A melhor maneira de traduzir a atuação da companhia francesa de tecnologia Atos é explicar as soluções que ela oferece para as Olimpíadas desde 1992. A cada edição dos jogos, a companhia organiza processos digitais de credenciamento de funcionários, voluntários e imprensa de todo o mundo, controle de acessos, publicação de resultados em tempo real e a proteção cibernética do aparato tecnológico para evitar ataques de hackers. Orquestra tudo isso com a integração às ferramentas de outras empresas que também prestam serviços para o Comitê Olímpico Internacional (COI). Trata-se de uma integradora e fornecedora de serviços digitais que joga nos bastidores das competições, enquanto os atletas brilham nas pistas, campos, quadras e piscinas.
Essa é uma das frentes de atuação da Atos, que, de tão relevante, foi transformada em uma linha de negócios chamada Sports & Major Events. As Olimpíadas também são utilizadas pela companhia francesa para demonstrar sua capacidade de execução e fortalecer sua marca, pois o planeta está com os olhos voltados para os jogos durante o mês de realização. É uma forma de a empresa, que tem um perfil discreto, ganhar visibilidade.
Outras áreas de atuação relevantes da Atos incluem serviços de infraestrutura, nuvem híbrida, plataformas de negócios digitais, computação avançada e segurança digital.
São nesses pilares que a companhia se destaca na América do Sul e no Brasil, onde a receita tem avançado dois dígitos nos últimos seis anos, período em que praticamente dobrou de tamanho, enquanto a receita global tem apresentado oscilações.
Em 2019, o faturamento do grupo Atos foi de 11,6 bilhões de euros. Em 2023, foi de 10,7 bilhões de euros. E, no ano passado, fechou em 9,6 bilhões de euros.
Nesse período de seis anos, o responsável pela operação da Atos nos países sul-americanos tem sido Nelson Campelo. “A região é um ativo importante para o grupo. É uma operação autossuficiente em todos os aspectos: contratos, entrega, geração de caixa e resultado”, disse o executivo ao Brazil Economy, destacando a operação brasileira como fundamental para a organização – por aqui possui um dos 16 centros de cibersegurança do mundo da corporação. Ele também mencionou a abertura de um escritório na Argentina nas próximas semanas como um avanço da empresa na América do Sul.
Os relatórios com os números locais não são divulgados publicamente, mas, segundo Campelo, a matriz francesa “está bem contente” com os resultados obtidos.
A Atos tem ganhado mercado na região de forma orgânica. Os clientes, geralmente, iniciam a relação com a companhia por meio de contratos pequenos, para serviços de TI mais simples, como service desk (suporte técnico). “Trabalhamos para entregas de qualidade. Isso amplia a percepção dos clientes, que passam a se interessar por outras soluções”, afirmou o CEO regional.
Mas não se deve confundir simples com fácil de executar. A Atos, por exemplo, conduziu um projeto de transição de service desk para atendimento aos mais de 10 mil colaboradores da Leroy Merlin.
A estrutura da empresa francesa em Londrina (PR) foi responsável por oferecer aos usuários da Leroy Merlin um ponto de contato único omnichannel, atendendo todas as necessidades e dúvidas de TI. A Atos implantou toda a infraestrutura do novo service desk da Leroy em 30 dias e, em 12 meses, conseguiu solucionar 14 mil chamados de forma totalmente remota. “Somos uma fonte externa de mão de obra qualificada em TI”, frisou Campelo.
A migração para serviços maiores e mais complexos ocorreu com a maioria dos 500 clientes que a Atos atendia em 2019, quando Campelo assumiu o cargo. Além disso, a empresa agregou outros 80 clientes, geralmente grandes empresas. “Tivemos uma expansão significativa nos nossos negócios.”
Um dos casos de destaque foi a modernização do sistema de informação geográfica (GIS) da Cemig, uma das maiores companhias integradas do setor de energia elétrica do Brasil. Em 15 meses, foram migrados 8 milhões de elementos da plataforma GE Smallworld Electric Office da versão 4.3 para a versão 5.3, sem interrupção dos processos de negócio.
A nova arquitetura tem apoiado a Cemig na escalabilidade dos processos. O sistema GIS é projetado para capturar, integrar e apresentar todos os tipos de dados geográficos, desempenhando um papel fundamental no setor de energia. Ele permite à empresa monitorar sua rede de ativos, como transformadores, postes, cabos e subestações, além de identificar locais para expansão e melhorias na rede de distribuição ou para a realização de manutenção preventiva. Foi um verdadeiro refresh digital para modernizar a Cemig.
Agora, para avançar ainda mais neste e nos próximos anos, a Atos realiza dois movimentos estratégicos na região, com o Brasil à frente. O primeiro é a venda de serviços por modelo de assinatura, em vez do tradicional pagamento por projeto ou serviço. Isso gera receita recorrente para a companhia.
A segunda iniciativa é ampliar o atendimento a empresas de médio porte. “Estamos discutindo a formatação desse modelo, que deve entrar em cena ainda no segundo trimestre deste ano”, explicou Campelo, que tem reforçado a equipe comercial para expandir esse atendimento.
Dessa forma, a Atos amplia suas frentes de atuação nos negócios tecnológicos, mantendo sua relevância no setor.
