiores ao mercado, a pressão sobre as taxas de administração e a competição crescente por bons negócios são fatores que demandam uma evolução das estratégias de criação de valor”. Ele alerta ainda que os fundos devem implementar modelos diferenciados e de longo prazo, aliados a uma clara definição de ambições. “Com isso, será possível ampliar as chances de sucesso nos próximos anos”, disse.

Em relação aos mercados de fusões e aquisições, o relatório também observa que, embora as transações dentro do setor estejam em crescimento, a concorrência por bons ativos se intensificou. Segundo o relatório, para os fundos de private equity se destacarem, será necessário estabelecer estratégias claras, com um plano sólido de criação de valor desde a due diligence até a execução pós-aquisição.

Na análise temporal, o desempenho dos carve-outs corporativos, informa o relatório, costumavam gerar um múltiplo médio de 3 vezes o capital investido. O valor, no entanto, caiu para 1,5 vez  nos últimos anos. “No entanto, carve-outs de alto nível ainda têm gerado bons retornos, com um múltiplo médio de capital investido de 2,5 vezes”, detalha o informe global. 

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Gustavo Camargo, sócio da Bain e líder da prática de Private Equity

A dica de Camargo para investidores e empresários é reforçar uma abordagem estratégica desde o início para fazer o melhor negócio. “Os investidores devem garantir uma estratégia clara de criação de valor desses negócios desde a due diligence, além de um plano de desmembramento e execução robustos, para mitigar riscos e alcançar retornos sólidos”.

ATIVOS DE OURO

Segundo o relatório global da Bain, o setor de tecnologia segue como o principal destino do private equity, representando 33% dos acordos de aquisição por valor e 26% por volume. A diferença, no entanto, é que o legado da tecnologia tem entrado em outros ramos. Um deles é a saúde como foi o caso da aquisição pela KKR de uma participação de 50% na empresa de análise de saúde Cotiviti da Veritas Capital. À época do negócio, a empresa estava avaliada em US$ 10 bilhões. 

Outro destaque foi o valor das fusões e aquisições de serviços financeiros, que cresceu 92% ano a ano, e o industrial com alta de  81% na mesma base de comparação, ambos se recuperando após um 2023 desafiador. Entre os negócios no ramo de seguros, o destaque foi o  acordo P2P (quando uma empresa de capital aberto compra uma de capital fechado) de US$ 5 bilhões da Sixth Street para a Enstar.

E se os negócios estão mais mornos que antes da pandemia, não é porque há menos dinheiro disponível para compras. O estoque de capital não gasto da indústria de aquisições caiu ligeiramente de US$ 1,3 trilhão para US$ 1,2 trilhão, mas o valor capital envelhecido  (que se manteve por quatro anos ou mais) subiu para 24% do total, de 20% em 2022. “Isso sugere que os  general partners, os GPs, estão lutando para encontrar alvos acessíveis e de primeira linha”, disse MacArthur.

O que a história nos diz é que períodos como esse levam tempo para se desenrolar.  “A queda abrupta nas saídas causada pelo pico pós-pandemia nas taxas de juros está resultando em uma curva J que espelha a crise econômica de 2008”, disse o presidente de private equity da Bain. Segundo ele, isso tem gerado nos investidores a percepção de que o capital depositado nos portfólios atuais levará mais tempo para se pagar, como aconteceu quando a bolha estourou nos Estados Unidos. 

Mas há uma diferença entre o que aconteceu em 2008 e agora: a prevalência de mecanismos de liquidez, como participações minoritárias, secundários (especialmente fundos de continuação), empréstimos NAV e recapitulações de dividendos. Entre os investidores, tal movimento é chamado de  “capital prometido”, ou seja, colocar o próprio dinheiro para trabalhar de outras formas – e esperar menos pelo retorno.  “Isso permite que os GPs gerem dinheiro e mantenham um ativo até que seu retorno possa amadurecer mais completamente”, disse. 

Essas ferramentas financeiras, vale lembrar, não são um substituto para saídas. “Mas em 2024, elas definitivamente ajudaram a melhorar o fluxo de caixa”, e devem continuar ajudando em 2025. “Combinados com o aumento nas saídas e um ritmo mais lento de saques, esses mecanismos de liquidez ajudaram a empurrar o saldo do fluxo de caixa do setor para o ponto de equilíbrio, o que é um sinal”, detalha o relatório do executivo.

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