O mercado de mineração brasileiro, reconhecido mundialmente, entra em 2025 com muitos desafios. Alguns, velhos conhecidos do setor, como mudanças climáticas e o impacto da crise política. Outros, como a inflação e o esgotamento dos recursos naturais, voltam ao radar do empresário e do investidor do ramo. No relatório Top 10 business risks and opportunities for mining and metals, um estudo global feito pela EY, o recorte do Brasil ainda aponta entre os principais desafios do setor no país a licença para operar, a revolução digital, a força de trabalho, os novos projetos e a entrada de capital. “Em comparação ao estudo do ano passado, a grande novidade foi o aparecimento do esgotamento de recursos entre os principais temas, o que pode ser uma oportunidade, principalmente, para alavancar projetos de mapeamento geológico no Brasil, por exemplo”, explica Afonso Sartorio, líder de Energia e Recursos Naturais da EY.
A questão da falta de capital, inclusive, que se apresentou com mais intensidade este ano, surge mesmo diante de previsões promissoras de investimentos. A estimativa é de investimentos na ordem de R$ 68,4 bilhões no Brasil no período de 2025 a 2029, segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). Pela análise, o resultado é 6,6% maior que no ciclo anterior (2024-2028).
A questão do investimento, no entanto, é sempre parte de um ciclo mais longo do que o verificado entre as indústrias tradicionais. Com isso, quaisquer reflexos de possíveis mudanças, inovações e investimentos também acontecem no longo prazo. Com o aumento da pressão inflacionária e cambial sobre os custos, com uma alta de 27% no dólar em 2024 em relação ao ano anterior, a busca por iniciativas de aumento de produtividade já é uma realidade também para a mineração. “A cada tonelada de minério retirada da terra, a próxima tonelada extraída será mais cara, mais funda e com a necessidade de mais processamento”, conta o executivo. Além disso, as operações atuais enfrentam uma redução dos teores de minério nas minas ativas, o que consequentemente aumenta o custo.
Segundo o especialista, para mitigar os impactos do acesso limitado a capital, o setor vem passando por uma transformação nos modelos de negócios, com maior ênfase em M&As, parcerias entre companhias, joint ventures, verticalizações, aquisições de projetos e mudanças no portfólio. “O mercado está se adaptando para atender às novas demandas. Dentre os principais movimentos está a compra de ativos em operação para tentar minimizar os custos sem perder produtividade e qualidade na entrega”, afirma Sartorio.
TRANSIÇÃO ENERGÉTICA
No ano em que o Brasil vai sediar a COP, outro tema em voga é o caminho para a descarbonização, especialmente em indústrias mais poluentes, como a extrativista. “Vemos, de fato, um esforço dos países e das empresas para a descarbonização e o desenvolvimento social para as comunidades.” De acordo com ele, os projetos atuais precisam ter menos emissões, atender a diversos requisitos de segurança e manter um diálogo com as comunidades para reduzir os impactos ambientais. “Isso é ótimo para a evolução do setor, mas é importante pontuar que, consequentemente, também acaba fazendo com que os projetos levem mais tempo e/ou tenham custos operacionais maiores.”
Por essas razões, tem havido uma atenção especial dos stakeholders, que estão mais exigentes em relação à transparência, principalmente no que se refere às questões ambientais. “No mercado local, já vemos movimentos de empresas do setor buscando formas mais eficazes de aproveitar os resíduos e rejeitos, usar menos água nos processos minerários, reduzir as emissões e usar combustíveis mais limpos”, disse. No entanto, para sustentar tais novos processos e inovações, as empresas precisam “buscar outras formas de receita e estratégias de negócios, uma vez que esses investimentos pressionam as margens de lucro”, detalha.

E como tudo na economia está interligado, a questão energética, neste momento, atravessa também as tensões políticas. “Os arranjos geopolíticos abrem riscos e oportunidades. Muitos países não querem ficar dependentes de uma única nação, e esses movimentos influenciam diretamente as estratégias de comercialização de um mercado tão globalizado.” Além disso, as barreiras tarifárias e tensões, como as experienciadas por Estados Unidos e China, precisam ser consideradas pelas companhias, influenciando as relações comerciais.
Hoje, o Brasil é um importante produtor de commodities como ferro, metais básicos (cobre, zinco, níquel) e metais preciosos, como o ouro. E também desempenha um papel importante em minerais críticos, que são fundamentais para uma nova economia mais limpa e sustentável. “Isso torna o Brasil um mercado bastante estratégico dentro da geopolítica do setor.”
Para realizar o Top 10 business risks and opportunities for mining and metals, foram ouvidas empresas com mais de US$ 1 bilhão em receita. O público entrevistado consiste em 35% de presidentes, vice-presidentes ou diretores, 17% dos entrevistados em nível de conselho ou C-suite e 48% como líderes de departamentos, unidades de negócios ou grupos de commodities. Ao todo, foram captadas 353 respostas.
MAIS DINHEIRO
Dentro da rota dos investimentos até 2029, o minério de ferro é destaque, respondendo por 28,7% dos recursos. Segundo os dados do Ibram, o planejamento é investir US$ 19,59 bilhões, valor 13,4% superior ao que foi previsto para o intervalo de 2024 a 2028.
O segundo maior volume se refere às projeções de investimentos no segmento socioambiental, que saltaram de US$ 10,67 bilhões para US$ 11,33 bilhões (+6,2%).
Em seguida, estão as estimativas de aportes em logística, que devem somar US$ 10,9 bilhões entre 2025 e 2029, valor 5,2% superior ao previsto anteriormente. Outros destaques apontados pelo levantamento do Ibram para o período 2025-2029 são os aumentos previstos nos investimentos em terras raras (49%) e ouro (39%).